Paulo Paim: ‘Não somos perfeitos. Fizemos muito, vamos trabalhar para fazer muito mais’
O senador Paulo Paim, do PT do Rio Grande do Sul, está em seu terceiro mandato consecutivo e é um dos 21 senadores negros da atual legislatura no Senado Federal
Em maio de 2024 uma enchente sem precedentes arrasou o estado do Rio Grande do Sul. Centenas de pessoas perderam a vida e milhares perderam tudo que tinham. O senador gaúcho Paulo Paim (PT-RS) estava em Brasília quando tudo aconteceu, mas conseguiu pegar o último voo para o estado, onde viu de perto a devastação que as chuvas causadas por mudanças climáticas provocaram na quase totalidade dos 497 municípios do estado. Decidiu retornar à Brasília “para articular recursos e salvar as pessoas” e empenhar esforços.
Até o começo de novembro, sete meses depois da destruição deixada pelas enchentes, detalha Paim, “o presidente Lula enviou em torno de R$ 100 bilhões para o Rio Grande do Sul para atender o nosso povo”. Paulo Paim, depois de quase 40 anos de vivência nos corredores da Câmara Federal e do Senado da República, não perdeu a humanidade, consequência da intimidade com o poder que acaba afetando aqueles que com ele convivem.
Antes de eleger-se ao senado, havia sido deputado federal por quatro mandatos. Despontou como líder sindical no final da década de 1970 e elegeu-se presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas em dois mandatos consecutivos, primeiro de 1981 a 1984, e em seguida de 1984 a 1985.
O Senador conta nesta entrevista que o convite para atuar no sindicato partiu da ex-presidenta Dilma Rousseff. “Foi a Dilma que me tirou da fábrica para ser sindicalista. Foi ali em uma frente ampla já, com PT e PDT juntos. Eles me tiraram da fábrica no bom sentido, eu virei presidente do sindicato”, lembra.
O caminho para participar da fundação da Central Única dos Trabalhadores foi natural. Paulo Paim foi um dos fundadores da CUT, presidente estadual entre 1982 e 1983, Secretário-Geral da CUT Nacional, entre 1983 e 1984, e Vice-Presidente (1984-1986).
Em 1987 elegeu-se para o primeiro mandato parlamentar e foi deputado constituinte. Sua longa trajetória é marcada por iniciativas importantes como o Estatuto da Igualdade Racial, da Pessoa Idosa.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 56% dos brasileiros se identificam como negros, abrangendo aqueles que se autodeclaram pretos e pardos. Apesar de representar a maioria da população, esse grupo enfrenta sub-representação nos parlamentos e instituições democráticas do país. Menos de 25% dos assentos no Legislativo são ocupados por pessoas negras.
Senador, para iniciar nossa conversa, gostaria que o senhor apontasse quais os avanços o senhor destaca na ementa apresentada ao Estatuto da Igualdade Racial, de sua autoria, que se lê que a “promoção da igualdade de oportunidades, tratamento justo e respeito para todas as pessoas, independente de sua raça ou etnia”.
Com certeza eu digo que é positivo. Claro que fizemos muito, mas temos que fazer muito mais. Mas se você me permitir, eu gostaria de abrir esta entrevista fazendo uma saudação, mostrando a minha solidariedade diante do falecimento precoce do professor Paulo Vinícius Baptista da Silva, professor da Universidade do Paraná. O professor Paulo trabalhou muito aí na Fundação Perseu Abramo e muito atuante, nos ajudou muito durante esse período de leis que aprovamos aqui no Congresso. Fica aqui o meu abraço à família, aos amigos e à própria Fundação Perseu Abramo. Em seguida, me permita que eu possa então fazer um breve histórico desse momento do 20 de novembro, que é muito importante para todos nós. Nesse breve histórico, eu queria lembrar que uma das lutas que nós travamos aqui, a bancada negra na Constituinte, claro, liderada por Lula, por Olívio Dutra, todo aquele time da Constituinte, que é um time de primeira, nós tínhamos a bancada negra, que era eu representando o PT, eu e a Bené (Benedita da Silva), Edmilson Valentim e o (Carlos Alberto) Caó. A Bené é sempre brilhante, né? A Bené é uma estrela que serve de farol para todos nós. E desde lá, nós já perseguíamos o 20 de novembro como lei nacional, em homenagem a Zumbi, à Consciência Negra, e nós conseguimos, enfim, junto ao governo Lula. O governo Lula foi fundamental, mas desde a Constituinte, desde lá, há 30 e poucos anos, que nós queríamos ter um feriado nacional, e não só o dia da Consciência Negra. E foi no governo Lula que nós conseguimos, em 2023, aprovar, graças ao movimento, com muita participação de todos nós, dos ministérios, do governo Lula, enfim, nós aprovamos o dia da Consciência Negra, Zumbi dos Palmares, feriado nacional. A exemplo como tem nos Estados Unidos, em relação ao Martin Luther King. Então, pela primeira vez no Brasil, graças a nós todos aqui no Congresso, que trabalhamos juntos, mas eu elogio o presidente Lula, que nos apoiou e recomendou a aprovação, e ele sancionou que 20 de novembro agora é feriado. Então, 20 de novembro é feriado nacional. É um dia para discutir, elaborar propostas, trabalharmos e combater todo tipo de preconceito. Quando eu apresentei o projeto lá atrás, a Bené também apresentou, depois o Randolfe (Rodrigues) apresentou, depois eu fui o relator do projeto no Senado, a Reginete Bispo foi a relatora do projeto na Câmara, e o presidente Lula sancionou, e foi garantido que esse dia é um dia de uma ampla reflexão no Brasil. É feriado? Claro que é feriado. Mas para discutir e combater todas as formas de preconceito. Zumbi é referência! No dia da Consciência Negra, o objetivo é esse. Então, eu queria muito falar da importância desse projeto aprovado por todos nós aqui, com o apoio do presidente Lula, e claro, de todo o time do presidente.
E queria também lembrar do Abdias Nascimento. O Abdias foi um guerreiro, esteve sempre conosco. Eu me lembro que eu fui representar o nosso governo em uma homenagem ao Abdias no Itamaraty, e eu fiz um poema, “Abdias, o homem além do seu tempo”. E ele estava vivo ainda na cadeira de rodas. Ele nos cumprimentou e agradeceu a todos nós. Queria também lembrar que o dia da Consciência Negra, ele inicia no Rio Grande do Sul, com uma iniciativa do poeta Oliveira Silveira, juntamente com Ilmo da Silva, Vilmar Nunes, José Antônio dos Santos e Luiz Paulo de Assis. Ali nasceu o dia da Consciência Negra, só o dia, mas não era feriado, não. E nós brigamos desde aquela época da Constituinte até agora e conseguimos. Eu diria, fazendo um pequeno balanço agora, que eu tenho muito orgulho de algumas leis que aprovamos nos governos Lula, Dilma, ou seja, no governo liderado pelo presidente Lula, principalmente, como o estatuto, um projeto de minha autoria. Sabe que o Estatuto surgiu de uma viagem que essa bancada negra realizou à África? Eu fui indicado junto com a Bené, pelo PT, para ir à África do Sul exigir a libertação de Nelson Mandela. E, Winnie Mandela me entregou em mãos a Carta da Liberdade do povo sul-africano. Aí, voltamos para o Brasil e, com muita conversa, muito diálogo, conseguimos elaborar e aprovar o projeto do estatuto.
O Estatuto da Igualdade Racial, a nossa bússola orientadora para as políticas de combate ao racismo e ao preconceito. Eu me lembro que havia ainda uma divergência no movimento negro, mas nunca me esqueço das palavras do presidente Lula no ato de promulgação, da sanção da lei do Estatuto. Ele disse: “olha, eu sei que há alguma divergência no movimento. Eu vou sancionar, porque se eu não sancionar agora, vai passar mais de 100 anos e vocês estarão lamentando não ter aprovado o Estatuto”. E ele tinha toda razão. Calcule, nós aprovamos no Congresso, conservador que nós temos agora, o Estatuto, que é uma peça avançadíssima em um país como o nosso, onde o preconceito é muito forte. E, em seguida, eu poderia dizer também, por que não, o Estatuto da Pessoa Idosa, foi fundamental. E sabemos que os mais pobres aqui mais sofrem, e os mais pobres nesse país são os negros. Tem tudo a ver também com essa luta, e foi aprovado no primeiro governo Lula, mais um projeto de nossa autoria que é lei. Gostaria também de falar rapidamente, porque eu acho que é muito importante, da política de cotas. Foi exatamente nos governos Lula e Dilma que nós conseguimos aprovar as políticas de cotas. Eu fui autor, fui relator, da revisão da lei que aprovamos agora, passados 10 anos, veja a importância que é a política de educação para a formação do povo pobre, que alguns acham que é só para negros. Não, é para negros e negras, sim, mas também para os mais vulneráveis, para os mais pobres. Os mais pobres estão contemplados na lei. Vencidos 10 anos, nós trabalhamos muito aqui. O projeto foi apresentado na Câmara, de autoria da deputada Maria do Rosário, a deputada Dandara foi a relatora, e no Senado eu fui relator. E aprovamos, então, a política de cotas, e foi um grande avanço. Poderia falar também das cotas no serviço público, que nós aprovamos. O projeto foi reapresentamos em parceria, claro, sempre com o nosso governo, que não tem sentido apresentar um projeto como esse, que não tem a contribuição do Ministério da Igualdade Racial, do Ministério dos Direitos Humanos, do Ministério da Educação, enfim, o Ministério das Mulheres, o próprio Ministério do Trabalho também ajudou, enfim, conseguimos aprovar as cotas nas universidades, está garantido, ampliamos agora, e depois apresentamos as cotas no serviço público e aprovamos aqui no Senado. Na Câmara, está um pouco enrolado, mas, felizmente, o nosso ministro Flávio Dino disse, um ministro do povo brasileiro, disse que enquanto não for aprovado, pelo menos vai ficar em vigor a lei que já existe, que foi sancionada pelo governo Lula e Dilma. A lei da cultura afro-brasileira e indígena, para que se conte na sala de aula a verdadeira história dos negros, dos índios, dos imigrantes, dos refugiados, aqueles que vieram de outros países e ajudaram na formação do povo brasileiro. Então, ninguém quer negar nada, nós queremos que conte a verdadeira história, por exemplo, muitos negros e negras foram sequestrados na época, na África, né? E vieram para o Brasil e sofreram tudo aquilo que a gente sabe que sofreram. Infelizmente, esse preconceito foi persistindo, embora os negros resistindo, ele foi persistindo por décadas e décadas, e agora, com as leis, a 10.639/2003 e a 11.645/2008, agora nós temos um instrumento para que se conte a verdadeira história do povo brasileiro, não só na ótica, digamos, dos europeus, mas das mais variadas etnias e raças que vieram para cá, mas que conte também a verdadeira história do povo negro. Olha, nós avançamos muito, eu diria, mas temos que avançar muito mais, para o pronto atendimento, construindo mais UPA, mais unidades básicas de saúde, nas periferias, principalmente, eu sei que é uma preocupação do governo do presidente Lula, mas eu dou esse destaque porque alguém já disse quem é pobre nesse país? Principalmente negros e negras. Onde eles moram? Na periferia, nas favelas. Então, muito mais ali, nós todos estamos trabalhando aqui no Congresso, em parceria, com o Ministério da Saúde, com o Ministério das Mulheres, dos Direitos Humanos, sob orientação do presidente Lula, para avançar também nessa área. Promovi uma Audiência Pública na Comissão de Direitos Humanos com a ministra Cida Gonçalves, Ministra das Mulheres, sobre o programa Feminicídio Zero. Ela está liderando esse programa e fazendo um belo trabalho para que possamos alcançar esta meta, de zerar o feminicídio. Durante a audiência, ela dizia, que nós criamos uma lei importante, homem e mulher, negro ou branco, na mesma função, com o mesmo salário, mas diz ela que, infelizmente, a lei muito boa, construída com todos nós, mas, infelizmente, não está sendo aplicada. A diferença salarial entre brancos e negros ainda é muito grande. Uma diferença que pode chegar, em alguns casos, a 62% em relação às mulheres brancas e negras. E de homens, chega até 80%. Então, nós temos que trabalhar muito nesse sentido. Quanto à segurança, nós aprovamos um belo projeto, por unanimidade, aqui no Senado, que é aquele que trata da abordagem policial. Aprovamos por unanimidade no Senado, infelizmente, a Câmara não aprovou até hoje. A Reginete Bispo que agora é deputada e foi minha suplente, que fez a relatoria, ainda estamos trabalhando e o governo está empenhado nisso. Eu acho também importante esse momento da PEC da Segurança Pública, que o presidente Lula está mandando para o Congresso. Achamos que essa PEC da Segurança Pública, construída com diálogo, como ele está fazendo, com todos os setores da sociedade, inclusive com os governadores, vai ser um passo muito importante para diminuir a violência no Brasil. Enfim, tem tanta coisa para falar, que eu falaria aqui dois dias seguidos. Foi na época dos governos Lula e Dilma, que nós aprovamos o maior número de leis de combate ao racismo e ao preconceito. Mas a simbologia de toda a minha história no parlamento é o dia 20 de novembro.
O senhor é um dos parlamentares mais antigos em atividade no Congresso, se não for o único negro em atividade durante tantos anos. Gostaria de ouvir a sua análise sobre esses 40 anos de Brasília, ainda mais que neste ano, o Senado está completando 200 anos, e apenas 26% dos 81 senadores são negros.
Você tem razão, é uma pergunta que tem toda procedência. De fato, nesses meus quase 40 anos, ainda faltam dois… São quase 40 anos de Congresso, foram quatro como deputado federal e três como senador. Sempre no mesmo partido, viu? Sempre no PT. Eu nunca troquei de partido. Me filiei ao PT, estou no PT e vou morrer no PT, porque tenho convicção, claro, nós não somos perfeitos, mas fico sempre naquela frase, fizemos muito, vamos trabalhar para fazer muito mais. E nesse sentido, eu posso te dizer que nós avançamos muito, fizemos muita coisa, principalmente depois que o presidente Lula assumiu a presidência. Nós temos projetos importantíssimos, que, por exemplo, só para dar como exemplo, mas tem muita simbologia, foi no governo Lula que nós incluimos como heroína da pátria a Margarida Alves. Um projeto da deputada Maria do Rosário, do qual eu fui relator. Foram muitos os avanços como eu já falamos, mas avançamos muito na questão do salário mínimo, e permita que eu diga que quando nós chegamos aqui, eu me lembro que quando eu cheguei em Brasília, eu fui no primeiro momento morar com o Lula e o Olívio. Fiquei lá por uns seis meses e cada um foi seguindo o seu caminho, mas ficamos juntos no Congresso, claro, para lutar pela Constituinte. Mas nós chegamos aqui, o salário mínimo não valia US$ 60 dólares. Então, começamos a brigar pelos US$ 100 dólares. Conseguimos US$ 100 dólares e depois, no governo Lula, chegamos a US$ 350 dólares. Então, a luta de ter uma política para o salário mínimo, de inflação mais a variação do PIB, foi fundamental. Eu visitei a maioria dos estados, fizemos debates junto ao movimento sindical, e nós organizamos uma comissão aqui no Congresso, e deu um resultado positivo. Chegamos no salário mínimo de US $ 100 dólares, para US$ 350 dólares, inflação mais PIB. O governo anterior a esse, vem e revoga a lei. E aí o salário mínimo caiu de novo. Assim que Lula assumiu, botou a lei de volta, aí o salário mínimo está tendo aumentos reais todos os anos. Eu acho que é uma proposta muito, muito interessante essa questão. Eu diria ainda que avançamos muito nos programas públicos para o atendimento a toda a população. Mas um programa que eu considero importante é esse agora, que trata do microcrédito, atendendo também as mulheres, os quilombolas, os negros, para que eles possam também ser empreendedores. Enfim, fizemos muito, temos muito por fazer, e vamos fazer muito mais. Além das entregas, temos o nosso papel de lá na ponta, ter a devida fiscalização para evitar o desvio.
Como está sendo o processo de recuperação do Rio Grande do Sul?
Veja, no caso do Rio Grande do Sul, o presidente Lula enviou em torno de R$ 100 bilhões para atender o nosso povo. Foram enviados recursos para que se levantassem os diques em Porto Alegre, Canoas, Vale do Itaquari, Vale dos Sinos. Tudo isso, mediante muito estudo e muita discussão. Eu mesmo que moro em Canoas, onde o prefeito é do nosso campo de atuação, existe um trabalho para que os diques sejam levantados até sete metros, os anteriores tinham quatro metros. Em Porto Alegre também estamos trabalhando para que se faça o mesmo, porque a manutenção não foi adequada no período e, por isso, em Porto Alegre as comportas romperam, causando aquelas enchentes enormes, com falhas no maquinário e nas bombas. O aeroporto, que foi reinaugurado no dia 21 de outubro com a presença do ministro Silvio Costa Filho, foi com o apoio do governo Lula em parceria, claro, com os empresários, o governo do Estado e a sociedade civil. O aeroporto voltou a funcionar com todos os voos nacionais, e em seguida teremos os voos internacionais, porque o aeroporto para nós é fundamental, é a porta de entrada do Rio Grande, e o estado vive muito do turismo, seja no frio, seja no verão, seja nas praias, seja na Serra Gaúcha, lugar de onde venho. Eu presido aqui no Senado, indicado pelo PT, a comissão de oito senadores que acompanhou todo o processo no Rio Grande do Sul, o Paulo Pimenta foi indicado pelo presidente Lula para ficar lá permanentemente, e ficou, fez um bom trabalho. Todos juntos, cada um na sua alçada, trabalhando para recuperar o Rio Grande, eu diria para você que no mínimo tínhamos três ministros por semana lá em Porto Alegre ajudando, foi uma luta com muita resiliência, com muito trabalho, em parceria com os municípios, com o governo do Estado. O presidente Lula se apresentou como o líder de uma frente ampla, com que objetivo? Reconstruir o Rio Grande, e para isso não devia faltar dinheiro, e continua assim, porque não é só pegar o dinheiro e atirar lá, é encaminhar, ver os projetos, fiscalizar e somar para que seja construído o mais rápido possível, como o que foi feito com o aeroporto.
Acabamos de sair do processo de eleições municipais. Quais os impactos que o senhor identifica no resultado desta eleição para a disputa ao Senado Federal em 2026?
Existe aí uma grande preocupação, eu não posso negar, porque percebo que os setores, digamos, mais à direita, estão trabalhando para que eles possam ter maioria no Senado a partir de 2026. Neste sentido, eles buscam eleger senadores e senadoras em todos os estados, e nós, atualmente, temos que estar antenados, por isso, essa política de aliança, eu sempre defendi, e defendo na linha que o presidente adota, uma linha de frente ampla, uma frente ampla que realmente tenha compromisso com o Brasil, compromisso com o nosso povo, compromisso com o social, compromisso com a qualidade de vida, compromisso com a educação, com a segurança, com o trabalho, enfim, que a gente consiga realmente fazer um Brasil para todos. Por isso, a política de aliança vai ter que acontecer, não adianta querer apresentar a proposta desse ou aquele candidato para marcar a posição, nós já passamos isso há muito tempo, por isso, estamos governando o país mais uma vez. Houve a interrupção, uma era de um presidente que eu não gostaria de citar, que deram um golpe na Dilma, senão não teria acontecido nem a entrada desse outro. Eu acredito que nesse momento, mais do que nunca, nós temos que ter cabeça fria, tranquilidade e olhar como frente ampla, para a gente poder reeleger o presidente Lula, ou quem, que por ventura ele venha indicar, mas eu entendo que é a reeleição dele, do presidente Lula, e poder avançar também, em matéria de senadores e governadores do Estado. Não é um momento fácil, por isso você precisa de muita tranquilidade, muita competência e muita coragem para usar essa visão de frente ampla, que eu entendo que poderia ser liderada pelo presidente Lula, somente assim, eu entendo que nós poderíamos ter maioria aqui no Senado, pois se olharmos bem, temos o presidente da República, mas não temos o Congresso. Para não ser pior em 2026, temos que ter essa visão. Eu escrevi um documento, há mais ou menos 14 anos atrás, que falava exatamente de frente ampla, um estudo ao nível de planeta, uma visão global. Não estou inventando que a frente ampla exista em diversos países, e nós aqui, mais do que nunca, temos que ter, o que eu chamo, frente ampla pelo Brasil, vou te mandar esse livrinho que eu escrevi.
O senhor tem se manifestado sobre a questão dos programas sociais não serem tratados como meros gastos públicos, como o senhor reage a esse possível pacote que está sendo discutido no governo?
Minha manifestação foi muito no sentido de contribuir, porque eu sempre digo que, criticar é fácil, o difícil é você contribuir, com ideias e sugestões para que o nosso governo, dê cada vez mais certo, trabalhar para melhorar a qualidade de vida, do nosso povo, da nossa gente, que já está acontecendo.
O senhor vê a possibilidade, de ter esse corte mesmo, de saúde e educação, ou o senhor acha que isso é intriga da oposição?
Eu prefiro acreditar que é intriga da oposição, porque cortar na saúde, na educação, é o coração das políticas sociais. A educação é o segredo do sucesso do nosso povo, então não dá para permitir cortes na educação. E claro que a saúde também não pode ter cortes. Temos um SUS, que é exemplo para o mundo, claro que ele tem que ser aprimorado, e pode ser aprimorado, mas não pode haver recuo. Eu acredito que nós temos que cuidar muito do orçamento. O orçamento como é hoje com essas emendas PIX, que você pode mandar para o estado, e não tem fiscalização. O orçamento tem que ter um olhar para o seu povo. No campo social, não é gasto, é investimento: saúde, educação, trabalho, renda, isso é fundamental… permitir que muitos políticos “usem” o dinheiro do orçamento, para se locupletar ou para fazer negociata com os atravessadores, isso não pode continuar. Eu acho que se a gente der uma olhada com carinho no orçamento não vai precisar mexer em previdência, nem em lei trabalhista, saúde, ou educação, pois esses que são símbolos do nosso próprio partido.
Seria possível avançar na revisão dessas emendas, do orçamento secreto, o senhor vê alguma possibilidade?
Eu acho que nós temos que avançar, temos que ter esse compromisso, deixar claro como é que funciona. O orçamento secreto, só mudou de nome, ele continua entrando agora, via comissões, todo mundo sabe, isso aqui é um problema do congresso. Nós, congressistas, temos responsabilidade de caminhar naquilo que eu chamo de orçamento participativo, coisa que já fizemos no Rio Grande do Sul, fizemos em Pelotas, em Porto Alegre. Eu apresentei um projeto há muito tempo atrás, claro que não caminhou, mas com uma correlação de força melhor, poderia caminhar, não aquele, mas um projeto que venha do governo, de que o orçamento, tenha primeiro um debate nos estados, um debate regional. Vamos pegar o exemplo do Rio Grande do Sul, fazer debates nas regiões do Rio Grande, remeter para a Assembleia Legislativa, e a Assembleia remete para cá, esse é o pedido do Rio Grande. Vou dar um exemplo, eu particularmente, mando emendas para os 497 municípios do Rio Grande. Agora, com a enchente, claro que eu dei prioridade para aqueles que foram mais afetados, os que estavam em estado de emergência de calamidade pública. Eu já faço mais ou menos isso, e dá certo. Eu digo que o presidente Lula, quando ele tem que dar, ele dá. Se ele tem que encaminhar parte do orçamento que compete a ele, ele não olha qual é o estado, quem está governando, se é do PSDB, se é do PT, se é do PDT, ele atende, dentro do possível, a todos os estados. O Congresso tem que fazer a mesma coisa. Essas emendas que viraram um antro, eu vou dizer, de confusão, para não usar a palavra que eu queria usar, mas não vou. É um antro de confusão, em que muita gente acaba ficando milionário, só com o orçamento do Congresso. Enquanto que com um orçamento dirigido, com um crivo vindo dos estados, encaminha para cá, aqui faz o debate, e o orçamento vai para o estado, e não para esse que faz mais lobby, aqui ou acolá, negociando, inclusive, partes do orçamento.
O Senhor é vice-presidente da Comissão Mista Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados e de acordo com a última contagem do Ministério das Relações Exteriores, vivem quase 5 milhões de brasileiros fora do Brasil, dos quais 700 mil estavam cadastrados na eleição de 2022. O senhor acha possível que possa ter alguma iniciativa no sentido de incluir essa população brasileira no processo e ter uma representação efetiva no Congresso Nacional?
Muitos países já adotam esse sistema. Eu sempre digo que a democracia é a alma da liberdade e a alma da justiça; é a alma dos encontros de todos nós, inclusive daqueles que estão no exterior. Eu não veria muito problema de fazer esse debate de nós conseguirmos ter representantes eleitos que estão em delegações, que estão trabalhando, que estão nos representando de uma forma ou de outra no exterior com muita atividade. Poderíamos caminhar nesse sentido e, com isso, ampliar a nossa democracia que fica dentro do aspecto, socialmente, do território nacional, mas também com aqueles que estão lá fora. A possibilidade, para mim, existe.
A gente poderia eleger um senador por exemplo, que representasse a comunidade no exterior…
Você tem razão, o Senado é mais enxuto, são 81 senadores. É mais tranquilo, mais fácil de termos, digamos, uma sintonia com aqueles companheiros que sejam eleitos e um trabalho integrado. Mas acho que é um tema que vai continuar e Oxalá um dia a gente consiga avançar para essa população também.