Painel preparatório da FPA ampliou reflexões sobre ‘novo mundo do trabalho’
Esse é o segundo painel realizado pela Fundação, como “preparação” para o Seminário A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores, marcado para ocorrer nos dias 5 e 6 de dezembro
Redação Focus Brasil, com colaboração de André Merli, da FPA
A centralidade do trabalho na sociedade deu o tom do debate da noite de 12/11, quando a Fundação Perseu Abramo (FPA) realizou o painel “O novo mundo do trabalho”. O evento foi presencial, mas contou também com pelo menos 550 participantes (a distância) pelas plataformas digitais.
Esse é o segundo painel realizado pela Fundação, como “preparação” para o Seminário A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores, marcado para ocorrer nos dias 5 e 6 de dezembro.
Para o debate desta terça (12), foram convidados: Nicolas Souza Santos, motoboy em Juiz de Fora (MG) e membro da Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativos; Roseli Figaro, professora da Escola de Comunicação e Artes (USP), José Dari Krein, professor do Instituto de Economia da Unicamp; e Petilda Serva Vasquez, historiadora e socióloga do Trabalho.
De novo, só de sempre
“Este ‘novo’ mundo do trabalho tem muito de novo, mas tem pouco para o trabalhador”, define Roseli Figaro, que também critica o discurso da IA (Inteligência Artificial) e suas ferramentas. “Não tem nada de ‘nuvem’. Tem, isto sim, muito trabalho humano envolvido, além dos recursos naturais, como a água e o minério que as grandes empresas de tecnologia usam.”
A professora desenhou o modelo das empresas (big techs) como a lógica da teia de aranha: expandem-se no território e atraem para seus aplicativos os comerciantes (restaurantes etc.) e trabalhadores, usando os dados digitais e a gestão “algorítmica”. “Neste sistema, o trabalhador tem submissão total à empresa. A forma de combater é a regulamentação, para garantir direitos dos entregadores e a soberania brasileira”, argumenta Roseli.
Precarização com meta
Segundo Nicolas, dentre os sofrimentos dos motociclistas entregadores (motoboys), um é parecido com o dos de mais trabalhadores: se reclamar, sempre terá algum outro profissional para ocupar a vaga, devido à “sobra” de mão de obra.
No dia a dia, eles se impõem uma meta pessoal: de tempo trabalhado ou de valor recebido. “Se eu não atingir aquilo num dia, por exemplo, a ‘dívida’ acumula. E eu não abuso só do meu corpo, abuso também da moto, que precisa de manutenção.”, conta.
Para Nicolas, todos acabam pagando a conta da falta de direitos dos entregadores, pois, em caso de acidente de trânsito, serão atendidos pelo SUS. “Meu colega caiu e foi hospitalizado. Chamaram de acidente de trânsito, mas ele estava trabalhando, não estava passeando”, argumenta.
Centralidade
Para José Krein, existe um “descontentamento” na sociedade, que está nos locais de trabalho ou que se reflete neles. Ele aponta a Campanha pelo fim da Jornada 6×1 de trabalho como um possível estopim para mostrar uma realidade nova no Brasil.
“Vivemos uma crise, um mal-estar ambiental, na geopolítica e nos valores mundiais. E nós [a esquerda] precisamos recolocar a questão do trabalho como central”, afirma. O professor indica alguns pontos que ajudam a trilhar esse caminho: Criar vagas de qualidade, com atuação do Estado; Dar atenção à juventude que teve formação técnica; Reduzir a jornada de trabalho; Montar colchão de direitos trabalhistas básicos; dentre outros.
Para a professora Petilda, quem pensa sobre o trabalho deve questionar com frequência os trabalhadores, sobre o que pensam do seu “fazer” diário. Isto estimula a reflexão e a criação de consciência desses trabalhadores e das próprias lideranças (sindicais por exemplo).
Ela elogia a intenção de reduzir a jornada de trabalho por meio da PEC 221/2019 (Fim da 6×1) e destaca a relação desta bandeira com as lutas por direitos. “Do século 19 até agora, a reivindicação por jornada menor sempre marcou a lista dos trabalhadores em toda a sua história.”, afirmou.
Propostas
Gleisi Hoffmann destacou que, muitas vezes, na mesma família a realidade é múltipla: com profissionais atuando pela CLT, informais ou trabalhando vinculados a aplicativos. “Temos de debater e apontar propostas e saídas ao povo brasileiro”, declarou.
Propostas e perguntas – mesmo as não respondidas – que foram feitas pelos participantes do evento servirão de base para as discussões programadas para o seminário de Brasília. Em caso de dúvida, visite a página do evento: https://seminario.pt.org.br/
Primeiro painel
A abertura do debate preparatório, ocorrido no dia 5, mostrou a disposição do campo progressista para entender as motivações políticas da população brasileira. Para falar sobre o tema, foram convidados: Renato Janine Ribeiro, Márcia Lopes, Liana Cirne e Lincoln Secco.
O evento serve de aquecimento para o Seminário organizado pela Direção Nacional da legenda que acontece em dezembro, em Brasília.
O presidente da instituição, Paulo Okamotto, iniciou os trabalhos ao dizer que os painéis são resultado de um esforço coletivo do PT para construir iniciativas que atendam às mudanças sociais, políticas e econômicas do país. A mediação foi de Brenno Almeida, vice-presidente da FPA.
A análise feita por convidados e lideranças do partido foi complementada pela participação ativa do público, que ampliou o debate com questões relacionadas ao tema.
O que disseram no 1º painel
“Existe apreensão no Brasil, no planeta e no mundo do trabalho. Precisamos de um esforço coletivo pela igualdade social e combate à pobreza”.
Paulo Okamotto, presidente da FPA
“O Brasil mudou muito desde que o PT nasceu. E nossas disputas, hoje, ocorrem numa realidade nova de organização da sociedade”
Gleisi Hoffmann, presidenta do PT
“É na base que o PT tem de buscar apoio porque a ressonância do passado já não é a mesma. É preciso também formar novas lideranças”
Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência)
“Temos várias tendências dentro do partido, mas o ideal é eleger bandeiras que todos devem seguir, para torná-las bandeiras nacionais. Assim, poderemos dar respostas à sociedade”
Márcia Lopes, ex-ministra do Desenvolvimento Social e combate à fome
“Esta classe de renda média, por exemplo, não está seduzida pelo PT. Mas o PT já tem políticas a favor do tal ‘empreendedor”
Lincoln Secco, professor do Departamento de História da USP.
“Não acredito na possibilidade do Partido aproximar-se das ideias do centro político. Mas, qual é a esquerda que nós somos? Qual é a agenda que temos e como alcançá-la?”
Liana Cirne, vereadora, reeleita, de Recife (PE)
Serviço:
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