G20 Social: saiba mais sobre a 1ª cúpula social do grupo, realizada pelo Brasil
Com atividades organizadas pelos movimentos sociais, o evento é considerado um marco para a participação social no âmbito das principais economias do mundo
Nesta semana, a cidade do Rio de Janeiro está em preparativos para receber a reunião da Cúpula do G20, o grupo que reúne as principais economias do mundo. O evento vai ocorrer nos dias 18 e 19 de novembro com o Brasil na presidência rotativa da edição. Ao assumir a presidência do bloco, em Nova Delhi, na Índia, no ano passado, o presidente Lula anunciou que, no Brasil, o encontro seria marcado pela participação popular, com a realização do G20 Social, o primeiro fórum social da história do grupo.
Assim, entre os dias 14 e 16 de novembro, militantes políticos e representantes de organizações-não governamentais de todo o Brasil e dos 19 países membros, além da União Africana, União Europeia e países convidados, poderão participar das mais de 270 atividades autogestionadas, organizadas por movimentos sociais de variadas frentes de atuação, dentre outras agendas do G20 Social.
“Estamos querendo aproveitar o espaço porque achamos que é nesse ambiente, de relações do Brasil com o mundo, que temas como a guerra, a soberania alimentar, questões sobre o emprego e a Inteligência Artificial, podem ser ser debatidos, é um ambiente propício para construir uma agenda estratégica para o futuro”, explica Milton Rezende, que participa da organização do evento representando a Central Única dos Trabalhadores.
O evento do G20 Social é coordenado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, na figura do ministro Márcio Macêdo. De acordo com Rezende, foi formado um Comitê Organizador que, além de outros ministérios, contou com a participação de entidades como: CUT, MST, Marcha Mundial de Mulheres, Central Única das Favelas e UNEGRO, que discutiram questões de ordem prática como deslocamentos, segurança e alimentação dos participantes, além da construção de uma feira com mais de 150 barracas. As atividades irão ocorrer nos arredores da Praça Mauá, na zona portuária da cidade. São esperadas cerca de 50 mil pessoas.
Como parte da iniciativa, na tentativa de alcançar o máximo de pessoas, foi lançada a plataforma G20 Participativo, que já recebeu milhares de contribuições de cidadãos de diferentes partes do mundo, agora com participação encerrada.
Na opinião de Renato Simões, que responde pela articulação da participação social dentro da presidência da República, o Brasil ampliou o escopo de participação dos Grupos de Engajamento, que participam do fórum desde 2010, para incluir os movimentos sociais nas negociações e que o desafio foi “colocar no centro da mesa questões que muitas vezes querem empurrar para debaixo do tapete”.
Temas e consolidação de documento
Na sexta-feira (15), serão realizadas três grandes plenárias para discutir temas propostos pela atual presidência do G20, o Brasil, como importantes para os debates globais no momento: Combate à fome e às desigualdades; Mudanças Climáticas e Sustentabilidade e Reforma da governança global.
Ao final do evento, na cerimônia de encerramento, será entregue um documento ao presidente Lula, que vai consolidar as sugestões desenvolvidas durante o processo. No sábado (16), haverá a leitura prévia do texto para os participantes.
“A grande fotografia do G20 será o G20 Social no Brasil. Será um dos grandes legados que a presidência do Brasil vai deixar para o fórum. Eu espero que essa fotografia seja a mais plural possível, seja dentro do debate democrático, seja respeitosa com o processo político e que possa contribuir efetivamente para mudar a vida das pessoas para melhor”, comenta Márcio Macêdo, ministro da Secretaria Geral da Presidência da República do Brasil.
“No documento, vamos construir uma convergência em torno dos temas que serão tratados para que lá na frente possa ser incorporada uma estratégia a partir dos assuntos que a sociedade civil global está preocupada”, aponta Rezende, e completa: “acreditamos que os temas que os temas que os 20 maiores países irão tratar vão passar muito longe ou não terão o mesmo grau de preocupação que nós temos nesse momento”.
Apesar da impressão de que o grupo tratará apenas de temas considerados protocolares, foi apresentada pelo Brasil em fevereiro, durante a reunião dos ministros de Finanças e presidentes dos bancos centrais do G20, em São Paulo, uma proposta de taxação de bilionários. A ideia foi mencionada como ambiciosa pelo próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A presidência brasileira no G20 defende o imposto mínimo de 2% sobre a renda dos bilionários do mundo, o que poderia arrecadar entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões anualmente, conforme um dos autores da proposta, o economista francês Gabriel Zucman.
Quem participa
Além dos movimentos populares que compõem a organização do G20 Social, já fazem parte do debate paralelo ao dos líderes dos países os chamados “grupos de engajamento”. Os 13 grupos de engajamento que estão inseridos no G20 Social são: C20 (sociedade civil); T20 (think tanks); Y20 (juventude); W20 (mulheres); L20 (trabalho); U20 (cidades); B20 (business); S20 (ciências); Startup20 (startups); P20 (parlamentos); SAI20 (tribunais de contas); e os mais novos J20 (cortes supremas) e O20 (oceanos).
Fazem parte do grupo os países mais industrializados do mundo: O grupo é composto por Brasil, África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além da União Europeia e União Africana. Na presidência brasileira, foram convidados a participar nesta edição: Angola, Egito, Emirados Árabes, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal e Cingapura.
Na semana passada, foi realizada, em Brasília, a reunião dos representantes dos parlamentos do grupo, com a participação dos representantes legislativos, que elaboraram uma declaração de 12 páginas intitulada “Parlamentos por um mundo justo e um planeta sustentável” apontando, entre outros pontos, para mudanças no modelo da ONU e a busca por financiamento para uma transição energética justa. A Argentina não assinou.
Marcha e shows
Além das atividades autogestionadas, haverá um evento autônomo chamado de “Tribunal Anti-imperialista”, que segundo Rezende é uma forma de “denunciar crimes como o massacre aos palestinos”. Outro ponto que o sindicalista considera bastante importante é uma marcha, puxada pelos movimentos, que deverá tomar as ruas do Rio de Janeiro também com o mesmo objetivo, para chamar a atenção contra a guerra.
Encabeçado pela primeira-dama, Janja, e pelo Ministério da Cultura, o Festival Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será realizado nos dias do G20 Social, no Boulevard Olímpico. E pode contar com a participação do presidente Lula.
O festival é inspirado em concertos internacionais como o Live Aid 1985 e o Free Nelson Mandela Concert 1988, ambos em Londres, na Inglaterra. Entre os artistas confirmados estão Diogo Nogueira, Larissa Luz, Mateus Aleluia, Nova Orquestra, Jovem Dionísio, Rachel Reis, Jota.Pê, Afrocidade, Marcelle Motta, Kleber Lucas, Jaloo, Aguidavi do Jêje.