Trump de volta: dos males o menor. Ou não?
Pedro Henrichs*
O retorno de Donald Trump ao poder, especialmente com maioria na Câmara, no Senado e com aliados na Suprema Corte, traz uma série de impactos profundos e polêmicos em várias frentes. Este cenário favorável, apesar de não garantir a viabilidade de todas as suas promessas, dá força à sua retórica agressiva e nacionalista.
A habilidade de comunicação de Trump se destaca no uso de uma retórica divisora que posiciona adversários como inimigos e imigrantes como criminosos, reforçando um discurso de competição e masculinidade agressiva. Esse tom molda não só a política interna, mas também a postura dos EUA no cenário global.
Na economia, a prometida elevação de impostos sobre importações, inclusive de aliados, é uma questão complexa. Caso a medida avance, deve exercer pressão sobre a inflação e forçar o Federal Reserve a aumentar os juros, fortalecendo o dólar. Isso pode impactar o comércio internacional, especialmente para a China e a União Europeia, que poderiam buscar uma maior cooperação entre si para reduzir a dependência dos EUA.
Outro tema importante é a crise climática. O retorno de Trump coloca em risco compromissos ambientais globais, como o Acordo de Paris. O ex-presidente é conhecido por ser cético quanto às mudanças climáticas e por priorizar políticas pró-combustíveis fósseis, o que deve levar a um retrocesso nas políticas de energia limpa. Este posicionamento pode comprometer os esforços internacionais de combate ao aquecimento global, gerando atritos com países que lideram a agenda ambiental.
Na área de saúde, Trump se comprometeu a rever a legislação sobre o sistema de saúde pública, como o Obamacare, que ele já tentou desmontar em sua primeira administração. Agora, com mais poder, ele pode buscar implementar mudanças ainda mais profundas. Isso gera incertezas para milhões de norte-americanos que dependem desse sistema, enquanto a oposição democrata tende a reagir com propostas alternativas para manter o acesso à saúde pública.
No setor bélico, o novo governo pode adotar uma postura mais isolacionista, transferindo a responsabilidade do conflito na Ucrânia para os países europeus. Paralelamente, a tensão no Oriente Médio pode aumentar com o fortalecimento de alianças com Israel e apoio a países como a Arábia Saudita, acirrando o cenário de conflitos na região.
Outro fator que impulsionou Trump à vitória foi a fraqueza do governo Biden. Seu desgaste, a falta de popularidade e a ausência de uma liderança forte abriram caminho para a ascensão republicana. Kamala Harris, com sua imagem atrelada ao governo atual e sem propostas de renovação, parece ter perdido espaço e força política, o que pode limitar suas aspirações futuras.
No Brasil, a vitória de Trump é celebrada por figuras como Jair Bolsonaro, que enxerga no retorno do republicano uma possível intervenção a seu favor e que possa anular suas condenações. Resta saber se o pragmatismo na política externa brasileira será capaz de equilibrar estas expectativas com a realidade das relações internacionais, mantendo a estabilidade necessária para o país.
Estes temas não só moldam a política interna dos EUA, mas impactam as relações globais, as estratégias econômicas e as coalizões que definirão a próxima década.
Neste dia de incertezas e grandes expectativas, fica a pergunta: Quanto o mundo está pronto para este novo capítulo imprevisível do estilo Trump?
*Gestor Público. CEO da Henrichs Consultoria. Ex-presidente do Fórum de Juventude dos BRICS. Observador eleitoral há 14 anos, 18 países na América, 4 países na Europa, 1 na África, e 3 na Ásia.