Almodóvar chega aos 75 anos com chances de mais um Oscar
Com estreia na língua inglesa, Almodóvar chega aos 75 com chances de mais uma estatueta da academia, com The Room Next Door (O quarto lado, no Brasil)
Aos 75 anos recém completados, o diretor espanhol Pedro Almodóvar, um dos cabeças do movimento cultural mais importantes da Espanha, a Movida Madrileña, acaba de disponibilizar mais uma obra no catálogo almodovariano – o termo, aliás, tornou-se, ele próprio, uma escola de como fazer cinema de autor, característica que tornaram as obras de Almodóvar um verdadeiro gênero.
O termo cinema de autor, em geral, é definido como “expressão que se refere a filmes que refletem a personalidade artística” do seu criador, com encontrado em manuais para roteiristas e diretores iniciantes.
Daí surgem termos subsequentes como obra tarantiniana, para caracterizar os filmes de Quentin Tarantino, ou “obra scorsesiana”, para os de Martin Scorsese, e assim por diante. Sem cair no erro das comparações, tampouco subestimar o trabalho dos dois diretores estadunidenses, nenhum cinema de autor ainda em atividade parece ser páreo para o de Pedro Almodóvar.
Novo filme
Ao lançar The Room Next Door, que será lançado no Brasil como O Quarto ao Lado, ele não só venceu o Urso de Ouro em Veneza, como ampliou a lista de obras sobre as estranhezas de homens e mulheres (mais mulheres do que homens) comuns (ou quase) que aparecem em suas histórias com filmografia repleta de cores vibrantes, trilhas sonoras ultra passionais e desdobramentos que nos tem feito cair o queixo desde o início da década de 80.
Contando com os curtas que Almodóvar já escreveu e dirigiu, são mais de 40 trabalhos realizados, com 25 longas metragens. Na estante, se é que o diretor é de ostentar, dois Oscars, dois Globos de Ouro, quatro Palmas de Ouro, outros quatro Baftas e mais meia dúzia de prêmios Goya, o mais importante da Espanha. O novo filme, a propósito, já é cogitado para a lista do Oscar em 2025 e como favorito.
Cores de Almodóvar
As cores são uma das características mais importantes em sua obra cinematográfica. Sendo o vermelho a mais marcante, como o diretor mesmo assume: “Uso o vermelho de uma maneira bem sensual – não importa a cultura, é sempre uma cor significativa”.
Quem nos explica é Mariana Marques, especialista na área, em artigo para o Instituto de Cinema. “As cores também são características importantes em seus filmes, sendo o vermelho a mais marcante, como o diretor mesmo assume: “Uso o vermelho de uma maneira bem sensual – não importa a cultura, é sempre uma cor significativa”.
Mas ainda assim existe mistura de cores, influência da estética kitsch – presente em suas obras desde o início. Além dessa estética estar expressa nos figurinos e na cenografia, está também nas situações que passam os protagonistas, com melodramas, dramalhões e tragicomédias”, explica.
Almodovarianas
A autora lembra que o “almodovarianismo” já começou como uma escola, influenciada pelo movimento cultural Movida Madrilenha, que surgiu como resposta contracultural na década de 1970 numa Espanha ainda em transição após a ditadura de Francisco Franco.
Almodóvar foi o seu principal expoente desde Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón (1980), Laberinto de pasiones (1982) , as primeiras obras do diretor. A marca registrada do movimento, na verdade, era mais política do que estética: a ideia era mostrar uma Espanha plural, aberta para outras culturas e sem as amarras do politicamente correto.
Dali em diante, ficou fácil identificar um filme dirigido por Pedro Almodóvar, seja por toda essa bem aventurada soberba estética, que é só dele e de mais ninguém, pela presença de atores frequentes (viva Antonio Banderas) ou, por que não, de um pouquinho de Brasil aqui ou ali.
É isso mesmo. Quem garante é o próprio Almodóvar. Em 2019, durante a apresentação do seu filme Dor e Glória no Festival de Cannes, ele declarou que o Brasil o “impressiona visualmente, culturalmente e no modo de vida dos brasileiros”. E completou: “Minha paixão pelo Brasil é algo que vem de outras vidas”. Sua amizade com Caetano Veloso, aliás, já rendeu duas trilhas sonoras para os seus filmes. A escola almodovariana também já sambou.