Coordenador do Setorial Inter-religioso do PT destaca a importância da iniciativa da FPA em formar um grupo de trabalho plural

Cartilha da FPA é destaque na imprensa nacional e internacional
FÉ – Encontro de Lula com evangélicos, no Rio de Janeiro, durante a campanha presidencial em 2022 Foto: Ricardo Stuckert

A ¨Cartilha Evangélica – Diálogo nas Eleições¨ lançada em agosto pela Fundação Perseu Abramo ganhou destaque no jornal El País além da grande repercussão na mídia nacional. No El País, a notícia destacou que “o partido de esquerda mobiliza candidatos protestantes e publica uma cartilha com orientações para dialogar com esses 40 milhões de brasileiro”. O jornal acrescenta que a ação faz parte de “novas estratégias para dialogar” com esses fiéis, “que representam um em cada cinco” brasileiros.

O jornal Folha de S. Paulo explicou que  “o documento elenca recomendações para lidar com os fiéis, como a de não encarar todos eles como fundamentalistas. O termo é associado a uma extrema direita cristã que, no Brasil, aparentou-se ao bolsonarismo”.

Para o coordenador nacional do Setorial Inter-religioso do PT, Gutierrez Gaspar, a iniciativa da cartilha faz parte de um “esforço para dizer para a sociedade que o Partido dos Trabalhadores é um partido também conectado com a luta social, com a luta pela liberdade de culto, a liberdade religiosa, pelo respeito à fé das pessoas”, sem deixar de apresentar que “o Estado precisa ser provedor de benefícios sociais, provedor de paz, provedor das necessidades das pessoas, e o PT é um partido que sempre teve arraigado nisso”.

Gutierrez, vice-presidente da Igreja Batista Nazaré, em Salvador, na Bahia, participou do grupo de trabalho para a elaboração da cartilha e ressalta a importância da iniciativa da FPA em formar um grupo plural para a discussão dos conteúdos. “O grupo foi formado com algumas personalidades que trabalham com isso, que conceitua e estudam essa questão do crescimento religioso no Brasil, as nossas deficiências, que, para mim, têm a ver com o método e não com a prática”

Em sua opinião, a cartilha não é apelativa e não contém excessos.” Lula não vai se batizar no Rio Jordão para se apresentar como evangélico, para dialogar com os evangélicos. Nós não estamos orientando ninguém a forçar a barra com discurso de que é mais de Deus ou menos de Deus”, a cartilha está dizendo que o programa do PT “está em conexão com o que disse Jesus: desde dar de comer a quem tem fome, dar água a quem tem sede, e também a justiça social, nós não podemos também abdicar da justiça social, que é o que a gente quer equilibrar”. 

Dentro da estratégia de ampliar o diálogo com essa camada social, o partido realizou um encontro online que reuniu mais de 2.100 evangélicos. “Nós não queremos transformar o PT numa igreja evangélica, não queremos transformar as igrejas em palanques eleitorais”.

O Núcleo de Evangélicos do PT foi criado em 2015, derivado do Movimento Evangélico Progressista, formado no início dos anos 2000. O setorial acompanha o crescimento vertiginoso da extrema direita no Brasil e sua utilização de fake news. Gutierrez lembra que “o mundo evangélico, tradicionalmente, sempre dialogou conosco. Estamos apostando num trabalho de base, de diálogo, de formação política”. 

A campanha da eleição municipal tem sido marcada por candidatos que usam palavras e termos religiosos, frases como “vamos abençoar tal e tal lugar” em vez de “levaremos políticas públicas para as regiões que mais necessitam da ação do estado”. Até experientes jornalistas não estão conseguindo lidar com este tipo de discurso e, constrangidos, não sabem muito bem como (re)agir.

O trabalho de formação não se estanca na produção da cartilha. “Vamos fazer outros seminários para debater política, a questão da segurança pública e evangélica. A eleição de 2024 é uma antessala para 2026”. O coordenador considera importante continuar dialogando com um Brasil e um mundo em constante transformação.  “A sociedade evolui rapidamente, assim como a igreja evangélica. Nos anos 1970 e 1980, existia um perfil de igreja, e hoje há novas igrejas surgindo com perfis diferentes. Daqui a dez anos, haverá uma nova geração de pessoas com pensamentos distintos. A expectativa é que essas mudanças tragam melhorias e ajudem a superar o clima beligerante que se instaurou no país”, conclui.