A cantada em prosa e verso “autonomia do Banco Central” enfraqueceu a posição do governo eleito e impôs uma camisa de força na política monetária dos dois primeiros anos do governo Lula – mas quando a economia sufocava os mais pobres a Faria Lima dormia tranquila

Mercado aposta contra o Brasil, por Alberto Cantalice
NAS RUAS – Em 2023 e 2024, atos tomaram conta contra o arrocho dos juros altos. Na mira, o BC de Campos Neto, herança de Bolsonaro Foto: Roberto Parizotti/CUT

 “No âmbito da economia política, a pesquisa científica livre encontra não apenas os mesmos inimigos que encontra em outras áreas, como também outros ainda mais terríveis, porque a própria natureza do assunto de que ela trata coloca em cena, contra ela, aquelas paixões que são ao mesmo tempo as mais violentas, as mais vis, e as mais abomináveis de que o coração humano é capaz: as fúrias do interesse pessoal”.¹  

Resolvi abrir esse artigo com essa citação de Karl Marx (Livro II do Capital) para relembrar que, ao passo que deixava trinta milhões de brasileiras e brasileiros passando fome, o desgoverno anterior e seu “Posto Ipiranga” eram aplaudidos na Faria Lima e nos salões atapetados Brasil afora. 

A contração fiscal, que começou em 2014 com Joaquim Levy, ainda no governo Dilma, propagou-se durante o governo Temer, teve seu ápice na gestão Paulo Guedes, do governo Bolsonaro. Cantada em prosa e verso, a “autonomia do Banco Central” enfraqueceu a posição do governo eleito e impôs uma camisa de força na política monetária dos dois primeiros anos do governo Lula.  

A insistência na manutenção de uma taxa de juros nas alturas: a segunda maior do mundo só perdendo para a Rússia, país que enfrenta uma guerra com a Ucrânia. É a fúria do interesse pessoal. 

Omissão do BC

Não satisfeitos, os agentes econômicos projetam um aumento na taxa Selic, ampliando o garrote sobre o crescimento da economia e a geração de empregos. Basta uma simples olhadela na “missão” do BC postada em sua página na internet para perceber que o mesmo não vem cumprindo com ela.

Diz o texto: “Garantir a estabilidade do poder de compra da moeda (inflação), zelar por um sistema financeiro sólido, eficiente e competitivo (mercado de capitais) e fomentar o bem-estar econômico da sociedade (crescimento)”

Ora, ficam claras as omissões da atual diretoria do BC quanto ao não cumprimento de duas da três missões: a defesa da moeda (não interveio na recente especulação com o Real deixando o dólar disparar); a barragem do crescimento: ao invés de fomentar a economia, a comprime dificultando a política monetária. 

Espera-se ansiosamente que o novo presidente do Banco Gabriel Galípolo e os três novos diretores a serem indicados pelo presidente Lula que sem descurar da estabilidade monetária e das perspectivas de inflação, façam uma gestão olhando a economia como um todo e não com olhos voltados para um só setor econômico: o mercado financeiro. 

Cumprir as Leis

Mudando de assunto: a ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes para tirar do ar o X (antigo Twitter) do empresário Norte Americano, Elon Musk, veio em boa hora. É inadmissível que em uma nação independente e soberana empresas transnacionais operem no país ao arrepio das leis. Chega a ser risível o comportamento vira-lata de setores da mídia brasileira, que ao atacar a decisão do ministro, impulsionam a extrema direita dando gás para suas tentativas autoritárias, distópicas e criminosas. 

A ausência de regulação e de cobrança de tributos sobre as big techs no Brasil criaram um cenário de “terra de ninguém” nas redes sociais, transbordando o discurso de ódio e as fakes News comprometendo a democracia e usurpando o Estado Democrático de Direito. 

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