A Banda Oriental e as eleições deste ano no Uruguai, por Pedro Enrichs
Banda Oriental, como era chamado o território que hoje conhecemos como Uruguai, se prepara para as eleições nacionais marcadas para 27 de outubro. Nessa data, os uruguaios elegerão 30 senadores, 99 deputados e o próximo presidente da República
As eleições presidenciais de outubro no Uruguai contam com três principais candidatos disputando um mandato de cinco anos: Álvaro Delgado, Yamandú Orsi e Andrés Ojeda. O Uruguai, pequeno em tamanho, mas grande em tradição, tem se destacado na América do Sul pelos seus avanços sociais e individuais, notadamente durante o governo de José “Pepe” Mujica, que legalizou a maconha e o aborto.
Álvaro Delgado, do Partido Nacional (Blanco), é o candidato que representa a continuidade do governo atual de Luis Lacalle Pou. Veterinário de formação e político experiente, Delgado acumula uma trajetória que começou em Paysandú, onde ganhou a confiança do senador Juan Carlos Raffo. Desde então, sua carreira inclui a eleição ao Senado em 2015 e o cargo de Secretário da Presidência no governo Lacalle.
Do lado da oposição, Yamandú Orsi, candidato da Frente Ampla e membro do Movimento de Participação Popular (MPP) de Mujica, é professor de história. Orsi consolidou sua posição como dirigente ao ser eleito Intendente de Canelones em 2015 e reafirmou sua liderança ao ser reeleito em 2020. Sua candidatura é vista como a continuação da tradição de políticas progressistas no Uruguai.
Andrés Ojeda, do Partido Colorado, representa uma nova geração de políticos. Apesar da rica tradição do Partido Colorado no século XX, a legenda tem encontrado dificuldades para manter seu protagonismo. Ojeda, advogado e figura midiática, busca revitalizar o partido, embora careça de experiência política significativa.
Com um cenário global e regional em constante transformação, as eleições uruguaias assumem importância crucial para o posicionamento do país nos próximos anos. Questões ambientais, sociais, econômicas e de segurança estão no centro dos debates. O Uruguai, com sua forte tradição democrática e de defesa dos direitos humanos, orgulha-se de manter conquistas sociais, mesmo diante das divergências ideológicas e mudanças de governo.
A política externa uruguaia, tradicionalmente multilateral e independente, também será moldada pelo resultado das eleições, especialmente no que diz respeito a acordos comerciais e participação em organismos internacionais.
Segundo as últimas pesquisas, a disputa está acirrada. Yamandú Orsi, da Frente Ampla, lidera com 50% das intenções de voto, enquanto Álvaro Delgado, do Partido Nacional, aparece com 46%. Mantido esse cenário, existe a possibilidade de a eleição ser decidida ainda no primeiro turno, o que indicaria um fim precoce para a tentativa de reinvenção dos Colorados.
A possível vitória de Yamandú Orsi e da Frente Ampla nas próximas eleições representa a continuidade e um aprofundamento das políticas sociais e progressistas que marcaram a história recente do Uruguai. Com uma trajetória consolidada na defesa dos direitos humanos, na promoção da igualdade e no fortalecimento das políticas públicas, a Frente Ampla oferece uma visão de país que valoriza a inclusão social, a sustentabilidade e a participação cidadã.
Sob a liderança de Orsi, a Frente Ampla promete não apenas resgatar as conquistas dos governos anteriores, como as reformas em saúde, educação e direitos civis, mas também enfrentar novos desafios com uma agenda focada em inovação, justiça social e na proteção do meio ambiente. Diante de um contexto global incerto e de uma América Latina em transformação, a Frente Ampla se apresenta como a alternativa que combina experiência, compromisso social e uma visão de futuro para o Uruguai.
Se eleita, a Frente Ampla pode reposicionar o Uruguai como um líder regional em direitos humanos e políticas progressistas, consolidando o país como um exemplo de democracia sólida e inovadora na América do Sul.
Pedro Henrichs é gestor público, CEO da Henrichs Consultoria, secretário executivo Regenera Brasil, ex-presidente do Fórum de Juventude dos BRICS. Observador eleitoral há 14 anos, 18 países na América, 4 países na Europa, 1 na África, e 3 na Ásia.