No período inicial da ditadura, em 1964, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Grande defensor dos humilhados e ofendidos. Profundamente comprometido com os direitos humanos e crítico ferrenho da repressão, foi perseguido tenazmente pelo regime

25 anos sem Dom Helder Câmara
No período inicial da ditadura, em 1964, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Grande defensor dos humilhados e ofendidos. Profundamente comprometido com os direitos humanos e crítico ferrenho da repressão, foi perseguido tenazmente pelo regime
Alberto Cantalice
 Foto: Reprodução CNBB

Neste 27 de agosto de 2024, completa-se 25 anos do falecimento do Cardeal Dom Helder Câmara. Símbolo maior da chamada Teologia da Libertação, o Cardeal interpretou literalmente um dos cânones do cristianismo: a opção preferencial pelos pobres. Nascido em fevereiro de 1909, na Cidade de Fortaleza, faleceu aos 90 anos como Cardeal emérito da Diocese do Recife, em Pernambuco. 

Um dos principais artífices da “Igreja dos Pobres”, o líder católico teve e ainda tem grande influência em variados segmentos do catolicismo. É considerado um dos principais sacerdotes brasileiros no século 20. Desde o seu tempo como padre, esteve envolvido com questões sociais. Tendo na juventude flertado com o reacionarismo da Ação Integralista Brasileira, de Plínio Salgado, logo se desiludiu e abandonou a AIB, dedicando-se integralmente às causas sociais. 

No Rio de Janeiro, onde passou parte de seu período sacerdotal, fundou, em 1956, a Cruzada São Sebastião, um conjunto habitacional popular em um dos bairros mais elitizados do país. Empreendimento que perdura até os dias atuais. 

Ainda na década de 1950 fundou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB. Sendo também membro fundador da Conferência Episcopal da América Latina, a CELAM. Delegado ao Concílio Vaticano II, organizou um manifesto com 40 assinaturas de próceres do clero em que “Juravam viver com simplicidade vidas, abandonando todos os sinais de riqueza, e colocando os mais pobres da sociedade no centro de seu ministério”. 

No período inicial da ditadura, em 1964, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife. Grande defensor dos humilhados e ofendidos. Profundamente comprometido com os direitos humanos e crítico ferrenho da repressão, foi perseguido tenazmente pelo regime. No dia 27/05/1969, o padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, auxiliar de Dom Helder, foi sequestrado, torturado e assassinado na cidade do Recife. O crime bárbaro foi interpretado como uma forma de atingir e amedrontar o Cardeal. Ledo engano.  

“Querem que eu me proteja. Querem que eu não ande só à noite, e que não durma só. Mas quem disse que eu ando só? Andam e dormem comigo o Pai, o Filho e o Espírito Santo”, disse o cardeal na missa de corpo presente do padre Henrique. 

O Cardeal frasista

Que o exemplo de Dom Helder permaneça e frutifique. Que seu exemplo ajude a memória do povo a romper com o reacionarismo e o individualismo. Atitudes vis que destroem o tecido social no Brasil e no mundo. A seguir, duas de suas emblemáticas citações que nos inspiram:

“Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”. 

“Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval! Brinque, meu povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que quarta-feira a luta recomeça. Mas ao menos se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida”.