O presidente argentino encerrou sua primeira viagem “privada” ao Brasil com um discurso na bizarra conferência CPAC 2024 depois de encontrar-se reservadamente com empresários e políticos

Divulgação/Eduardo Valente

A primeira visita de Javier Milei depois de eleito chefe do executivo argentino começou no sábado, 6, em Balneário Camboriú, Santa Catarina, e durou menos de 24h. Milei foi recebido pelo governador do estado e seguiu para um hotel onde teve seu primeiro encontro com o inelegível e indiciado Jair Bolsonaro. Eles assistiram juntos ao jogo de futebol do Brasil, que foi eliminado da Copa América pelo Uruguai.

A Embaixada da Argentina comunicou ao Ministério das Relações Exteriores a vinda do presidente dizendo tratar-se de agenda “privada” e recusou qualquer auxílio por parte do governo brasileiro. O apoio ficou a cargo do governo local que disponibilizou dois carros e escolta policial ao presidente argentino.

No domingo, 7, o “anarcocapitalista”, junto com a comitiva argentina, realizou uma reunião em Camboriú com empresários da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), entre eles representantes do Grupo Tigre, da FARBEN Tintas, do Grupo DASS, das Exportações AURORA, da XP Investimentos e da Etesco Ltda.

No encontro, também estiveram presentes o indiciado Jair Bolsonaro; seu filho Eduardo Bolsonaro; o Governador de Santa Catarina, Jorginho Mello; e funcionários do governo catarinense.

Outros políticos extremistas participaram do encontro que foi patrocinado por empresas como Unimed, Bolsonaro Store, Bolsonaro Vinhos, Aprosoja entre outros. Alguns deputados e deputadas federais e estaduais participaram. O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, compareceu com seu secretário de Segurança Pública. 

No seu discurso, Javier Milei repetiu o tresloucado discurso sobre liberdade de expressão, governos socialistas ditadores, censura e etc. Atacou o Foro de São Paulo. Disse que o Bolsonaro pai era “vítima” de uma “execução judicial”.  Terminou sua performance com gritos gritos de “viva la libertad, carajo”.  

Eduardo Bolsonaro fez um discurso negacionista para encerrar o evento. Estava acompanhado do norte-americano Matt Schlapp, presidente da CPAC original. Chamou Lula de comunista, atacou a ONU, disse que as calotas de gelo não estão derretendo, entre outros delírios. 

No telão, uma imagem pedia anistia para Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, o ex-deputado Daniel Silveira, Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal, e para as pessoas presas após o ataque aos prédios dos Três Poderes em 8 de janeiro. Fotos de Cleriston da Cunha, preso por participar dos atos golpistas, que morreu após ter problemas de saúde na prisão também foram exibidas, além de uma galeria de fotos de outros condenados pela tentativa de golpe.

Javier Milei voltou diretamente para a Argentina levando para casa a medalha 3is, entregue pessoalmente pelo inelegível e indiciado ex-presidente ao seu “hermanito”. O “mimo” já foi entregue ao presidente Viktor Orban, da Hungria, e ao jogador Neymar.

De onde vem a CPAC

A CPAC (Conservative Political Action Conference) foi organizada nos Estados Unidos em 1973/1974. A primeira versão brasileira da Conferência de Ação Política Conservadora aconteceu em 2019 por iniciativa do filho 03 do capitão reformado, Eduardo Bolsonaro.

Em seu site, descrevem como “essência de seus valores” a defesa da “Constituição de 1787, o fortalecimento da soberania nacional e a crença de que apenas governos com poder limitado são capazes de garantir a liberdade individual”. Pregam que “agentes públicos eleitos, lideranças conservadoras e milhares de ativistas” possam aprofundar e ampliar “o conhecimento enquanto capacitam conservadores com habilidades para se tornarem ativistas mais eficazes”. 

Embora seja o mentor da versão tupiniquim do que seria um “instrumento de ampliação de conhecimento”, Eduardo Bolsonaro é réu em uma queixa-crime por calúnia e difamação depois de comparar professores a traficantes de drogas, em dezembro de 2023.

Javier Milei já havia participado de outras edições da CPAC EUA. A última delas foi em fevereiro quando se encontrou com Donald Trump.

Ofensas ao Presidente Lula

Em uma postagem nas redes sociais na semana passada, Javier Milei fez críticas agressivas ao presidente Lula, chamando-o de “dinossauro idiota”. Durante a campanha eleitoral, ele já havia se referido ao presidente brasileiro por “comunista”. Além do insulto, Milei atacou o líder brasileiro sobre outros assuntos, incluindo a tentativa de golpe de estado na Bolívia.

“Se tivéssemos seguido os conselhos desse grande dinossauro idiota, já teríamos perdido”, escreveu Milei no X. 

O atual presidente da Argentina também se envolveu em um conflito com o presidente da Espanha ao acusar a primeira dama do país de corrupção.

A relação entre Argentina e Brasil é uma das mais estratégicas e importantes na América do Sul, caracterizada por uma forte parceria econômica, política e social. Ambos os países são as maiores economias da região e membros fundadores do Mercosul, um bloco econômico que visa a integração regional e o fortalecimento do comércio intra-regional. 

A cooperação entre os dois países abrange diversos setores, incluindo energia, infraestrutura e defesa, contribuindo para a estabilidade e o desenvolvimento do continente sul-americano.

A próxima reunião do Mercosul acontece nesta segunda-feira, 8. O governo argentino anunciou que vai enviar um diplomata para representar o país já que o presidente não irá.

Alckmin diz que ‘mau gosto de Milei’ não interfere nas relações comerciais entre Brasil e Argentina

O vice-presidente também comentou sobre a cotação do dólar e a manutenção da taxa selic em 10,5%. “O mercado é estressado”, disse

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) afirmou nesta terça-feira (9) em um evento do Sebrae que as relações comerciais entre Brasil e Argentina não serão afetadas pelas divergências entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Javier Milei, informa o G1. “São relações de Estado. O mau gosto do Milei é assunto dele. Temos que fortalecer as relações de Estado”, afirmou Alckmin, que está no exercício da Presidência.

O presidente argentino publicou ataques contra Lula na semana passada, o chamando de “perfeito dinossauro idiota”. O presidente brasileiro não respondeu às críticas por orientação de aliados, que afirmam que uma resposta daria palanque para o ultraliberal. Milei viajou para o Brasil no último final de semana para participar de um fórum de extrema-direita em Santa Catarina, e não esteve presente na reunião de cúpula do Mercosul. Lula disse que a ausência do argentino foi uma “bobagem imensa”.

Geraldo Alckmin também comentou sobre a cotação do dólar e a manutenção da taxa selic em 10,5%. Ele afirmou que ambas tendem a cair e que o “mercado é estressado”. “Se olhar o tripé macroeconômico, o câmbio é flutuante. Do mesmo jeito que subiu, ele reduz. Ele tem oscilações e deve ser flutuante mesmo. Acredito que vai cair mais. A tendência é que caia mais. É que o mercado é estressado. Não tem nenhuma razão para ter ido no patamar que foi. A tendência é que ele caia”, declarou.

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