*Jana Silverman

No país mais poderoso do mundo, as opções politicas nas contendas eleitorais programadas para o mês de novembro deste ano parecem mais fracas e insossas do que em qualquer outro ciclo politico recente. Por um lado, um ex-presidente condenado na justiça por crimes de fraude e suborno, que representa um projeto político de extrema direita xenofóbica, misógina e pseudo-populista. Por outro lado, um presidente atual eleito octogenário, com suas capacidades mentais e físicas minguando, que tem deixado de lado uma fração majoritária do programa social-liberal que levou ele a vitória nas eleições de 2020. E no meio, um eleitorado estadunidense polarizado, desmoralizado e descontente com as opções políticas apresentadas para ele, criando assim uma situação politicamente insustentável.

Após a condenação inédita do Trump nas cortes estaduais de Nova Iorque a finais de maio, se esperava que o pré-candidato do Partido Democrata, Joe Biden, ia decolar nas pesquisas pré-eleitorais. Contudo, essa viravolta positiva para o Biden não se materializou, em grande parte devido a sua rejeição entre o eleitorado mais à esquerda que não concorda com a cumplicidade do Biden com o genocídio atualmente em curso na Faixa de Gaza, e também devido a percepção de uma grande fração do eleitorado que ele não tem mais as aptidões necessárias para carregar nos ombros o peso do cargo da Presidência dos EUA.

Após a performance desastrosa do Biden no debate televisiva a noite de 27 de junho, quando ele se mostrou cansado, obtuso e desconcentrado, começou um movimento pedindo que ele fique de lado para que outro candidato mais enérgico e jovem possa assumir a campanha presidencial, com uma aderência importante tanto dentro quanto fora do Partido Democrata. O jornal influente New York Times publicou um editorial vigoroso pedindo a renuncia da candidatura do Biden o dia após o debate, os doadores mais atuantes no Partido Democrata começarem a questionar publicamente a aptidão do Biden, e vários deputados federais dos eleitoralmente importantes swing states de Arizona e Pennsylvania estão encorajando o partido a escolher outro candidato. O nível de aprovação do Biden nas ultimas pesquisas realizadas na 1ª semana de julho está flutuando em torno de apenas 36%. Do mesmo modo, Trump atualmente tem uma vantagem de dois pontos sobre o Biden com respeito as preferencias eleitorais de toda a população, e uma vantagem de três pontos nos estados swing states que determinarão o resultado das eleições, devido ao funcionamento do Colégio Eleitoral.

Será que o Biden vai prestar atenção a esses chamados para ele se abdique como candidato do Partido Democrata? Caso que sim, a candidata sucessora seria a Vice-presidenta Kamala Harris mesmo, ou outro oponente? Por enquanto, todos os sinais se apontam que o Biden quer persistir obstinadamente em manter sua candidatura, a pesar da sua imagem frágil ante a opinião pública e sua política externa altamente impopular entre o eleitorado estadunidense mais progressista. Infelizmente, devido as peculiaridades históricas, institucionais e estruturais do sistema político dos EUA, é muito pouco provável que veremos uma repetição dos resultados observados na França a semana passada, quando uma Frente Popular de esquerda e centro-esquerda conseguiu vencer o neofascismo. A gerontocracia social-neoliberal que lidera o Partido Democrata está mostrando sinais que não vai abrir mão da candidatura do Biden para construir uma opção política que terá maiores chances de energizar o eleitorado e enterrar a possibilidade de Trump ganhar um segundo mandato, que com certeza seria mais destrutivo para a classe trabalhadora, o meio ambiente e o mundo do que o primeiro. Dado o que está em jogo, e a pesar da conjuntura política insustentável e incerta, só resta torcer que a democracia estadunidense, mesmo na sua forma truncada atual, possa vencer nas urnas em novembro.

* Professora de Relações Internacionais, Universidade Federal do ABC (UFABC) e Cocoordenadora, Comite Internacional, Democratic Socialists of America (DS)

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