Análise: Datafolha confirma avaliação do governo estabilizada
Matheus Tancredo Toledo
A mais recente pesquisa do Datafolha confirma levantamentos anteriores de outros institutos: após uma piora na avaliação do governo Lula desde o final do ano passado, o momento é de estabilidade, impulsionada por um freio no ritmo de deterioração da percepção sobre a economia.
De acordo com o instituto, desde o levantamento anterior (feito em março) a avaliação positiva oscilou de 35% para 36%, enquanto a avaliação regular variou de 30% para 31% e a avaliação negativa de 33% para 31%. O quadro de estabilidade já havia sido sugerido em artigo anterior, em maio.
Conforme compartilhado em artigo publicado na semana passada, e em textos anteriores para a Focus Brasil, o NOPPE (Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo) interpreta que as oscilações vistas nos índices de popularidade do terceiro governo Lula, desde seu início, tem andado conjuntamente com a percepção dos brasileiros e brasileiras sobre o desempenho econômico do país e seu impacto na vida cotidiana e a evolução de índices que impactam no cotidiano da população, como a inflação de itens de compra constante (legumes, frutas, verduras, carnes) medidos no IPCA, e o próprio peso da cesta básica sobre o salário mínimo.
Neste sentido, a pesquisa Datafolha mais recente permite explorar tal percepção, oriunda de um acompanhamento sistemático das pesquisas de opinião de diversos institutos. De dezembro de 2023 até agora (período que abrange os três últimos levantamentos do Datafolha), houve um percurso concomitante de aumento da reprovação ao governo e dos índices que medem a avaliação dos brasileiros sobre a economia do Brasil e a situação econômica pessoal em dois momentos: de dezembro a março, e de março até agora.
Os brasileiros que consideravam que a economia do país piorou em dezembro de 2023 eram 35% do total, número que subiu para 41% em março e agora oscilou para 42% — dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais (p.p.). Já do ponto de vista pessoal, eram 26% os que diziam que a própria situação econômica havia piorado em dezembro, número que chegou a 28% em março e que recuou para 24% agora. Quando questionados sobre o futuro, havia subido de 22% para 27%, no primeiro período, os que consideravam que a economia iria piorar nos próximos meses — agora são 28%. Sobre as expectativas sobre a própria situação, a oscilação foi de 10% para 13%, e depois para 12%.
Da mesma forma, os dados sobre a percepção e expectativa positivas: Em dezembro 33% diziam que a economia brasileira havia melhorado, número que foi para 28% (em março) e 27% (agora). Ainda, 35% relataram melhora da situação econômica pessoal no final do ano, número que caiu posteriormente para 28% e agora oscilou para 29%.Em relação às expectativas, a de melhora da situação econômica do Brasil caiu de 47% para 39% entre dezembro e março, e agora oscilou para 40%, enquanto a trajetória da expectativa sobre a situação econômica pessoal no mesmo período foi de 62% para 53% e, agora, para 55%.
É possível considerar, portanto, que os índices estão se alinhando entre si: uma piora acentuada das avaliações e expectativas econômicas entre o final do ano e o final do primeiro trimestre de 2024 afetou imediatamente a avaliação sobre o governo – da mesma forma, a estabilização dos mesmos índices freou tal deterioração. No entanto, a seguinte questão fica latente: ainda não foi possível reverter o quadro de percepção de piora da economia para a maior parte dos brasileiros. Consequentemente, não se aumentou a popularidade – somente se estancou o ritmo de piora visto na passagem do final de 2023 para o começo de 2024.
Os dados revelam, portanto, um desafio político: segundo o Datafolha, 26% dos brasileiros consideram que sua vida melhorou desde a posse de Lula – enquanto a maioria (52%) considera que a vida permanece igual e a menor parte (21%) indica piora.