Vermelho é a cor mais quente: a guinada progressista na UE
Países nórdicos reacendem força da esquerda em meio ao alarmante avanço da extrema-direita na Europa
As Eleições no Parlamento Europeu, ocorridas no dia 9 de junho, inauguraram uma nova etapa nas lutas contra o avanço da extrema-direita, que conquistou vitórias importantes em países como França, Alemanha e Itália. O contragolpe veio em forma de uma articulação global dos campos progressistas que há tempos não se via.
A luta, portanto, continua. E, uma das estratégias é, para além das necessárias mudanças no trabalho de base e na defesa das pautas hoje um tanto escanteadas, mostrar onde a esquerda tem se sobressaído. E lá mesmo, na Europa que flerta com tempos medievais, que se encontra a nova trincheira vermelha do mundo.
Nas mesmas Eleições da UE que empurraram o mapa do continente para a ponta extrema da direita, o desastre só não foi maior porque numa região gélida e tida como bucólica a chama da esquerda se reacendeu. Tudo isso graças aos chamados países nórdicos, mais precisamente Finlândia, Suécia e Dinamarca, onde os ultranacionalistas foram “varridos pelos partidos progressistas”, como bem definiu o jornal francês Le Monde.
Na Finlândia, a ecossocialista Aliança de Esquerda obteve 17,3% e garantiu três dos 15 assentos do país no Parlamento Europeu. Mas quem brilhou mesmo no pleito foi a líder do partido, Li Andersson, que obteve pessoalmente 247.600 votos – um em cada sete no país, o maior registrado por um candidato finlandês na história.
Li se elegeu sem ter que fazer concessões para agradar eleitores de centro ou até mesmo conservadores moderados, rejeitando os ataques contínuos aos trabalhadores e imigrantes na Finlândia e em toda a Europa – o tema tem sido a principal bandeira da extrema-direita para capitanear apoio de eleitores. Ela também luta para que haja sanções contra Israel pelo genocídio comentido em Gaza. Isso lhe dá uma credibilidade ímpar entre os finlandeses: 25% de todos os eleitores finlandeses passaram a vê-la como a líder partidária mais competente do país.
Na Dinamarca, o sucesso foi catapultado pela ascensão do Partido Popular Socialista, que se consolidou como o maior partido do país ao conquistar 17,4% dos votos, um aumento de 4,2 pontos percentuais em relação ao resultado eleitoral de 2019.
O Partido Popular Socialista foi fundado em 1959 como cisão do Partido Comunista da Dinamarca e defende a conversão do povo dinamarquês à luta pela introdução pacífica do socialismo no país e outras pautas um tanto improváveis em outras partes do mundo como como a abolição das forças armadas e do própria ideia de nação globalizada aos moldes impostos pela União Europeia.
Com o sexto maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo, a Suécia tem vivido instabilidade política sem precedentes em sua história, mas ainda sustenta ideais que têm sido abandonados por países antes considerados a vanguarda do progressismo mundial – como a “reacionária” França (quem diria).
No país, os partidos de esquerda e ecologistas avançaram com força nas eleições europeias realizadas ao mesmo tempo em que os de extrema-direita retrocederam.
Bélgica dividida
Apesar de a extrema-direita ter conseguido importantes avanços na Bélgica, os partidos progressistas seguem com apoio da maior parte da população. Os partidos verdes obtiveram dois lugares no Parlamento Europeu, mesmo número conquistado pelo Partido dos Trabalhadores da Bélgica (PTB-PVDA). Além de Marc Botenga, eurodeputado desde 2019, o PTB-PVDA terá como representantes Rudi Kennes, sindicalista que trabalhou na fábrica da Opel em Antuérpia e se classifica como um “antifascista convicto”.
E na América Latina?
Enquanto o Brasil se prepara para colocar à prova a força do presidente Lula em âmbito municipal, no pleito que acontece em outubro, o debate sobre o PL do Aborto tomou conta do debate nacional nesta semana, num termômetro do que pode definir o futuro do país nos próximos anos. Como Lula irá se comportar? A boa notícia é que a grande mobilização da população já mostrou que é totalmente (totalmente mesmo) contra o absurdo de equiparar o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples.
Ainda que não dependa da comoção popular, o resultado da enquete realizada pela própria Câmara dos Deputados alimentou as esperanças de derrubar o PL: mais de 90% se mostram contra em votação que chegou a derrubar o site de tanta adesão.
Já no México, a vitória da candidata governista Claudia Sheinbaum no início de junho manteve o país nas mãos da esquerda – antes governado por López Obrador. Sheinbaum foi eleita com o voto de 6 de cada 10 mexicanos derrotando com folga a principal adversária, a empresária Xóchitl Gálvez.
“Não cheguei (aqui) sozinha, chegamos (aqui) com as heroínas que nos deram a pátria”, afirmou a ex-prefeita da Cidade do México, de 61 anos, que será a primeira mulher a governar o país em 200 anos.