“A análise do tal Boletim Focus, que só ouve bancos e corretores, indica a atuação de um cartel criminoso que faz projeções pessimistas da inflação para pressionar os juros”, reagiu Gleisi. “O BC de Campos Neto vai terminar como um caso de polícia”

O MPTCU entrou com uma representação ao tribunal para apurar “eventuais desvios de finalidade” pelo Copom

A forte ação política do presidente do Banco Central (BC) Roberto Campos Neto para segurar os juros nas alturas torna-se cada dia mais perigosa para as perspectivas de crescimento econômico do país. Agora, uma suspeita de desvio de finalidade recai sobre a atuação do Comitê de Política Monetária (Copom). O comitê teria utilizado o Boletim Focus, que faz as projeções semanais da inflação, para manipular dados, provocar alvoroço no mercado e, com isso, segurar a taxa de juros no patamar elevado em que se encontra, de 10,50%.

Após denúncia feita pelo economista Eduardo Moreira, do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU) entrou com uma representação interna para “adoção das medidas necessárias a identificar eventuais desvios de finalidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na definição da taxa Selic”.

O documento, assinado pelo subprocurador-geral do MPTCU, Lucas Furtado, destaca a “grande influência” das projeções do Boletim Focus, “elaborado a partir de pesquisas macroeconômicas realizadas por diversas instituições, tais como bancos, consultorias, corretoras”. Ainda segundo Furtado, instituições “podem ter interesse na manipulação do índice para ganhos próprios e privados indevidos e em prejuízo aos interesses públicos e ao erário”.

“Ofereci em ocasião anterior junto a essa Corte de Contas representação com o objetivo de que o TCU adotasse medidas tendentes a conhecer e avaliar as consequências positivas e negativas ao erário, especialmente aos cofres públicos da União, diante da manutenção da taxa Selic pelo Banco Central em patamares elevados, assim como conhecer e avaliar se consideram os riscos fiscais do país, diante da interdependência entre a política fiscal e monetária”, ressalta, ainda, o subprocurador.

Agentes do mercado questionam peso do Boletim Focus

Na semana passada, o jornal Valor Econômico publicou reportagem revelando que agentes do mercado vinham questionando a influência das projeções do Boletim Focus sobre as decisões do colegiado quanto aos rumos da política monetária. Nesta quarta-feira (29), o diário voltou ao assunto, por ocasião da representação de Furtado junto ao TCU.

“Para alguns agentes, o mercado tem embutido nas projeções prêmios de inflação elevados, o que se intensificou após a divisão do Copom na decisão de juros do início deste mês e que ajuda a contaminar a média das estimativas”, diz um trecho da matéria. “A projeção máxima para o IPCA em prazos mais distantes (2026 e 2027), por exemplo, pulou para 8% nas últimas semanas”, informa o jornal.

“As expectativas de inflação registradas no Focus estão subindo nas últimas semanas, se distanciando da meta de 3% ao ano em 2024, 2025 e 2026”, constatou a reportagem.

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