Há quase 30 anos nascia a Fundação Perseu Abramo, após aprovação do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, para desenvolver projetos de caráter político-cultural

Em 5 de maio de 1996, por decisão do seu Diretório Nacional, o Partido dos Trabalhadores aprovava a criação da Fundação Perseu Abramo, um espaço caracterizado pela diversidade de opiniões e pela neutralidade, atributos esses que são raramente preservados nos confrontos cotidianos de um partido político.

Desde a sua fundação, o PT tinha como perspectiva a necessidade de criar uma think tank para o desenvolvimento de reflexões políticas e ideológicas, além de promover debates, estudos e pesquisas. Com a criação do Fundo Partidário, instituído pelo artigo 38 da Lei 9.096, de 19 de setembro de 1995 (Lei dos Partidos Políticos), que previa a alocação de no mínimo 20% dessa verba para a criação e manutenção de “instituto ou fundação de pesquisa e de doutrinação e educação política” (inciso IV, artigo 44), o Diretório Nacional do PT entregou a Perseu Abramo, então secretário nacional de formação política, a tarefa de conduzir estudos para a criação do futuro instituto ou fundação.

A homenagem a Perseu Abramo

O jornalista, sociólogo e professor Perseu Abramo pesquisou as vantagens e desvantagens de cada modelo organizacional, preparou documentos base sobre o tema e formulou um esboço de projeto que continha as propostas das linhas de trabalho da futura instituição. Com base nessas propostas preliminares, o DN decidiu pela criação de uma fundação, que possui um estatuto jurídico mais rigoroso do que os institutos. As fundações são submetidas à fiscalização e devem prestar contas ao Ministério Público, proporcionando mais rigor e transparência à estrutura e operação da organização.

Perseu Abramo faleceu no dia 6 de março, em meio à organização da FPA, e o modelo de fundação que ele concebeu para o PT recebeu seu nome em sua homenagem. No dia 5 de maio de 1996, dois meses após sua morte, o DN aprovou os elementos do plano de trabalho, o estatuto e a composição da diretoria e do conselho curador. A posse da primeira diretoria e conselho curador eleitos para a gestão de 1996 a 2000 aconteceu no dia 10 de outubro de 1996. O primeiro presidente da FPA foi Luiz Soares Dulci, e o primeiro presidente do conselho curador foi Vicente Carlos Y Plá Trevas.

Luiz Dulci, professor e ex-ministro do primeiro governo Lula, ressalta que “a FPA foi criada para ser um espaço de pesquisa, reflexão e debate sobre a realidade brasileira e sua transformação. Desde o início, dedicou-se também à preservação da memória do PT e à formação política de seus filiados. Criou núcleos de pesquisa, centro de memória, revista, editora, escola de formação e outros instrumentos de articulação e participação da intelectualidade progressista. Construiu uma rede valiosa de contatos internacionais. Promoveu debates sobre todos os temas importantes da vida nacional”.

Em sua avaliação, o trabalho destes 28 anos contribuíram de modo decisivo para a elaboração dos programas de governo do PT, de 1998 até 2022. Dulci destaca que a FPA consolidou-se, ao longo dos anos, como a mais ativa e respeitada fundação partidária do país. Nos últimos anos, tem contribuído de modo notável para refletir sobre os desafios do PT, das esquerdas e do governo Lula. Por tudo isso, a FPA é motivo de orgulho para as direções e bases do PT”, comemora.

O sociólogo Vicente Trevas recorda que a criação da FPA foi um “momento muito importante” para o partido. “Era um espaço de elaboração e disseminação de ideias. Os quadros dirigentes da FPA, sob a liderança de Luiz Dulci, estavam cientes de que estaríamos construindo uma retaguarda para o partido, tendo a sensibilidade de não trazer para aquele espaço o varejo do cotidiano da vida partidária, tão plural e diversa, no melhor sentido da concepção”, relata Trevas. Ele descreve a compreensão daquele colegiado sobre o que seria a FPA, e explica que ela “deveria ser um espaço de reflexão estratégica e serena sobre os desafios, dilemas e problemas partidários, e isso foi um consenso geral entre todos, criando um clima muito favorável para iniciar os trabalhos da FPA.”

Trevas fez questão de enfatizar “o rigor com o qual a FPA foi organizada”. Para o ex-presidente do Conselho Curador, “um marco fundamental para o desenvolvimento do propósito das atividades da fundação estaria na estrutura de memória e documentação, abarcada nas atividades de um centro de documentação e história”. Para o futuro, considera que “o desafio da nossa Fundação é transformar em agenda as grandes complexidades do governo Lula e do próprio PT”.

Centro Sérgio Buarque de Holanda

O Centro Sérgio Buarque de Holanda (CSBH) foi criado em 1996 com o objetivo de preservar e disponibilizar ao público o arquivo histórico do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores. O projeto Memória e História do PT, iniciado em 1997, foi concebido para ser um centro de referência e arquivou documentos tanto do PT quanto de outras fontes, como a Fundação Wilson Pinheiro e acervos pessoais de dirigentes como José Dirceu e Perseu Abramo. Marco Aurélio Garcia, coordenador do projeto, destacou a importância de representar não apenas os eventos formais e lideranças do PT, mas também sua diversa base social e influências culturais.

Em um artigo publicado em 2011, Marco Aurélio Garcia, ressaltava que era necessário igualmente que a história do PT não se confundisse exclusivamente com a história de seus congressos e encontros, de suas resoluções políticas, de seus dirigentes. “Todos esses elementos de sua trajetória são importantes, mas representam apenas uma parte da história de um partido. Ela tem de dar conta da distinta composição social da organização, das múltiplas culturas políticas que a influenciaram”, apontava Garcia.

Editora FPA

Um braço extremamente importante das atividades de formação e disseminação de conhecimento, é a Editora da Fundação Perseu Abramo. Em março de 1997 foi criada a Editora com o objetivo de promover uma ampla e sistemática reflexão sobre a sociedade brasileira em todos os seus aspectos, as transformações que ocorrem no mundo, as perspectivas do socialismo democrático e a recuperação da memória dos movimentos sociais no Brasil. A linha editorial sempre foi pautada por obras de qualidade nos campos teórico, jornalístico e investigativo, bem como por coleções populares de obras de divulgação, sempre a partir de uma perspectiva progressista. O primeiro conselho editorial da editora foi presidido por Antonio Candido. A Editora FPA têm um papel de destaque no ramo editorial brasileiro e já teve vários de seus livros indicados ao prêmio Jabuti, o mais tradicional e um dos mais prestigiados do mercado literário brasileiro. Seu catálogo atual possui mais de 500 livros.

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