Em meio a um contexto de avanço do conservadorismo religioso, a expectativa é fortalecer o diálogo entre a esquerda e os católicos

Curso vai abordar fé, política e democracia 

Apesar da laicidade do Estado, a religião segue como norte importante para os brasileiros, em especial na relação com a política. Para 59% dos eleitores, por exemplo, a fé professada pelo candidato à presidência da República é considerada relevante, de acordo com pesquisa DataFolha, divulgada no último pleito. 

Com inscrições abertas a partir de sexta-feira (19), o curso “Fé, política e democracia”, promovido pela Fundação Perseu Abramo, pretende debater o assunto a partir de um viés histórico e informativo sobre o papel do catolicismo na transformação social, na luta por direitos e na consolidação da esquerda no Brasil. 

Em um momento de forte atuação da extrema-direita no trabalho de base, que tem o neopentecostalismo como principal braço de atuação, o foco é a reorganização para atuação na pauta política. “Não podemos negar que a pauta moral está colocada, mas também não podemos cair numa certa casca de banana de ficarmos presos a isso”, explica Eliane Martins, da equipe pedagógica da Escola Nacional de Formação do PT e da FPA.

Para a pesquisadora, é necessário uma organização da narrativa em um processo pedagógico que não bloqueie o debate. “A expectativa é que o curso traga elementos para modular a conversa”, comenta.  

Ela lembra que a desmontagem orquestrada das bases da teologia da libertação tem relação com a criminalização de ações coletivas, como as que são produzidas dentro dos partidos políticos e dos movimentos populares. “Igreja e partido sofreram grandes transformações, esses dois grupos compartilham o dilema sobre como retomar o trabalho de base hoje a partir de valores que temos em comum, como a solidariedade e o trabalho comunitário”, pontua Eliane. 

Mesmo com o avanço dos evangélicos, o número de católicos no país permanece expressivo, com 49% dos que responderam ao levantamento do DataFolha de 2022. Além disso, é sabido que um dos pilares de formação do Partido dos Trabalhadores na década de 80 é representado por setores do catolicismo, além dos movimentos sindicais e de intelectuais. 

Dessa forma, a organização do curso tem como público-alvo militantes que tenham origem na organização eclesial e que atuem nas redes ligadas ao tema, assim como a militância em geral que tenha interesse no assunto e queira construir o diálogo em diferentes frentes e entidades. 

“Nossa expectativa é encontrar um espaço, mais do que somente um lugar de conteúdo, o que já é muito importante, mas também que possamos ter esse lugar de articulação”, projeta , que lembra que o campo petista está articulado no tema, destacando um recente encontro com mais de 1.200 pessoas em Minas Gerais no começo do mês. 

Sobre o curso

As aulas serão online às quarta-feiras, entre os dias 15 de maio e 19 de junho, no período da noite, das 19h às 21h. Dentre os professores, nomes como: José Artur Tavares de Brito, Léa Freitas Perez, Gilberto Carvalho, Pedro Ribeiro de Oliveira, Dari Krein, Jorge Alexandre Barbosa Neves, Marilene Alves de Souza, Mauricio Abdala, Pe. Paulo Adolfo, Sônia Gomes Oliveira, Marcio Romero, entre outros. 

Os temas abordados estão organizados nos eixos: 

1) Introdução sobre o papel da religiosidade popular na formação social do povo brasileiro; 2) A história da fundação do PT em sua relação com a Igreja Católica; 3) O contexto das transformações da relação progressista entre religião e política no Brasil (e América Latina) do Concílio Vaticano II até o início dos anos de 1990 para a atual relação conservadora; 4) As transformações do mundo do trabalho compondo o agravamento da questão social e seus problemas acolhidos pela prática religiosa e conservadora, que desloca as causas dos problemas sociais para uma politização da pauta moral; 5) O papel e a potencialidade das agendas de ações sócio-transformadoras e da ecologia integral em articulação com a agenda do povo no orçamento e os ricos nos impostos, com um conjunto de políticas públicas e educação popular do governo Lula; 6) Os papeis da militância petista católica na atual conjuntura política;

A aula inaugural será no dia 13 de maio (segunda-feira) com a participação da Secretária Nacional de Planejamento e Finanças do PT, Gleide Andrade, a deputada federal Maria do Rosário e o presidente da Fundação Perseu Abramo, Paulo Okamoto.