Fernanda Otero

Desde outubro de 2023, acompanhamos semana após semana, o crescimento do número de mortos no conflito entre Israel e o povo palestino. Os números não param de crescer, o que deixa cada vez mais difícil para Israel manter seu argumento de que estaria se defendendo do terrorismo. 

Apesar dos apelos internacionais, das campanhas e dos protestos numerosos em diversos países do mundo, Israel segue impiedoso e cruel no seu propósito de “reduzir os esconderijos do Hamas a ruínas”. Não foi possível negociar uma trégua que durasse mais de quatro dias e a última tentativa realizada no começo de fevereiro, fracassou.

Ainda em outubro de 2023, uma grande onda de protestos tomou as ruas do mundo para pedir o fim do conflito. O dia internacional de solidariedade ao povo palestino celebrado anualmente em 29 de novembro levou centenas de milhares à ruas, no Brasil e no mundo.

No Reino Unido, por exemplo, desde o começo do ano, já foram convocados dois dias de mobilização em apoio ao povo palestino e pelo fim da ocupação. Em 17 de fevereiro aconteceu o Dia Global de Ação pela Palestina. Segundo os organizadores, marchas pelo fim da guerra ocorreram em mais de 100 cidades de 45 países.

A vice-presidente do Fórum Palestino da Grã Bretanha, Adnan Hmida, declarou ao site Midle East Monitor que “o chamado pela segunda vez em menos de dois meses para um protesto global para parar o genocídio em Gaza” era extremamente importante por várias razões: a primeira delas seria para enfatizar a rejeição popular global a esse genocídio e a segunda, seria acelerar os procedimentos do Tribunal Internacional para um cessar-fogo e responsabilização dos criminosos de guerra. 

O Dia Global de Ação pela Palestina coincidiu com a visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ao Egito. No sábado, 17, Lula encontrou-se com o Primeiro-Ministro da Autoridade Palestina, Mohammad Shtayyeh, e anunciou que o Brasil continuaria a apoiar a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente (UNRWA) e que enviaria uma ajuda extra. A decisão do governo brasileiro veio de encontro à suspensão anunciada pelos países alinhados com Israel de cortar financiamento alegando uma suspeita de envolvimento da agência com membros do grupo Hamas. 

No dia seguinte, pela manhã, o presidente concedeu entrevista coletiva antes de cumprir sua última agenda no país. Foi questionado sobre a manutenção da ajuda humanitária e respondeu: “Quando eu vejo países ricos anunciarem que estão parando de dar contribuição para a questão humanitária aos palestinos, eu fico imaginando qual é o tamanho da consciência política dessa gente e qual é o tamanho do coração solidário dessa gente que não está vendo que na Faixa de Gaza não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio. Se tem algum erro dentro de uma instituição que recolhe dinheiro, puna-se quem errou. Mas não suspenda ajuda humanitária para um povo que está há tantas décadas tentando construir o seu Estado”, criticou Lula. E continuou: “O que está acontecendo na Faixa da Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum momento histórico. Aliás existiu quando Hitler resolveu matar os judeus. E você vai deixar de ter ajuda humanitária? Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai devolver a vida das crianças que morreram sem saber porque estavam morrendo?”, questionou.

Essa declaração causou uma reação internacional. No Brasil a oposição decidiu colher assinaturas para um patético pedido de impeachment do presidente.

O site Jacobina, do Reino Unido, apoiou a fala do presidente e disse que as ações de Lula fazem parte de seu compromisso de longa data em solidarizar-se com o povo palestino. Na terça-feira, 20, o herdeiro de Rei Charles manifestou-se pela primeira vez sobre um conflito internacional e pediu o fim do conflito. Príncipe William defendeu um “fim aos combates o mais rápido possível”. 

O Ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Michael Martin, declarou que o mundo estava em choque com o nível de desumanidade que acontece no momento em Gaza. 

O site Politiken, da Dinamarca, disse que Lula tornou-se uma voz proeminente para o sul global. 

O Il Manifesto, da Itália, reproduziu a fala de Lula dizendo que ele vinha denunciando o “genocídio” em curso em Gaza desde outubro passado.

Na Espanha, o El Diario destacou a reação de Israel quanto a declaração de Lula, e ressaltou que o Brasil foi um dos primeiros países a apoiar a denúncia apresentada pela África do Sul ao Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, que acusa Israel de manter um “padrão de conduta genocida” em Gaza.

O comentário do presidente não foi apenas festejado pela imprensa europeia. Lula provovou uma ação concreta dos Estados Unidos: o país, pela primeira vez, decidiu apresentar um pedido de cessar-fogo na região.

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