Pela primeira vez desde sua criação, em 1976, a Fuvest anunciou apenas obras de escritoras mulheres na lista de leituras obrigatórias. A prova chegou a passar 15 anos sem nenhuma escritora. Machado de Assis, tradição na prova, fica de fora até 2029

Fuvest divulga lista de leituras obrigatórias só com escritoras mulheres

Para entrar na Universidade de São Paulo, a USP, algo significativamente relevante mudou, causando alvoroço: a Fuvest, responsável pelo vestibular da USP, decidiu que a leitura obrigatória aos estudantes inscritos seria composta apenas por mulheres escritoras – algo tão inédito, quanto atrasado para uma Fundação que existe desde 1976. Antes tarde do que nunca. 

O que é de se estranhar mesmo, entretanto, é a pergunta que surge como resposta: por que, durante todos estes anos, a ausência de mulheres nunca causou alvoroço? 

O atraso fica por causa dos números, além da percepção nas livrarias e outras listas de leitura: dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, do Instituto Pró-Livro, apontam que  55% de leitores brasileiros são, na verdade, 55% de leitoras brasileiras. As mulheres que consomem, de acordo com o levantamento, 5,3 livros em média, a cada ano; contra os 4,7 livros lidos pelos homens.

Para analisar esse cenário e as repercussões sociais e culturais na literatura brasileira derivadas da decisão da Fuvest, a Focus convidou a escritora e antropóloga Juliana Borges para escrever sobre a importância da novidade. 

Juliana é escritora e pesquisadora em Antropologia da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), onde estuda política criminal e relações raciais. É também cofundadora da Articulação Interamericana de Mulheres Negras na Justiça Criminal – Núcleo Brasil, e por aí segue um longo currículo de conquistas, pesquisas e atuação em campo. É autora do livro “Encarceramento em massa” (Coleção Feminismos Plurais, Polén Livros/Selo Sueli Carneiro) e “Prisões: espelhos de nós” (Todavia, impresso no prelo). 

“Por 15 anos, o vestibular para uma das instituições mais importantes do país não contou com mulheres nas listas de leituras obrigatórias para o exame”, relata Juliana. “A provocação da Fuvest é bem-vinda e chega em boa hora ou, como diria a geração z, “antes tarde do que mais tarde”.

Leia aqui artigo da escritora Juliana Borges sobre a seleção da Fuvest e a “grita” por trás da decisão, acertada, da USP