É hora de fortalecer o Mercosul!
Os ruídos a respeito do Mercosul provocados no calor da campanha eleitoral pelo presidente eleito da Argentina, o ultradireitista Javier Millei, devem-se dissipar à luz da realidade. Com 32 anos, o Mercosul é um marco no processo de integração regional e beneficiou todos os integrantes do bloco. Reforçou a capacidade econômica e industrial dos países-membros e o Cone Sul ganhou voz nos foros internacionais em que há negociações.
À parte os ganhos econômicos, comerciais e diplomáticos, essa aproximação foi uma conquista histórica para o rompimento de desconfianças mútuas e para a superação da falta de conhecimento recíproco entre os povos da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Para o povo brasileiro, notadamente, o projeto de integração regional nos assegurou o rompimento do histórico isolamento de nosso país com os vizinhos, por fatores históricos, culturais e geográficos. Essas três décadas foram vantajosas em todos os sentidos para os quatro sócios. Não é hora de brincadeiras sobre enfraquecimento do bloco.
Os dados econômicos são superlativos. Nos revelam que a integração latino-americana, tão sonhada por Simon Bolívar, é factível, lucrativa, com ganhos em diferentes áreas. O Mercosul é uma das maiores economias do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 2,67 trilhões. Com a integração, o comércio intrazona cresceu exponencialmente. Em 2021, superava os US$ 40,6 bilhões. Em 1991, quando surgiu o bloco, comércio entre os quatro sócios era em torno de US$ 4 bilhões ao ano. Significa que houve um crescimento de mais mil por cento no período.
Não interessa a ninguém o desmantelamento ou enfraquecimento do Mercosul, tampouco o afastamento da Argentina do BRICS, como assessores próximos a Milei defenderam. Vamos aos números. Os parceiros do bloco ocupam o 4º lugar das exportações do Brasil, país que ocupa o 1º posto como destino das exportações dos três sócios brasileiros. Argentina, Paraguai e Uruguai são o quarto maior fornecedor externo do mercado brasileiro.
A maior parte das exportações argentinas destinam-se a países que estão no BRICS. Segundo o jornal Página12, há atualmente na Argentina 2580 empresas (7% do total) que exportam ao Brasil. Enquanto há 668 empresas (2% do total) que vendem à China. Essas empresas empregam cerca de 632 mil trabalhadores, ou seja, 40% da mão de obra de exportadores. Desprezar ou ignorar a importância dessas parcerias econômicas e comerciais significaria, na Argentina, um desemprego em massa. Isso não interessa ao povo argentino e nem aos parceiros do bloco.
Aprofundar a integração é o desafio principal. Uma América do Sul mais integrada negocia com a União Europeia e outros blocos e países de maneira mais vigorosa. Mais integração no Mercosul, melhor para todos os quatro sócios. É de importância estratégica. É preciso sonhar com um Mercosul ampliado para toda a América do Sul, com sua população de 450 milhões de pessoas e alguns trilhões de dólares de PIB.
Aprofundar a integração estratégica, independentemente das posições políticas e ideológicas de presidentes, é de interesse de todos os povos da região. Quanto mais criarmos mecanismos, instituições democráticas e acordos que intensifiquem a integração, com mais acesso a bens e serviços, mais circulação de pessoas, mais condições teremos de criar uma região com desenvolvimento, cooperação, justiça social e solidariedade latino-americana.
Como dizia o ex-presidente argentino Juan Domingo Perón, a única verdade é a realidade. E a realidade dos números e conquistas do Mercosul supera qualquer preconceito ou cartilha neoliberal.
Deputado federal pelo Paraná e líder da Bancada do PT na Câmara dos Deputados