Hasan Rabee, que voltou ao Brasil depois de mais de um mês de espera para deixar Gaza,  vem sofrendo ataques nas redes xenófobos e racistas nas redes; defesa vai processar, entre outros, a deputada Carla Zambelli

As duas guerras de um brasileiro-palestino

Hasan Rabee nem bem tinha pisado no Brasil na última e angustiante operação de repatriamento encerrada na madrugada do dia 14 de novembro quando começou a ser atacado nas redes sociais. Depois de ser recebido pelo o presidente Lula, entre outras autoridades, em Brasília, começou um novo inferno para Hasan.

A onda de ameaças começou com matéria veiculada na Globo News na noite do dia 15 que resgatou postagens de Hasan de 2015 nas quais ele supostamente expressa intenções violentas. O vídeo caiu nas redes da extrema direita, a partir do perfil da deputada do PL Carla Zambelli, que o acusou de compartilhar mensagens “pró-terrorismo”.

Foi a deixa para que o exército digital do bolsonarismo despejasse nas redes de Hasan toda sorte de  mensagens contendo ataques de teor xenófobo, ameaças de morte, calúnia e injúria racial, de acordo com sua advogada Talitha Camargo da Fonseca. Advogada afirma que vai processar autores das mensagens agressiva, incluindo Carla Zambelli.

Hasan se tornou um dos rostos mais conhecidos do grupo de 32 brasileiros que esperaram mais de um mês para poder sair de Gaza. Com vídeos curtos e fotos postadas numa rede social, o palestino com cidadania brasileira de 30 anos informava aos seus seguidores cada etapa de sua segunda saída de Gaza. Hasan deixou Gaza pela primeira vez em 2014 e se estabeleceu em São Paulo, onde obteve o status de refugiado e tornou-se vendedor de acessórios para celulares.

 Quando a guerra começou em 07 de outubro, Hasan visitava a família em Gaza com a mulher e  as filhas, de três e seis anos, que são brasileiras e viajaram com ele. Pelo seu perfil nas redes sociais, amplamente usado como fonte por jornalistas, ele relatou a situação de espera de sua família e dos outros brasileiros que esperavam para voltar ao Brasil.

Desde que chegou ao país, na segunda-feira (13), Hasan teria recebido mais de 200 mensagens de diferentes supostos detratores. Ataques de teor xenófobo e contendo ameaças de morte, calúnia e injúria racial foram alguns dos conteúdos identificados, segundo a advogada Talitha Camargo da Fonseca, que o representa. Ela também formalizou um pedido ao Ministério dos Direitos Humanos para que Hasan e  sua família sejam incluídos no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH). 

Ao chegar em São Paulo em um voo da Força Aérea Brasileira nesta quarta-feira, ele foi questionado pela imprensa e relatou não se lembrar das publicações. Rabee também afirmou que o material estava sendo usado para ameaçá-lo, já que ele seria um dos mais ativos do grupo de repatriados. Na manhã de quarta-feira, ele publicou um texto defendendo a paz entre Palestina e Israel. “Tem vídeo circulando no TikTok de ameaça, difamação… É surreal. É um grau de desumanidade a ponto de não conseguirem conceber que a pessoa acabou de sair de uma guerra”, afirmou sua advogada em entrevista à Folha. 

A Secretaria Nacional de Justiça (do Ministério da Justiça e Segurança Pública), que coordena a operação de acolhimento do grupo, afirmou que vai determinar à Polícia Federal que investigue as ameaças feitas aos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza. O MDHC se manifestou sobre o caso em nota. “O MDHC reforça a posição de que são condenáveis todas as manifestações de ódio ou ameaça, sejam elas contra quem for. Não há lugar para o antissemitismo, islamofobia ou qualquer tipo de preconceito ou discriminação”.•