Carta ao leitor: ‘O veneno do fundamentalismo
É injustificável, vista por qualquer parâmetro, a onda de ataques promovidas pelo grupo fundamentalista palestino Hamas no Estado de Israel, ocorrida no início da semana passada.
É obvio que, ao se condenar os ataques do Hamas, não se pode esquecer o verdadeiro apartheid em que vivem a população palestina na Faixa de Gaza e em outros territórios ocupados pelos israelenses.
Essa ocupação desordenada se deu principalmente com a ascensão ao poder de Benjamin Netanyahu, em 1996 a 1999, de 2009 a 2021, e de dezembro de 2022 até o presente momento. Criou-se uma coalizão de extrema-direita de caráter ultraconservador e fundamentalista religioso, que garantiu a maioria para montar o novo governo.
Estimulador da colonização em Gaza e na Cisjordânia por colonos judeus, Bibi, como é conhecido, age ao arrepio das decisões da Organização das Nações Unidas, que reiteradamente vem advogando a coexistência pacífica entre os dois povos: palestinos e israelenses. E decidiu pela constituição plena de dois Estados.
O governo de Israel transformou a Faixa de Gaza, praticamente, em uma espécie de campo de concentração. Dados mais recentes mostram que 70% dos 2,1 milhões de habitantes são refugiados das áreas de colonização israelense em Gaza.
A presença do Brasil na Presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas abre ao país ao presidente Lula a oportunidade de mediar um cessar-fogo imediato. Também precisa patrocinar uma concertação internacional para a construção plena da Palestina, fazendo cumprir as resoluções que garantem a existência dos dois povos vizinhos.
A exigência da abertura de um corredor pelo Egito para garantir a integridade dos que querem se retirar da região — como defendeu o presidente Lula — é uma medida acertada. Bem como a retirada dos brasileiros que lá se encontram.
O morticínio produzido pelo ataque do Hamas em Israel e pelo contra-ataque israelense na Faixa de Gaza fere todos os princípios internacionais. Não dá mais para a humanidade continuar sendo refém de fundamentalismos religiosos que descartam a humanização dos que não pensam da mesma maneira.
A separação da religião e da política foi o que permitiu o florescer da democracia. Sua junção é o caminho do caos.