Corpo de Thiago, de 13 anos, é enterrado na tarde de terça-feira, 8, e comove o Brasil. Tia do adolescente lamenta:  “É um sentimento de injustiça e de impotência”. E Lula critica a violência policial

Mais uma criança morta

Mais uma operação policial resulta na morte de um adolescente negro. Na Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, um jovem de 13 anos foi morto na noite de domingo, 6, durante uma operação da Polícia Militar. Thiago Menezes Flausino foi atingido por pelo menos cinco tiros, segundo familiares. Ele sonhava em ser jogador de futebol.

Na terça-feira, 8, o corpo do adolescente foi enterrado na presença de 200 pessoas, entre família e amigos com quem jogava futebol. O velório ocorreu na Igreja Evangélica Congregacional da Cidade de Deus. A tia do menino, Nathaly Bezerra Flausino, lamentou o episódio. “É um sentimento de injustiça e de impotência”, disse. “O governo (do Rio) ainda não falou nada, só tirou a vida do meu sobrinho. Ele tinha muitos sonhos”.

Na quinta-feira, 10, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas ao aumento da violência policial no país, especificamente no Rio de Janeiro. Em cerimônia na capital fluminense, Lula subiu o tom olhando para o governador Cláudio Castro (PL). “O presidente quer ter responsabilidade junto com você. Precisamos criar condições para a polícia ser eficaz, pronta para combater o crime mas, ao mesmo tempo, essa polícia tem que saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre andando na rua”, disse.

Castro acenou brevemente com a cabeça, depois permaneceu imóvel com o tom veemente de Lula. A crítica do presidente tem relação com o assassinato do jovem Thiago Flausino. Além de matar o adolescente, a Polícia Militar do Rio de Janeiro chegou a divulgar em suas redes sociais um informe com a identidade do jovem, dizendo se tratar de um bandido. Apurações preliminares indicam que não era o caso.

Além de acusar os PMs envolvidos na operação pela morte do adolescente, moradores da comunidade e a família da vítima alegam que os militares alteraram a cena do crime. De acordo com Nathaly, os policiais chegaram ao local atirando. “Eles estavam de moto na principal rua da Cidade de Deus, a polícia encontrou com eles e deu muitos tiros. Deu muitos tiros neles. Meu sobrinho é pequeno, tem corpo de criança, e está com mais de cinco tiros espalhados pelo corpo. Muito tiro em uma criança de 13 anos”, disse.

Outra testemunha, que não quis ser identificada, confirmou a versão dos familiares da vítima e considerou a ação da PMERJ como “desastrosa”. “Quando eles viram que a criança já estava morta com um tiro fatal, eles queriam tirar o corpo da criança do chão. Nós peitamos, e não deixamos eles levarem o corpo da criança”, contou a testemunha.

Um morador, também de identidade preservada, disse que os policiais chegaram a simular uma troca de tiros na comunidade. Além de muito querido pelos moradores da comunidade, Thiago sonhava em ser jogador de futebol profissional. Era aluno do projeto social Canelinhas Futebol Clube, da Cidade de Deus.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) questionou a operação da PM: “Até quando essa guerra miliciana irá ceifar a vida da juventude negra brasileira. Queremos justiça! Não só por Thiago, mas por todos aqueles que morreram inocentemente”, lamentou.

Em nota, a PM do Rio informou que a Corregedoria Geral vai “averiguar as circunstâncias da ação” e que “colabora integralmente” com as investigações conduzidas pela Polícia Civil. Conforme a polícia militar, os policiais envolvidos na ocorrência informaram que realizavam policiamento na esquina da Estrada Marechal Miguel Salazar com Rua Geremias “quando dois homens em uma motocicleta atiraram contra a guarnição”.

Ainda de acordo com o pronunciamento, após o confronto, “um adolescente foi encontrado atingido e não resistiu aos ferimentos”. Além disso, os PMs apreenderam uma pistola calibre 9mm. A área foi isolada e a Delegacia de Homicídios foi acionada. •