Em dinheiro vivo
Madame Bolsonaro recebeu depósitos em dinheiro vivo do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, enrolado em todos os escândalos da família do líder da extrema direita. Agora, a PF quer ouvir Michelle
A cada semana, a Polícia Federal vai abrindo uma picada na selva de falcatruas envolvendo Jair Bolsonaro e sua família. A prática da rachadinha — desvio de recursos para abastecer contas dos Bolsonaros — também envolve a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A PF apura a existência de um esquema de desvio de recursos e rachadinha no Palácio do Planalto. Foram identificados depósitos em dinheiro vivo para Madame Bolsonaro, realizados pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Ele está preso desde 3 de maio por suspeita de articular um esquema de fraude em certificados de vacinação do ex-presidente.
A defesa de Jair e Michelle Bolsonaro negou irregularidades e afirmou, em nota, que tem “absoluta convicção que todos os pagamentos referentes ao dia a dia da família eram feitos com recursos próprios”. Mas, as desculpas esfarrapadas dadas por Bolsonaro não convencem ninguém. “Esse dinheiro vivo era usado para pagar serviços pequenos”, tentou explicar. A defesa do ex-presidente afirma que os pagamentos em moeda corrente ocorriam para quitar serviços como manicure, cabeleireiro e padaria.
O UOL revelou os diálogos de Cid com assessoras de Michelle Bolsonaro nos quais ele demonstra preocupação com os pagamentos das despesas da então primeira-dama, porque poderiam resultar em acusações de “rachadinha”, e uma orientação para realizar despesas somente em dinheiro vivo. A Polícia Federal encontrou, em trocas de mensagens por WhatsApp, as imagens de sete comprovantes de depósitos em dinheiro vivo feitos por Cid, encaminhadas às assessoras da então primeira-dama.
“A análise também identificou seis comprovantes de depósitos para a primeira-dama Michelle Bolsonaro no período de 8/3/2021 até 12/05/2021, realizados por meio de depósitos fracionados em caixas eletrônicos de autoatendimento e um comprovante de depósito em espécie, possivelmente no atendimento presencial. Os comprovantes foram localizados tanto no grupo de WhatsApp da Ajudância de Ordens da Presidência da República, quanto em trocas de mensagens”, aponta a PF.
Os repasses totalizaram R$ 8.600,00. De acordo com a investigação, os depósitos usavam um método comum nos casos de rachadinha: eram feitos de forma fracionada, em pequenos valores, para impedir o alerta aos órgãos de controle e a identificação de irregularidades.
“Esses depósitos ocorreram predominantemente de forma fracionada, ou seja, o depositante ao invés de utilizar um único envelope com a quantia desejada, fracionou o valor total em dois envelopes distintos, realizando os depósitos de forma sucessiva em curto espaço temporal (minutos)”, diz a investigação.
Também foi encontrada uma transferência bancária de R$ 5.000, realizada em julho de 2021, feita diretamente da conta de Mauro Cid para a conta de Michelle. Por conta disso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a quebra do sigilo bancário de Mauro Cid e outros servidores que trabalhavam na Ajudância de Ordens da Presidência. A PF busca identificar outras transações suspeitas envolvendo a primeira-dama e o tenente-coronel. •