Um dos pais do Plano Real volta a criticar Campos Neto, que divulga ata com “recados ao governo”. Diz o economista: o Banco Central se considera quarto poder e quer enquadrar Lula e o Congresso Nacional

O Banco Central está completamente equivocado na condução da política monetária ao insistir na manutenção da Selic em taxas pornográficas de 13,75%. A avaliação foi explicitada na última quarta-feira, 29, pelo economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real. Ele aponta que o governo e o país correm riscos com a falta de responsabilidade do BC, que divulgou na terça-feira, 28, a última ata do Comitê de Política Monetária repleta de “recados” à equipe econômica e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Achei uma expressão impressionante da arrogância do BC de extrapolar sua competência, suas atribuições jurídicas”, disse o economista, sobre a ata do Copom. A declaração de Lara Resente veio na entrevista concedida pelo ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). “O BC [acha que é] quarto poder que dá lições de moral e se considera acima dos demais poderes. É muito preocupante”.

Lara Resende não apenas considera a política monetária conduzida por Roberto Campos Neto, presidente do BC, completamente equivocada, como nociva ao desenvolvimento do país. E mais. Ele diz que Campos Neto foi intoxicado por delírios de grandeza, ao interferir nas atribuições do Executivo e do Legislativo,  extrapolando as atribuições legais da instituição.

Ele lembrou as reais atribuições do BC: “Por lei, autonomia operacional para garantir a estabilidade de preço e sustentabilidade do sistema financeiro e o pleno emprego”, pontuou. “O BC não tem o que dizer sobre questão fiscal, não é atribuição do Banco Central. O BC está se arvorando com uma equipe de jovens tecnocratas que acreditam piamente nos modelinhos equivocados que eles estão olhando e se acham no direito de passar pito no Congresso, o presidente eleito e o Judiciário”, lamentou o economista. Sobre a política monetária, o economista apontou onde o Banco Central erra ao determinar a taxa de juros, justificada no patamar atual por um suposto temor inflacionário: “A inflação certamente não é de demanda no Brasil”, afirmou. •

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