Em 10 de fevereiro de 1980, no Colégio Sion, em São Paulo, sindicalistas e militantes se reuniam para fundar o partido que mudaria para sempre a história do Brasil e da América Latina

ORGANIZAÇÃO Lula e sindicalistas de todo o Brasil criaram um partido que transformaria a vida do Brasil

Nos estertores da ditadura militar, um grupo de sindicalistas, intelectuais, ativistas das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica e militantes de organizações de esquerda deram início a um movimento que mudaria radicalmente o panorama político no Brasil, na América Latina e no mundo. Em 10 de fevereiro de 1980, o manifesto do Partido dos Trabalhadores era aprovado na reunião de fundação da legenda no auditório do Colégio Sion, em São Paulo.

O PT nascia como um novo marco na luta pela democracia e por dias melhores para o povo brasileiro. À frente do movimento, estava o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assim como dirigentes sindicais como Olívio Dutra e Jacó Bittar, além de figuras históricas da esquerda brasileira, como Apolônio de Carvalho, ex-dirigente comunista que lutou contra o fascismo na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa, na 2ª Guerra Mundial.

O manifesto mostra o grau de compromisso da nova legenda com dias melhores para o povo brasileiro: “o PT surge da necessidade sentida por milhões de trabalhadores brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la”. A legenda ainda se propõe a mobilizar os trabalhadores da cidade e do campo não apenas nos períodos eleitorais e organizá-los para “construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores”.

Ali, em 1980, o Partido dos Trabalhadores nascia como a primeira legenda organizada após a reforma partidária que extinguiu o MDB e a Arena. A criação do PT surpreendeu a ditadura, que não contava com um partido de esquerda nascido de bases populares. E também surpreendeu setores da oposição que defendiam a formação de um partido social-democrata ou a permanência da esquerda no então PMDB.

O partido foi fruto da aproximação entre os movimentos sindicais da região do ABC, que organizaram grandes greves entre 1978 e 1980, e militantes antigos da esquerda brasileira, entre eles ex-presos políticos e exilados que tiveram seus direitos devolvidos pela Lei da Anistia, de 1979. Desde a fundação, o partido assumiu a defesa do socialismo democrático.

Como principal líder do PT, Lula vinha do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, que presidia e desde 1978 desafiava a ditadura à frente de grandes greves dos operários, que chacoalhou o regime militar. Figuravam entre os fundadores, intelectuais como o crítico de arte Mário Pedrosa, o crítico literário Antonio Candido e o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, historicamente ligados à luta pelo socialismo no país.

A criação do PT vinha sendo discutida desde outubro de 1978, quando Lula lançou a tese no 3° Congresso dos Trabalhadores Metalúrgicos, em Guarujá (SP). Na época, ele argumentava que os trabalhadores precisavam eleger seus próprios representantes no Congresso Nacional.

Em 13 de outubro de 1979, foi eleita a Comissão Nacional provisória do Movimento Pró-PT, coordenada por Jacó Bittar, presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas (SP). Dirigentes sindicais como o bancário gaúcho Olívio Dutra, o sem-terra maranhense Manoel da Conceição e o líder dos professores mineiro Luiz Dulci eram maioria na comissão. •

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