O ator, músico e apresentador Rolando Boldrin morre aos 86 anos. Ele foi um cultor das culturas regionais e populares do Brasil

 

Em 17 anos à frente do “Sr. Brasil”, programa semanal exibido pela TV Cultura, foram inúmeros os musicais abrigados pelo apresentador Rolando Boldrin, que morreu em 9 de novembro, aos 86 anos. Paulista de São Joaquim da Barra, Boldrin começou a carreira artística como apresentador na rádio local. Participou do início da TV brasileira, atuando na Tupi, nos anos 1950.

Trabalhou a vida inteira como ator, tanto no cinema quanto em televisão. Na telona, estrelou filmes de grandes diretores brasileiros, como João Batista de Andrade (“Doramundo”, 1978,  e “O Tronco”, 1999), Walter Lima Jr. (“Ele, o Boto”, 1987). Em seu último papel no cinema, em “O Filme da Minha Vida” (2017), foi dirigido e atuou ao lado de Selton Mello. Seu papel em “O Tronco” rendeu prêmio de ator coadjuvante no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. 

Nas diversas telenovelas nas quais participou, Boldrin destacava-se pela fala mansa, do sotaque paulista de interior que nunca perdeu e pela capacidade de contar histórias (ou “causos”). Fez novelas, sobretudo nas emissoras paulistanas, como a extinta Tupi (“Mulheres de Areia” (1975), Record (“O Profeta”, 1977) e na superprodução de Benedito Ruy Barbosa para a TV Bandeirantes “Os Imigrantes”, 1981.

O ano de sua última atuação em novela coincidiu com sua estreia como apresentador na TV Globo, em “Som Brasil”. Foi a partir desse programa que se delineou o estilo de Boldrin, um apresentador sempre simpático e receptivo, contador de histórias cheias de humor ingênuo e um sujeito interessadíssimo na cultura popular e regional brasileiras.

Compositor e excelente violonista, Boldrin interagia com músicos, artesãos, trupes de atores, com a naturalidade de quem conhecia a fundo esse e outros ofícios que compõem o enorme painel da cultura brasileira. Ainda que tenha vindo da enorme tradição da moda de viola caipira, também transitava pela MPB. Amigo de Renato Teixeira, revelou nomes como Almir Sater e Pena Branca & Xavantinho, entre outros.

Purista, rejeitava a música caipira de alto sucesso popular e preferia as velhas duplas — no “Som Brasil”, Ranchinho, sem Alvarenga, que já tinha morrido, tinha um quadro fixo. Ou artistas da MPB com raízes profundas nas músicas regionais, como Milton Nascimento, Egberto Gismonti e Elomar.

Uma frase de sua autobiografia mostra sua (quase) intransigência no que diz respeito à autenticidade de determinados estilos:  “A música caipira é a música do caboclo, purinha, sem influência nenhuma. Essa música sertaneja de alto consumo eu não considero música brasileira porque é produto de importação”.

Sua obra musical própria conta com  mais de 40 álbuns, incluindo ao vivos, tributos e CDs nos quais também conta histórias. Um de seus mais famosos bordões — “vamos tirar o Brasil da gaveta”, —além de ter sido tema de samba-enredo da escola de samba paulista Pérola Negra no Carnaval, representa com precisão sua trajetória pessoal e artística. •

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