Planalto reduz impostos...Mas só dos supérfluos

Com 33 milhões de brasileiros passando fome, o presidente diminui a taxação de coletes e jaquetas de motoqueiros e suplementos alimentares usados pelo pessoal das academias. Já a comida continua a disparada dos preços

 

O leite está mais caro que a gasolina? Pessoas andam deixando itens da cesta básica nos carrinhos de supermercado? Mais de 33 milhões de cidadãos passam fome? Para Jair Bolsonaro, nada disso interessa. O importante é que caíram os impostos incidentes sobre whey protein e acessórios para as claques das motociatas que o presidente promove pelo país. “Ajuda pessoal que malha”, justificou o inominável na live realizada na quinta-feira.

Na quarta-feira, 17, o Comitê-Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior alterou a alíquota de sete itens da pauta de importação brasileira por meio da inclusão dos produtos na lista de exceções à tarifa externa comum do Mercosul. A partir de setembro serão zeradas alíquotas de concentrados de proteínas e substâncias proteicas, complementos alimentares e coletes e jaquetas impermeáveis utilizados por motociclistas.

Imediatamente após anunciar as medidas, Bolsonaro começou a ser cobrado sobre reduções em alimentos que a maioria da população consome. E tentou se explicar no Twitter. “Por que não anuncia redução de imposto sobre alimentos? Por que (sic) já anunciamos há meses! Os impostos sobre itens da cesta básica têm sido reduzidos e zerados continuamente desde 2020 para combater os efeitos do ‘fica em casa que a economia vê depois’ e da guerra”, afirmou, mais uma vez distorcendo a realidade.

A redução da taxa de importação anunciada em maio para diversos produtos, inclusive alimentos, na prática não ajudou o consumidor, que continua pagando caro. Os maiores beneficiados foram o importador e o comércio, que aumentaram as margens de lucro, como aponta o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

O setor de alimentação e bebidas acelerou na pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O grupo teve a maior variação (1,30%) e impacto positivo (0,28 pontos percentuais) na inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho. O resultado foi puxado pelo leite longa vida, que subiu mais de 25%, e derivados como queijo (5,28%) e manteiga (5,75%).

Como alimentos são o principal gasto no orçamento das famílias mais pobres, elas são as mais prejudicadas pela carestia da comida. A disparada do preço da comida é causada principalmente pelo desmonte promovido pelo governo Bolsonaro nas políticas públicas de segurança alimentar desenhadas nos governos de Lula e Dilma.

“O governo desmontou todas as estruturas de silagem, de estoque reguladores de grãos, de arroz, feijão e não construiu nenhuma alternativa para a agricultura familiar, responsável por 70% do que o brasileiro põe à mesa. E a carne, somos o maior exportador do mundo”, afirma Fausto Augusto Junior, diretor-técnico do Dieese. •