Lula defende reindustrialização

Na Fiesp, ex-presidente reitera compromisso com os mais humildes e reiterou que a retomada do crescimento econômico e do desenvolvimento ocorrerá com Justiça Social

 

Entre os muitos encontros com diversos segmentos sociais, a reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empresários representados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), foi o ponto alto da última semana. “Nosso programa de governo passa por compreender que esse país precisa se reindustrializar”, disse. E voltou a reiterar seu compromisso com a criação de empregos para o povo. Ele disse que este é um compromisso do seu programa de governo.

Ao lado de Josué Gomes, presidente da Fiesp e filho de José Alencar, vice-presidente da República nos dois mandatos com Lula, o ex-presidente destacou a importância de o Estado atuar como agente do desenvolvimento. Ele ainda fez um panorama da situação atual do país, com instituições desacreditadas, sem respeito internacional e a volta da fome.

Lula afirmou que nenhum governo pode dar certo se não tiver credibilidade, estabilidade e previsibilidade. Durante seu pronunciamento perante os mais de 300 convidados da Fiesp, Lula lembrou que durante seus mandatos, de 2003 a 2010, a dívida do país foi reduzida de 65% do PIB para 40%. Foi no seu governo que o Brasil quitou a dívida com o Fundo Monetário Internacional.

“Ninguém quer desmontar o que está dando certo. O que a gente quer é fazer com que as coisas que não estão certas fiquem certas”, disse. “Se eu for eleito, a primeira coisa que vou fazer é reunir os 27 governadores para reconstituir o pacto federativo e pensar um pacote de infraestrutura com as principais obras que precisam ser feitas em cada estado. E vou ajudar os governadores a buscarem investimentos”.

O ex-presidente lembrou o legado de seus governos, com redução da dívida público, crescimento econômico com justiça social, maior fluxo de comércio exterior da história, investimento pesado em educação e criação de emprego e das reservas cambiais. E declarou que, naquela época, o país deu um salto de qualidade.

“Nós fizemos aquilo que a sociedade nos incentivou a fazer. Muitas das políticas públicas foram deliberadas no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Todas as políticas foram tiradas de 74 conferências nacionais. É por isso que o país deu certo”, afirmou, lembrando da importância da inclusão dos pobres no orçamento para dar jeito no país. “Nunca o país viveu um estágio de alegria coletiva como naquele período”.

Em discurso de abertura, o presidente da Fiesp sinalizou as demandas do setor. Josué Gomes ressaltou a necessidade de reindustrialização, considerando os avanços tecnológicos, a digitalização dos processos, a inteligência artificial e a questão climática. “A economia de baixo carbono é imperativa, tendo em vista a emergência climática que está aí a nos cobrar soluções. Não podemos ignorar tais mudanças e a esperada reindustrialização do país passa por essas questões e pelo desenvolvimento tecnológico”, afirmou.

O empresário ainda defendeu mudanças no sistema tributário, “anacrônico e burocrático”, para desafogar setores importantes da economia nacional. “A indústria de transformação representa 30% dos impostos arrecadados e só 11% do PIB”, disse, lembrando que o setor já foi responsável por 27% da riqueza produzida pelo país. Daí a necessidade de investimentos em infraestrutura.

Lula destacou que, em seu governo, o país assistiu à criação do maior projeto de infraestrutura da história do Brasil: o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Luka e ressaltou também a necessidade de o desenvolvimento respeitar a questão ambiental. “A economia de baixo carbono é uma necessidade para a competitividade e é um jeito de ganhar dinheiro também. Temos que discutir como tirar proveito das riquezas que a gente tem”

Lula anunciou que, se eleito, vai conduzir uma reforma na máquina pública. “Vamos ter de fazer uma reforma administrativa”, disse. “Tem pouca gente [em carreiras do setor público] ganhando muito e muita gente ganhando muito pouco. É preciso tentar fazer um equilíbrio”. Ele ainda acrescentou que há urgência na aprovação de uma reforma tributária, inclusive com a tributação de lucros e dividendos e aumento da taxação dos mais ricos.

Além das duas reformas, a sinalização para o agronegócio foi bem recebida após a aproximação da campanha do PT, via articulação do candidato a vice na chapa de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin, com o setor. Essa movimentação foca no grupo do agro que precisa para os seus negócios que o país avance nas causas ambientais após o retrocesso desencadeado pela ação criminosa do governo Bolsonaro.

A pedido de Lula, o presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante, que é coordenador do plano de governo do PT, e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente, também falaram aos empresários. Mercadante fez uma defesa da reindustrialização e do fortalecimento do Estado e deu ênfase à necessidade de atenção à questão climática.

Alckmin agradeceu à Fiesp por liderar a confecção de uma carta a favor da democracia e do Estado de Direito. Também acompanharam Lula no evento da Fiesp, entre outros, o economista André Lara Resende, ex-presidente do BNDES e um dos formuladores do Plano Real, em 1994. •