É a vida do povo, estúpido!

A sociedade brasileira enfrenta o maior vale-tudo eleitoral de todas as campanhas pós-redemocratização. Todas as regras foram rompidas. A farra fiscal do governo Bolsonaro em ano eleitoral acabou com a paridade de armas da disputa. O que vemos, sem qualquer reação das instituições, é praticamente uma compra de votos. E a avalanche de fake news bolsonaristas segue crescendo nas redes, com a mesma desenvoltura de 2018, com mentiras, calúnias e destilando o ódio na campanha.

Os exemplos vão desde o dinheiro, às vésperas das eleições, para abaixar o preço da gasolina ao aumento no auxílio emergencial, que Bolsonaro criticou no passado e que tinha acabado. Sem falar na liberação de dinheiro para segmentos específicos, sem precedentes em nossa democracia. Ou seja, um verdadeiro estelionato eleitoral.

Ademais, não há Estado Democrático de Direito sem instituições. E quando há uma disputa eleitoral, que envolve o Legislativo e o Executivo, o Judiciário tem a prerrogativa constitucional de coordenar o processo eleitoral. Mas, Bolsonaro agride sistematicamente o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral e as instituições, alguns juízes independentes, na tentativa de intimidar. Também segue colocando em xeque, mentindo sobre as urnas eletrônicas e questionando o resultado das eleições.

Entretanto, os atos em defesa do Estado Democrático de Direito e do sistema eleitoral brasileiro, em 11 de agosto, tiveram enorme capilaridade, aconteceram em todas as capitais do país, e envolveram amplos setores da sociedade, formando uma importante frente ampla de contenção à estratégia golpista de Bolsonaro. A carta em defesa da democracia, por exemplo, foi lida e divulgada por mais de 40 artistas nas redes sociais, além de ter ultrapassado a marca de mais de 1 milhão de assinaturas no dia dos atos. Foi o resgate da campanha democrática que derrotou a ditadura militar.

Para tentar reverter a enorme rejeição, Bolsonaro e aliados também voltaram a radicalizar o discurso na pauta dos costumes e dos valores anticivilizatórios. Exemplos dessa estratégia maniqueísta, típica de regimes autoritários, foi a declaração da primeira-dama de que o Palácio do Planalto já foi “consagrado a demônios” antes de Bolsonaro e a postagem mentirosa da ex-ministra Damares Alves afirmando que o governo Lula — o qual se refere como “governo das trevas” — incentivava o uso de drogas, inclusive crack, na juventude.

Nas redes, as respostas das instituições democráticas e do TSE seguem sendo tímidas e pouco eficazes. Com todas as provas disponíveis e o farto material recolhido da campanha de fake news e impulsionamento massivo com dinheiro ilegal, que ocorreram em 2018, nada de efetivo foi feito. E a mesma máquina criminosa segue operando nas redes.

Nesse contexto, é importante a oposição e a nossa candidatura não perderem o foco, que é a vida do povo. Apesar de toda essa montanha de recursos que está sendo despejada em nossa economia, o custo de vida segue muito alto, os preços dos alimentos e da cesta básica não se estabilizaram e 33 milhões de brasileiros ainda passam fome.

Com Bolsonaro, o salário-mínimo está novamente sendo arrochado pela inflação. Nos governos do PT, o salário mínimo  teve aumento real de 74%. Agora, a precarização do mundo do trabalho — em que mais da metade da classe trabalhadora não tem contrato com direitos, humilhada pela chamada carteira verde amarela — segue sendo uma dura realidade. A violência está por toda parte e 68 milhões de brasileiros estão inadimplentes porque não têm renda para honrar compromissos frente às taxas de juros e os juros elevadíssimos.

Portanto, o foco da disputa política é a democracia, a economia e a vida do povo. O estelionato eleitoral de Bolsonaro precisa ser enfrentado, não é sustentável, mas o foco da disputa é a dura vida do povo. As medidas apresentadas geram uma sensação de alívio a curto prazo, mas foram feitas para durarem até a eleição. Não há perspectiva de retomada de crescimento sustentável, de melhoria da distribuição de renda, de resgate das políticas educacionais e de saúde como foram nos governos do PT.

Em breve, começarão os eventos de campanha e o horário eleitoral de rádio e de televisão. Essa será a oportunidade de apresentarmos não só a força do nosso legado, mas, sobretudo, os projetos inovadores e portadores de futuro que irão tirar o Brasil do atoleiro deixado por Bolsonaro, devolvendo a renda, a dignidade, a justiça social, a soberania, a sustentabilidade e a esperança do nosso povo.

Como venho defendendo, falta pouco tempo e o país está em uma encruzilhada histórica. O pleito de outubro próximo é muito mais do que uma eleição, ainda que alguns candidatos não tenham se dado conta disso. Precisamos da força da nossa militância apaixonada mobilizada nas ruas e nas redes.

Há uma frase clássica sobre eleições: “é a economia quem decide, estúpido”. Precisamos colocar todo o foco na vida do povo. É a fome, o desemprego, o custo de vida, as perdas criminosas de vidas pelo negacionismo na pandemia, o abandono e deterioração da educação pública, a violência, é a pobreza que está em cada esquina e em toda parte.

O único caminho para derrotar essa devastação, esse isolamento do Brasil no concerto das nações, esse negacionismo autoritário e todos os valores anticivilizatórios de Bolsonaro é eleger Lula presidente. E é com o espírito de reconstruir o Brasil, que cumpriremos essa missão histórica.

É Lula, lá! •