Petrobrás distribui R$ 136 bilhões de lucro
Após distribuir R$ 48,5 bilhões pelo primeiro trimestre, estatal anuncia mais R$ 87,8 bilhões. “PPI é para agradar aos acionistas em detrimento de 215 milhões de brasileiros”, critica Lula
O povo brasileiro vai mal, mas o governo está bem. Enquanto um desesperado Jair Bolsonaro jura no Twitter que “o Brasil terá uma das ‘gasolina’ (sic) mais barata do mundo”, a Petrobrás elevou sua farra de dividendos ao máximo. Na quinta-feira, 28, a estatal anunciou lucro de R$ 54,3 bilhões entre abril e junho. E resolveu fazer benemerência, anunciando a antecipação de R$ 87,8 bilhões em dividendos referentes aos resultados do segundo trimestre.
O anúncio recebeu críticas da presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR): “Mais uma leva de altos dividendos da Petrobras e desta vez os acionistas privados vão receber R$ 87,8 bilhões! É absurdo isso. O povo paga gasolina cara e também o aumento em cadeia dos produtos. Bolsonaro não resolve e ainda tira dinheiro dos estados pra tentar baixar o preço”.
O ex-presidente Lula reforçou as críticas: “É importante lembrar que no nosso governo descobrimos o pré-sal e não foi sorte, foi investimento em pesquisa. Foi um desafio que nos colocamos para fazer com que o Brasil fosse definitivamente autossuficiente”, ressaltou.
Os lucros exorbitantes da Petrobrás no segundo trimestre se somará aos R$ 48,5 bilhões distribuídos em julho e junho em remuneração aos acionistas pelos resultados do primeiro trimestre. No total, a petroleira que vem sendo desmantelada pelo governo, já distribuiu R$ 136,31 bilhões em dividendos neste primeiro semestre. Muito acima dos R$ 101,39 bilhões entregue no ano passado, que já haviam sido um recorde na história da empresa.
A “mágica da multiplicação” veio do Conselho de Administração da Petrobrás, que aprovou remunerar os acionistas a R$ 6,73 por ação. Ou quase o dobro dos R$ 3,71 pagos pela empresa por ação na distribuição dos dividendos do primeiro trimestre.
“É um escândalo a diretoria da estatal pagar aos acionistas quase R$ 7 por ação e reduzir apenas 15 centavos no litro da gasolina, cujos preços abusivos têm impacto na inflação e na vida de todos os brasileiros”, critica o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
Pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Eduardo Costa Pinto afirma que boa parte deste “superlucro” resulta da alta dos preços dos combustíveis no mercado interno, que respondem por 74% dos lucros totais da empresa.
Em três anos e meio de desgoverno Bolsonaro, a política de Preços de Paridade de Importação (PPI), adotada em 2016, sob o governo de Michel Temer — e mantida pelo sucessor —, já resultou em aumentos de mais de 155% na gasolina e de 203% no diesel comercializados pelas refinarias da Petrobrás.
Na comparação com o segundo trimestre de 2021, o preço médio dos derivados vendidos pela estatal teve alta de 55%. O economista ressalta ainda que o anúncio ocorre logo após a equipe econômica de Bolsonaro pedir a contribuição das estatais para fechar as contas deficitárias do Executivo.
Costa Pinto chamou de “butim” esses quase R$ 88 bilhões a serem distribuídos em agosto e setembro, às vésperas das eleições. “Em apenas um trimestre, a empresa vai distribuir aos acionistas cerca de 20,5% do seu valor (R$ 428,7 bilhões)”, aponta. “Deste total, R$ 35,5 bilhões vão para acionistas estrangeiros, R$ 32,5 bilhões para o governo e R$ 20,7 bilhões para os acionistas privados nacionais”.
A “farra dos dividendos”, acrescenta Deyvid Bacelar, ocorre às custas da política de preços abusivos, das privatizações e dos cortes de investimentos. “É um verdadeiro saque ao patrimônio público. Estão raspando os cofres da Petrobrás, ao apagar das luzes desta gestão entreguista, algo sem precedentes na história da empresa”, alerta.
Nos primeiros seis meses deste ano, a Petrobrás registrou um ganho de R$ 98,891 bilhões, alta de 124,6% em relação ao mesmo período de 2021. Ao mesmo tempo, encolheu os investimentos ao piso histórico. No trimestre passado, os investimentos totais da empresa somaram R$ 9,2 bilhões.
Assim, a participação da estatal na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – índice que mede os investimentos totais no país – caiu para 2,2%, menor nível da série histórica. Nos dois anos anteriores, esse índice ficou em 3,8%. Em 2009, a Petrobras chegou a responder por 11,1% dos investimentos no Brasil.
Essa corrida ao superlucro de curto prazo está conduzindo a Petrobrás para o abismo, acusa o senador Jean Paul Prates (PT-RN). Líder da Minoria, ele diz que Bolsonaro trata a Petrobrás de forma “criminosa”. “O que vai ser a Petrobrás em 30 anos, quando esse petróleo do pré-sal talvez entre em declínio? Onde ela colocou investimento?”, questiona.
“Os acionistas deveriam olhar a Petrobras e dizer: ‘Nossa, essa empresa está indo para o abismo’. Porque ela está puxando óleo do pré-sal, cada vez mais; não tem projeto de transição energética nenhum; vendeu o pé dela no mercado brasileiro, que era a BR Distribuidora; vendeu os gasodutos que davam a ela vantagem competitiva; vendeu refinarias e estão tentando vender, aceleradamente, mais três ou quatro, a preço de banana”, descreveu. O parlamentar é um dos responsáveis por elaborar a política energética a ser implementada por Luiz Inácio Lula da Silva, caso ele vença as eleições. •