Um predador na Caixa Econômica
CEO do maior banco estatal brasileiro cai em meio às denúncias de assédio sexual movidas por funcionárias da instituição. Pedro Guimarães é próximo da família Bolsonaro
Em meio à mais grave crise social brasileira no século 21, engolfado por novas denúncias de corrupção, o governo Bolsonaro conseguiu produzir um escândalo sexual. Na última quarta-feira, 28, o site Metrópoles revelou que o economista Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal, dileto amigo e confidente do presidente da República e dos filhos, que sonhou em ser companheiro de chapa do ex-capitão nas eleições de outubro, é um predador sexual. E está fora do governo.
Na quinta-feira, Pedro entregou a carta de demissão, aceita pelo presidente. O CEO da Caixa está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por denúncias de assédio sexual feitas por funcionárias do banco. Ele nega as acusações. “É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”, disse na carta de demissão. Difícil acreditar. A exoneração foi publicada na quinta-feira no Diário Oficial da União.
Aos 51 anos, casado com Manuella Pinheiro Guimarães, filha do ex-diretor da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, Pedro assumiu a presidência da Caixa Econômica Federal logo após a posse de Bolsonaro, em 2019. Desde então, tornou-se um dos integrantes do governo mais próximos do presidente e figurinha fácil nas lives semanais do líder da extrema-direita nas redes sociais.
Carioca, Pedro Maluco, como era conhecido no mercado financeiro antes de chegar a Brasília, causou polêmica por aparecer em vídeos ordenando que empregados da Caixa fizessem flexões durante cerimônias públicas. Há um mês, tornou-se alvo de investigação do Ministério Público Federal por denúncias de assédio sexual dentro do banco.
O Metrópoles revelou que, no fim do ano passado, um grupo de funcionárias decidiu romper o silêncio e denunciar as situações pelas quais passaram na instituição, com relatos devastadores sobre os ataques feitos por Pedro Guimarães. Todas trabalharam em equipes que servem ao gabinete do presidente da Caixa.
Elas denunciaram que Guimarães abusava e as constrangia de todas as formas, em investidas sexuais, com direito a toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites heterodoxos, incompatíveis com o que deveria ser o normal na relação entre o presidente do maior banco público brasileiro e trabalhadoras.
Vários dos testemunhos estão relacionados a viagens realizadas por Pedro Guimarães como parte do programa Caixa Mais Brasil, criado para dar visibilidade ao banco pelo país afora. Desde janeiro de 2019, foram realizadas mais de 140 visitas a cidades de todas as regiões. Guimarães visitou agências, reunindo-se com autoridades municipais e estaduais, conhecendo in loco projetos sociais financiados pelo banco. As viagens aconteciam principalmente nos finais de semana.
Desde a queda de Pedro Maluco, o presidente Jair Bolsonaro não se pronunciou sobre as denúncias que levaram ao pedido de demissão. A presidência da Caixa Econômica Federal será ocupada por Daniella Marques, secretária Especial de Produtividade e Competitividade do ministério da Economia. Ela é tida como braço-direito do ministro Paulo Guedes. •