Um acordo para o Equador

Associações indígenas que lideraram protestos arrancam do governo equatoriano acordo que reduz o preço dos combustíveis. O presidente Guillermo Lasso consegue escapar do impeachment

 

O governo do Equador e o principal grupo indígena do país chegaram a um acordo na quinta-feira, 30, para encerrar 18 dias de greves que paralisaram o país. Pelo menos quatro pessoas morreram durante os confrontos. O presidente Guillermo Lasso conseguiu evitar o impeachment e acordou a redução do preço do combustível e outras concessões. O acordo foi assinado pelo ministro de governo, Francisco Jiménez, o líder indígena Leonidas Iza e o chefe da Conferência Episcopal, monsenhor Luis Cabrera, que atuou como mediador.

O acordo estabelece que os preços da gasolina diminuirão 15 centavos para US$ 2,40 por galão e os preços do diesel também cairão na mesma quantia, de US$ 1,90 por galão para US$ 1,75. O governo concederá US$ 340 milhões por ano em subsídios para baixar os preços dos combustíveis. O acordo também estabelece limites para a expansão das áreas de exploração de petróleo e proíbe a atividade de mineração em áreas protegidas, parques nacionais e fontes de água.

O governo tem agora 90 dias para entregar soluções às demandas dos grupos indígenas. “A paz social só poderá ser alcançada, espero que em breve, através do diálogo com atenção especial às comunidades marginalizadas, mas sempre respeitando os direitos de todos”, disse o líder religioso. Ele alerta que, “se as políticas estatais não resolverem o problema dos pobres, então o povo se levantará”.

O governo fez concessões e recuou ainda na repressão e admitiu que a situação é delicada. “Sabemos que temos um país com muitas divisões, muitos problemas, com injustiças não resolvidas, com importantes setores da população ainda marginalizados”, disse Jiménez.

Os dois lados iniciaram negociações na segunda-feira e um acordo parecia estar ao alcance até que um ataque supostamente realizado por indígenas contra um comboio de combustível matou um oficial militar e deixou outros 12 feridos, levando o governo a abandonar as negociações. As autoridades atribuíram diretamente quatro mortes à greve de 18 dias.

A Confederação das Nacionalidades Indígenas havia lançado uma greve nacional por tempo indeterminado em 13 de junho, exigindo a redução do preço do combustível e aumento do orçamento de saúde e educação, além de controles de preços de certos bens, entre outras demandas.

Em meio à crescente escassez de alimentos e combustível e milhões em perdas para agricultores e líderes empresariais, os dois lados concordaram em iniciar negociações.

Os protestos foram caracterizados por bloqueios rigorosos nas estradas que impediram o transporte de alimentos, combustível e até ambulâncias. Como resultado, houve um forte aumento no preço dos alimentos que conseguiram chegar às cidades, principalmente no norte andino, uma das áreas mais afetadas pela greve.

O Equador tem um histórico de destituição de governantes em meio a mobilizações lideradas pelos indígenas —três presidentes foram retirados do cargo de 1997 a 2005 em movimentos semelhantes. As manifestações ajudaram a desidratar a gestão do antecessor de Lasso, Lenín Moreno. Milhares de indígenas foram às ruas, também devido ao preço do combustível, e o forçaram a recuar em vários pontos. A situação foi agravada na pandemia, e ele nem sequer buscou a reeleição. •