Desmonte da Petrobrás prejudica a economia nacional e precisa ser revisto antes que seja tarde demais, apontam especialistas em seminário setorial

 

A estratégia empresarial da Petrobrás, que hoje prioriza lucro e dividendos em curto prazo, deve sofrer mudanças e reorganizar a sua relação com o setor privado, principalmente nos segmentos nos quais a saída da estatal aumentou a fragilidade do parque produtivo nacional.

Esta é a avaliação do ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli, exposta no seminário Diálogos pelo Brasil, na quarta-feira, 29, sobre o setor de petróleo e gás, com as participações ainda de José Maria Rangel, Magda Chambriard e Rodrigo Leão.

“O atual governo renunciou ao uso de instrumentos importantes no combate à inflação, a começar pela política de preços de combustíveis, além do abandono de políticas setoriais indutoras do aumento da produção de bens críticos”, apontou Gabrielli. “Em contrapartida, implementa uma política de juros altos, que freia a recuperação econômica e agrava o desemprego, mas com pouco impacto na inflação, gerada basicamente por choque de custos”.

Magda Chambriard fez uma avaliação sobre gás natural e regulação brasileira. Para ela, o importante é lembrar que abastecimento é questão de segurança nacional. “Temos que ter uma estatal apta a trabalhar e oferecer resultados, com transparência e sintonia com os interesses nacionais”, destacou.

Ela observou que o Brasil já produz o suficiente desde 2015, mas como não tem mais estrutura na distribuição, acaba comprando gás importado. “Associar demanda de gás a consumos térmicos mais inflexíveis são essenciais para que a gente possa fazer melhor uso do nosso gás e gerar emprego e renda no país”, disse. “A redução de importações tem a ver com mudança na paridade do preço internacional”.

Para Chambriard, a Petrobrás precisa fazer o que a indústria privada não quer fazer. “Ela não pode deixar de prestar atenção às necessidades do país. A empresa tem que contribuir com a expansão de infraestrutura. Nesse momento, nossa carência infraestrutural é muito grande para atrair interesse privado”, explicou.

Coordenador do setorial do PT de energia e recursos nacionais,  José Maria Rangel iniciou sua participação questionando a atual política de preços. “A desculpa usada era aumentar o parque de refino, mas isso tem trazido prejuízo para a sociedade, proporcionado aos acionistas lucros absurdos”, destacou. Ele defendeu que as futuras decisões passem por referendos nacionais.

Professor da UFRJ e diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos sobre o Petróleo, Rodrigo Leão voltou a apontar afronta à soberania nacional,  defendendo energia limpa e a construção de uma nova matriz energética.

“Estamos sofrendo as consequências da conjuntura internacional e das políticas atuais do Brasil, que reforçaram a estratégia que faz a sociedade brasileira pagar muito caro. Todo esse processo fez o país ficar mais dependente. Precisamos resgatar o desenvolvimento a partir da soberania energética”, destacou. •