O Brasil perde Jacó Bittar
Ex-presidente Lula lamenta a morte de ex-prefeito de Campinas, que foi um ativo militante sindical, fundador do PT e da CUT e dirigente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Paulínia
O Brasil e o movimento sindical perderam, na última quinta-feira, 26, o ex-prefeito de Campinas e fundador do PT Jacó Bittar (PSB). Ele faleceu aos 81 anos em sua casa, no interior de São Paulo. Ele vivia em Campinas, cidade que administrou entre 1989 e 1992, ainda no PT, e tinha mal de Parkinson. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que era amigo de Jacó desde os anos 70, lamentou a passagem do sindicalista.
“Foram anos e anos de luta juntos por um país melhor e mais justo, e de uma convivência querida e carinhosa, uma grande amizade entre nossas famílias e filhos”, disse Lula, em nota. “Jacó deu uma contribuição imensa para os petroleiros, a classe trabalhadora, Campinas e o Brasil”.
Bittar participou da primeira grande leva de prefeitos eleitos pelo PT durante a redemocratização. Ele foi eleito para a Prefeitura de Campinas, maior cidade do interior, em 1988, quando Luiza Erundina (hoje PSOL) e Telma de Souza (PT) ganharam na capital e em Santos, respectivamente.
O ex-prefeito de Campinas e sindicalista ficou no partido até 1991, em meio a desavenças com o vice, Toninho, que se tornaria prefeito da mesma cidade em 2001 e foi assassinado no cargo. Bittar se mudou para o PSB, mas a amizade com antigos companheiros seguiu.
Ele era o dono formal do sítio de Atibaia, frequentado pelo ex-presidente e que gerou uma das condenações de Lula na Lava Jato em 2018, anulada pelo Supremo Tribunal Federal, no ano passado.
À época, seu nome e do seu filho, Fernando, chegaram a ser sondados pela operação comandada pelo então juiz Sergio Moro. Bittar afirmou que o sítio era dele e que Lula tentou comprá-lo, mas a propriedade não foi vendida.
“A partir de 2014, o Lula teve algumas conversas comigo e com o Fernando dizendo que queria comprar o sítio porque o usava mais do que nós e se sentia constrangido com a situação”, declarou, em 2018. “Eu sempre fui contra a venda e disse que eles poderiam usar o quanto quisessem e que isso me deixava feliz”. Desde aquela época, Bittar defendia Lula no processo e relatou a amizade, no documento.
“Tenho os filhos do Lula como se fossem meus próprios filhos e sei que ele tem o mesmo sentimento e relação com meus filhos”, contou o ex-prefeito na manifestação anexada ao processo. Lula o visitou em sua casa em maio. “Emocionei-me em ver meu amigo sem saber que seria pela última vez”, disse o ex-presidente.
Jacó Bittar liderou com Lula e [o ex-governador gaúcho] Olivio Dutra uma geração de jovens dirigentes sindicais que resistiram à ditadura militar e escreveram páginas decisivas na história da democracia brasileira. •