Mais uma chacina no Rio
Durante incursão de tropas do Bope em favela, pelo menos 23 pessoas foram mortas. A operação já é uma das mais mortíferas do governo Cláudio Castro. E Bolsonaro comemora: “Parabéns aos guerreiros que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico”
A Polícia Militar carioca continua a cometer erros fatais durante suas incursões para reprimir o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Na terça-feira, 24, pelo menos 23 pessoas foram mortas a tiros e sete ficaram feridas durante uma operação do Bope na favela Vila Cruzeiro, que deveria capturar os líderes do narcotráfico. A tragédia chocou o Brasil e ganhou repercussão internacional.
O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ) abriram procedimentos investigatórios para apurar a conduta dos policiais na operação. Defensores públicos estiveram na comunidade. O governador Cláudio Castro (PL) comentou o episódio: “Política de segurança no Rio de Janeiro, infelizmente, exige do poder público demonstração de força e autoridade. Confronto, numa palavra. Coragem, noutra”.
As mortes incluíram uma mulher atingida por uma “bala perdida” no que a polícia chama de troca de tiros entre membros de gangue e policiais na favela Vila Cruzeiro. O presidente Jair Bolsonaro comemorou. Ele agradeceu aos policiais da PM. “Parabéns aos guerreiros do Bope e da PM do Rio que neutralizaram pelo menos 20 marginais ligados ao narcotráfico em confronto”, escreveu, em seu perfil no Twitter.
Ex-governadora do Rio, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) pediu um basta à truculência da polícia. “O que se faz no Rio de Janeiro, como disse infelizmente o jornalista Reinaldo Azevedo, ‘é oferecimento de carne preta aos canibais em ano eleitoral”. É o que fez o governador Cláudio Castro, com apoio policial e motivação do governo Bolsonaro (PL), propagador do ódio contra os mais pobres, que são as principais vítimas do despreparo das polícias e do armamento indiscriminado”, denunciou.
O número de mortos coloca o incidente entre as operações policiais mais mortíferas do Rio. Acontece um ano depois de uma batida na favela do Jacarezinho ter deixado 28 mortos, provocando denúncias de abuso e execuções sumárias. O episódio provocou protestos e também reacendeu o debate sobre o uso adequado da força policial no Rio.
Os promotores públicos do estado do Rio disseram em comunicado que abriram uma investigação criminal. Eles deram 10 dias para a PM fornecer detalhes sobre a operação, indicando quais soldados foram responsáveis por cada morte e a justificativa para o uso da força letal, segundo o comunicado.
A operação foi realizada em conjunto pela Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, que mão tem jurisdição para isso. A polícia apreendeu 16 veículos, 13 fuzis automáticos, além de pistolas e granadas, segundo o comunicado do Bope.
A mulher morta foi identificada como Gabriele Cunha, de 41 anos, atingida por uma bala perdida apesar de morar em uma favela vizinha chamada Chatuba. As escolas não abriram para as aulas.
No início do ano, o Supremo Tribunal Federal estabeleceu uma série de condições para a polícia realizar batidas nas favelas do Rio como forma de reduzir os assassinatos cometidos pela polícia e as violações dos direitos humanos.
O tribunal decidiu que a força letal deve ser usada apenas em situações em que todos os outros meios tenham sido esgotados e quando necessário para proteger a vida, e deu à polícia 180 dias para instalar dispositivos de gravação de áudio e vídeo em seus uniformes e veículos.
Segundo o secretário da Polícia Militar, coronel Luiz Henrique Marinho, a operação ainda estava em planejamento, mas foi antecipada diante da suspeita de que os traficantes estariam preparando a invasão de outra comunidade. Segundo ele, a polícia foi recebida a tiros e “houve confronto”. •