Entrevista José Guimarães – “ESTA SERÁ A ELEIÇÃO DAS NOSSAS VIDAS. O BRASIL CORRE RISCO”
Coordenador do Grupo Tático Eleitoral do PT, o deputado cearense aposta na vitória da democracia sobre o bolsonarismo. Ele explica que, além da vitória de Lula na eleição presidencial, os progressistas precisam garantir uma boa bancada no Congresso para mudar a correlação de forças. “Tudo o que construímos está em jogo: a democracia e os direitos do povo”
Deputado federal pelo PT do Ceará, José Guimarães atua na coordenação das articulações eleitorais do Partido dos Trabalhadores. A aliança feita com sete partidos é a maior da história da legenda e tem como objetivo principal a eleição presidencial para fazer Luiz Inácio Lula da Silva ser reconduzido ao Palácio do Planalto.
A segunda prioridade, de acordo com o parlamentar, é eleger uma forte bancada na Câmara Federal. Alterar a correlação de forças no Congresso é uma tarefa fundamental deste processo eleitoral. Não há outra forma de promover uma reconstrução do país. “O PT tem que eleger, no mínimo, 80 a 90 deputados e deputadas”, diz. A esperança é que a aliança faça mais de 200 cadeiras na Câmara.
Apesar de reconhecer as dificuldades do atual período eleitoral, Guimarães se mostra otimista quanto à possibilidade de anunciar o ingresso de mais alguns partidos no movimento Vamos Juntos Pelo Brasil. O PSD seria um deles.
Parlamentar há 15 anos, ele viveu intensamente as campanhas difamatórias e a perseguição contra o PT. Durante o Golpe de 2016, era o líder do governo Dilma na Câmara. Muito consciente sobre a resiliência do PT e do ex-presidente Lula, o deputado brinca: “Vergou, mas não quebrou, como se diz lá no meu Ceará”.
Enquanto figuras que perseguiram o PT, Lula e Dilma estão entrando para o “lixo da história”, o PT demonstra maturidade diante de um enorme desafio. “Esta é a eleição das nossas vidas porque tudo o que nós construímos está em jogo”, afirma José Guimarães. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista à Focus Brasil:
Focus Brasil — Há possibilidade de Lula crescer mais e vencer as eleições no primeiro turno?
José Guimarães — O debate eleitoral foi antecipado não por conta de uma decisão do PT ou do Lula, mas em função da realidade econômica e social do país. O Brasil está numa crise tremenda, enorme, em todas as dimensões: ambiental, política, social, desemprego… Em todos os quadrantes, estabeleceu-se uma crise de grande envergadura e isso obrigou a sociedade a se mobilizar por conta de uma questão que eu considero que… Nós fizemos um esforço muito grande para puxar o “Fora, Bolsonaro!” no auge da crise da pandemia.
A população percebeu o seguinte: o Brasil tem uma tradição de resolver a crise pelo voto. É uma tradição da República. Não é essas coisas exóticas que de uma hora para outra dá aquele estalo. Não. A população quer ter segurança. Então, ela fez uma opção — ainda que a esquerda não goste de dizer, mas eu vou dizer, categoricamente — ela fez uma opção de resolver o problema pelo voto. “Deixa ele aí, não temos força, não temos voto no Congresso para cassá-lo. Vamos empurrar tudo para a eleição”.
Por isso que o debate eleitoral foi antecipado e é a partir disso que estabeleceu-se essa polarização. “Ah, é uma polarização entre o Lula e o Bolsonaro porque o PT quer isso ou porque o Bolsonaro quer isso”… Não se trata disso. A polarização é em função da brutal crise que o Brasil vive. E a sociedade brasileira, pelo menos 50% dela, no momento, enxerga que o caminho para derrotar Bolsonaro é o voto. E, ao mesmo tempo, escolher um caminho, uma liderança que se posicionou bem dentro dessa ideia da reconstrução do país. Por isso, Lula lidera as pesquisas e é esse enfrentamento que nós vamos ter. A crise não será diminuída nesses cinco meses que precedem o processo eleitoral. Vejo que a depender da movimentação que fizermos a partir de agora… Até agora acertamos muito, eu considero. Nós tivemos há duas semanas um acerto brutal. O ato em São Paulo de lançamento, o conteúdo, o jeito que foi feito e a entrada do [Geraldo] Alckmin na campanha deu muito simbolismo. Isso dialogou com o país. As pessoas estão enxergando. Por isso, talvez, não descarto a vitória no primeiro turno. Eu não descarto.
A partir de agora nós temos que consolidar esse movimento “Vamos juntos pelo Brasil”. Estava conversando com o pessoal do Rio Grande do Sul sobre a agenda do Lula, lá. Temos que agregar todos os atores e dialogar com o país. O movimento “Vamos Juntos pelo Brasil” dá amplitude, legitimidade à chapa Lula e Alckmin. E é ela que vai mobilizar amplos setores que não são parte daqueles vinculados ao PT. Por isso que eu considero que a eleição pode ser resolvida no primeiro turno. A questão central é ganhar a eleição. E, para isso, temos que ter quatro ingredientes que são fundamentais. Primeiro, uma ampla aliança. Além dos sete partidos, temos que lutar para ampliar a aliança. Pelo menos parte do MDB… Eu defendo a tese de que nós deveríamos fazer de tudo para trazer o PSD do [Gilberto] Kassab já para o primeiro turno. Eu trabalho, como coordenador do GTE [Grupo de Trabalho Eleitoral do pT], muito nessa dimensão.
Segundo, apresentar os eixos centrais do Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil. Algumas ideias que mobilizem o país para pôr fim a esse desastre econômico e social que vivemos. Terceiro elemento, acertamos em escolher um vice que simbolizasse isso. Fizemos bem. É a primeira vez que eu vejo um vice ir para um encontro nacional como foi aquele em São Paulo, daquela dimensão, com 5 mil militantes, e ser aplaudido de pé. Alckmin fez o discurso concatenado, vinculado ao Lula. O grau de identidade dos dois e da postura do Alckmin foi surpreendente. E o quarto elemento é a campanha na rua. Temos que ir para a rua. Temos que estar nas redes… Evidentemente, a comunicação da campanha tem força central, mas ela será decidida nas ruas. Por isso que precisamos de uma boa aliança, com os eixos centrais do programa de reconstrução, que fale do legado, do presente e do futuro. Com a campanha na rua, podemos resolver a parada no primeiro turno. É uma eleição dura. Não será fácil. Eles têm base organizada, o bolsonarismo está implantado no Brasil e temos que derrotá-lo globalmente, a partir da figura dele e dos filhos e dessa base bolsonarista que está dentro e fora do Congresso.
— Os palanques já estão sendo montados na perspectiva da construção da governabilidade para 2023?
— Uma preliminar que para mim é central para essa governabilidade… Eu vivi esse drama, fui líder da Dilma quando ela foi “impeachmada”. Tem duas coisas que precisamos olhar com absoluto cuidado. Para construir a governabilidade, temos que ter base no Congresso e movimento e base social organizados. O PT não pode deixar de ter menos de 80 a 90 deputados federais. Senão, não desconstitui a força do centrão aqui dentro. E vamos ter que dialogar com o Centrão após a eleição, evidentemente. Temos que ter força social. Na base social, na base popular, os comitês de luta podem jogar um papel importante para vencer a eleição e para o futuro. O PT está cuidando com todo o carinho naquilo o que o Lula e a legenda definiram como prioridade. Prioridade número um: a eleição do Lula. É a centralidade. Ela dirige, aglutina e consolida tudo. Número dois: eleição de deputados e deputadas, senadores e, num terceiro nível, governadores e deputados estaduais.
Se a gente hierarquiza isso, dá conta do imperativo que é ter força dentro do Congresso. Se essa é uma prioridade, temos que eleger no mínimo 80 deputados. Não pode ter menos. Tem que puxar voto para nossa federação — PT, PCdoB e PV — e para os partidos que estão na aliança. É preciso que a campanha dê conta disso e não só de puxar voto para o Lula. A pior coisa é você chegar num sindicato e a turma toda fala “ah, votar no Lula”, sim, mas vota ou não nos deputados do Lula? A comunicação da campanha tem que dar conta dessa dimensão porque está relacionado com a governabilidade futura. A segunda questão, temos feito um esforço muito grande. Somos 13 membros do GTE, que é coordenado por mim e pela Gleisi [Hoffmann]. Temos muitos dos palanques estaduais já definidos. No Nordeste, com exceção do Ceará — que tem uma questão a ser definida até o final do mês — os demais estão acertados. Em Pernambuco, acabamos de definir PT no Senado e PSB para o governo. Tem a reeleição da Fátima [Bezerra] no Rio Grande do Norte. Em Sergipe, o Rogério Carvalho. Agora, o candidato à reeleição de Alagoas, que é o presidente da Assembleia, foi eleito e já anunciou apoio ao Lula. E tem o Ceará, que vamos com Izolda [Cela] que assumiu o governo e, se o PDT não quiser, vamos por outro caminho, podendo até ter candidato próprio. Mas o plano A lá é a Izolda.
No Sul, temos pendências a resolver, mas, por incrível que pareça, no Sul e Sudeste é o melhor momento que o PT está vivendo do ponto de vista eleitoral. São Paulo? Imagina se nós ganharmos a eleição lá, está resolvido nosso problema do ponto de vista da governabilidade via os estados. É o maior estado do Brasil. Estamos muito bem com [Fernando] Haddad. Estamos indo bem no Paraná, com o [Roberto] Requião, em Santa Catarina, com o Décio Lima; e no Rio Grande do Sul, temos uma polêmica que envolve PT, PCdoB, PSB e PSOL. Há a busca pela construção da unidade lá e isso não está resolvido, mas estamos trabalhando. Em Minas Gerais, temos o caminho. Espírito Santo, a ideia de aliança com o atual governador está caminhando. No Rio de Janeiro, a coisa está meio desestabilizada, mas eu já aproveito para informar que fizemos uma reunião importante e reafirmamos, com todas as ponderações, a aliança [Marcelo] Freixo e André Ceciliano. Não há duas candidaturas ao Senado, ou três candidaturas ao Senado. Vamos apresentar para o PSB essa chapa, esta configuração política. É claro que o Lula tem que se relacionar com outras forças e candidaturas que desejam apoiá-lo no Rio, mas esse é o segundo momento.
O Norte tem uma ou outra pendência, mas diria que temos o quadro bastante avançado. Temos dez candidatos a governadores, nove candidatos ao Senado que estão dentro das nossas prioridades. É claro que vai ter o momento do “fecho final”. O encontro nacional foi adiado, mas penso que se tem uma eleição que estamos cumprindo à risca essa centralidade que é a eleição do Lula. Temos 27 candidatos a governador, com oito ou dez nos 27 estados. Isso é a prioridade. A prioridade é a disputa nacional. Segunda prioridade, deputados. Terceira prioridade, senadores e depois vêm os governadores. Pra mim, se ganharmos a eleição e elegermos no mínimo 80 deputados federais e o [Fernando] Haddad em São Paulo, os demais estados que nós elegermos é um baita saldo. Imagina, mantermos Bahia, Piauí, Rio Grande do Norte, resolvermos bem o Ceará, Sergipe e mais agora aqui no Sul? Nossa, vejo que o momento é bom e que precisamos ter um partido organizado, mobilizado e potentemente disposto a fazer o enfrentamento nas ruas com o bolsonarismo.
— O PSD pode vir a se integrar ao movimento Vamos Juntos Pelo Brasil. Existe a possibilidade de que mais partidos venham a compor a aliança no primeiro turno?
— Temos já formalmente constituída uma aliança com sete partidos, do Solidariedade até o PSOL. Estamos dialogando bem com MDB e PSD. O Avante e o PROS são os partidos de menor dimensão nacional. Não há ainda uma definição clara sobre qual caminho trilharão. A tendência do Avante é vir conosco. O MDB está muito dividido e, na pior das hipóteses, teremos grande parte do MDB nos apoiando. E tem o PSD que eu acredito, com essa decisão, esse encaminhamento que foi dado em Minas Gerais, pode ajudar na definição do PSD no primeiro turno. Devemos jogar todas as fichas com essa possibilidade do [Gilberto] Kassab, do PSD nos apoiar num primeiro turno. É um esforço que está sendo feito. É claro que a gente não pode apostar só na aliança institucional com os partidos, mas ela é fundamental.
Temos que apostar no país, em movimentos populares, movimento social, sindical, nas universidades… O que aconteceu quando o Lula foi em Campinas, em Juiz de Fora, em Contagem e Belo Horizonte, mostra o potencial explosivo de jovens. A juventude pode fazer a diferença nesta eleição. Precisamos envolver essa juventude engajada na campanha, que pode fazer a diferença para vencermos a eleição já no primeiro turno. Uma campanha polarizada como esta, por conta da situação do país, não pode acontecer só dentro da formalidade. A campanha tem que estar solta, menos burocrática, mais potente nas ruas. A campanha vitoriosa é a que organiza e mobiliza multidões.
Nisso, vejo uma campanha muito parecida com 1989, não no resultado porque agora temos chances reais. Era muito sonho em 1989. Mas eu acho que essa esperança reconstruída com a defesa do nosso legado que é muito grande, com um programa ajustado, forte e potente, falando da vida do povo, da economia popular, falando do Brasil real, da educação, do meio ambiente, da soberania… São temas que a sociedade está discutindo. E Lula tem tudo para liderar a reconstrução. Aliás, ouvi uma frase do Aloysio Nunes [Ferreira], ex-senador do PSDB de São Paulo: “O segundo turno é agora”. Portanto, o momento é de unir o país em torno de uma ideia central que o Lula representa, de uma aliança e do povo em movimento para derrotar o bolsonarismo. Acho que a campanha vai ser muito politizada, muito dura, mas estou otimista.
—Você acha que o papel do GTE foi o de “pavimentar o terreno” para que o Lula construísse o movimento que ele queria, que era não apenas com o PT, mas candidato de um movimento que, inclusive, abarca o apoio de prefeito, deputados e lideranças de vários partidos que não necessariamente estão no arco de alianças tradicional?
— Sem dúvida. Está todo mundo nessa expectativa de que essa ideia brilhante “Vamos Juntos Pelo Brasil”, o simbolismo desse movimento é tão potente que cabe o Brasil dentro. Cabem todos que defendem a democracia, os direitos, a nossa soberania, a questão do meio ambiente. É uma coisa que… Quando fui defender a chapa Lula/Alencar no meu estado, no encontro estadual, fui vaiado no Ceará. Havia uma rejeição ao José Alencar. A coisa, também por conta de tudo o que foi feito contra o Lula, contra o PT, esse processo de reconstrução que o PT viveu, a derrota de 2018, o impeachment da Dilma em 2016, se existem “anos de chumbo”, foram esses. O PT viveu anos de chumbo tanto quanto ou pior do que na ditadura militar. Foi uma perseguição de tal magnitude que não sei se teve outro período na história do Brasil tão brutalmente forte como este ao qual fomos submetidos. E nos mantivemos inteiros. É como se diz no Ceará, “vergou, mas não quebrou”.
Diria que temos três grandes disputas: a Presidência da República, a eleição de deputado e São Paulo. As duas eleições nacionais que precisamos olhar é Lula e Haddad, em São Paulo. Nem em 2002 tivemos tanta chance como agora em São Paulo. E vocês imaginem se essa aliança se ampliar ainda mais em São Paulo, com o PSB, que ainda está pendente… Estou esperançoso que vamos conseguir trazer o PSB para a aliança com o Haddad. Já trouxemos o PSOL, o PCdoB… Estou muito confiante.
E ainda temos a militância do PT, que é algo extraordinariamente revolucionário. Há poucos partidos no mundo com os padrões de organização… Com todas as limitações… Uma militância dessas merece afeto, carinho. Pra mim, é o melhor combustível para um partido, o alimento que nos dá sustentabilidade é a nossa militância. E ela está afim de ir para a rua. Eu acho que essa experiência que está acontecendo… Está em jogo o Brasil. Esta é a eleição das nossas vidas porque tudo o que construímos está em jogo. A democracia está em jogo, os direitos estão em jogo, a vida está em jogo, tudo está em jogo… Por isso que considero que neste movimento, cabe tudo. Basta ter compromisso com a democracia e com o Brasil.
— A mudança que colocou fim às coligações proporcionais favorece o PT? Haverá uma alteração significativa na composição do Congresso?
— Fizemos uma federação com PT, PCdoB e PV em torno do Lula. Tem outra federação em torno do Lula que é PSOL e Rede. Tem o PSB em torno do Lula, o Solidariedade, e o Avante. Além disso, há uma banda do MDB que vem, uma parte ou totalmente o PSD… Então, o que vislumbro é que a correlação de forças será alterada a partir da manifestação do eleitor. Se soubermos trabalhar bem e vincular os deputados dessas federações em torno do Lula, se a comunicação da campanha do Lula der conta dessa questão, nosso campo pode fazer uns 220, 230 deputados federais. E aí você busca aliança para fazer 300 que é o que precisamos para votar as emendas constitucionais.
Precisamos ter força no Congresso, mas não é só. Eu falei antes, temos que ter força institucional, a governabilidade vai se dar pelo Congresso, mas também socialmente com o povo organizado. Universidades, juventude… Não podemos desprezar mais… Nós desprezamos muito isso nos governos anteriores. O partido tem que continuar funcionando. A Fundação Perseu Abramo faz um belo trabalho e precisa continuar fazendo formação política. O que está em jogo é tudo isso. Não podemos ganhar a eleição e migrar tudo pra lá. O papel do governo é o de governar e desenvolver políticas públicas que alterem o padrão de vida e de desenvolvimento do país. E o partido é o partido. É para sugerir, para sustentar politicamente, mas é, sobretudo, para organizar o povo. Sobretudo para organizar o povo, para não permitirmos o que aconteceu com a Dilma em 2016.
O povo não estava organizado à altura para impedir o golpe que foi dado aqui do Congresso. São boas as chances de a gente alterar a correlação de forças. O “carro-chefe” é o programa que o Lula vai liderar em torno desse movimento daqueles que têm compromisso com a democracia. Por exemplo, como evitar a privatização da Eletrobrás? Temos que ter força aqui dentro. Recompor os Correios. A Petrobrás, retomar o pré-sal, alterar a política de preços? Temos que ter força. Eu vivi isso dramaticamente quando fui líder na Câmara durante o governo Dilma. Nunca sofri tanto como naquela época. Foram dois anos de um purgatório. Em alguns momento era um inferno. E estamos vivos. Com o Lula, temos tudo para alterar essa correlação de forças, vai depender do grau de campanha… Se nós fizermos uma campanha com essas ideias para movimentá-la, com força, com o povo nas ruas e com organização popular, não tenho dúvida de que podemos construir uma hegemonia política.
— E a decadência daqueles que usaram a máquina do Estado contra o PT e Lula, principalmente [Rodrigo] Janot, [Sergio] Moro e [Deltan] Dallagnol?
— Dias desses ouvi a pergunta de uma funcionária lá em casa: “Venha cá, cadê aquele homem que judiou tanto com o Lula?” [Ri]. É uma frase simples, mas expressa o que as pessoas estão vendo. “Cadê aquele povo, aquele rapaz que falava tanto do Lula, mostrava os desenhos na televisão?” então, essa gente que patrocinou o golpe… São o mesmo DNA do Bolsonaro. No meio do caminho se distanciaram, mas quem patrocinou tudo aquilo, sobretudo, a vitória do Bolsonaro, foi o Moro. Eles construíram a partir da Lava Jato um projeto de poder. Esses personagens construíram um projeto de poder, começaram com a Lava Jato e construíram um roteiro. Primeiro, interdita o Lula, prendendo. Fizeram. Depois, derrota a Dilma, afasta a Dilma. Depois, ganha do Haddad e elege o Bolsonaro. Quem não viu o frisson com que o Moro foi visitar o Bolsonaro eleito lá no Rio de Janeiro?
Tem uma coisa que aprendi com a minha mãe. Ela tem 97 anos, mora no sertão do Ceará, em Quixeramobim. Estive com ela no Dia das Mães. Ela teve 11 filhos e, de quebra, dois deputados: [José] Genoíno, que foi deputado, e eu, que ainda estou nesta labuta. Uma mulher que foi professora primária. Ela diz: “Aqui se faz, aqui se paga”. Essa gente não vai esperar nem o castigo de Deus quando partir para outro plano da vida, não. Vai pagar aqui na Terra. Fizeram tudo contra o PT, contra Lula… Quantos de nós fomos agredidos? Eu mesmo. Quantas vezes? Fui quatro vezes visitar Lula em Curitiba. Numa das vezes, no avião, pessoas me engoliam com o olhar impiedoso, traiçoeiro, com ódio. Suportamos tudo isso que eu chamo de “anos de chumbo”. Hoje estaremos vivendo outro momento, da reconstrução do país. Essa gente não só tentou destruir o Lula e o PT, mas destruiu o país. O país numa crise dessas, o que o ministro da Economia fala? O país derretendo, a economia derretendo, a maior inflação dos últimos 25 anos, a fome… E essa gente perambulando pelo país, falando em nome da família brasileira, um genocida desses aí. Quero dizer que já me sinto vitorioso. Vamos enfrentar uma eleição dura, mas com a autoestima lá no céu. Pode ter certeza. Nunca fiz uma eleição com tanta vontade. O Brasil não merecia essa coisa feia que está aí. O que está em jogo é o Brasil. As nossas histórias estão em jogo. E eu quero que sejam reescritas, a começar pela vitória da democracia e dos direitos. Será a vitória daqueles que não mudaram de lado. Estamos inteiros e preparados para derrotar o bolsonarismo e voltarmos a governar o Brasil e devolver o país aos brasileiros. •