O ‘mito’ será o primeiro presidente desde o Plano Real a terminar mandato com salário mínimo valendo menos. Perda do poder de compra ao fim do governo será de 1,7%

 

O presidente Jair Bolsonaro vai terminar seu mandato em dezembro de 2022 como o primeiro presidente, desde o Plano Real, a deixar o salário mínimo valendo menos do que quando entrou. Nenhum governante neste período, seja no primeiro ou segundo mandato, entregou um mínimo que tivesse perdido poder de compra. É o alto preço de um governo que mantém o povo como inimigo a ser exterminado.

Pelos cálculos da empresa de consultoria Tullett Prebon Brasil, a perda será de 1,7%. Isso, se a inflação não acelerar mais do que o previsto pelo mercado. As previsões vêm sendo revisadas para cima há 16 semanas. O piso salarial cairá de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre 2018 e 2022, descontada a inflação.

Dois fatores explicam a perda inédita do poder de compra. Um deles é o ajuste fiscal, pelo peso do salário mínimo na indexação do Orçamento da União. O segundo é a aceleração da inflação. Como os índices de preços estão ficando mais altos de um ano para o outro, a reposição da inflação passada que o governo vem promovendo não garante a preservação total do poder de compra do salário mínimo.

Há três anos, não há reajuste do piso acima da inflação. O último foi em 2019, quando ainda prevalecia a regra de correção, que considerava a inflação mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Cerca de 64% das aposentadorias e pensões no Brasil são de um salário mínimo.

A Tendências Consultoria aponta que 2021 foi o primeiro ano desde 2000 que a massa total de salários pagos pela Previdência teve queda. A perda chegou a 2,5%, descontando a inflação. A Tendência estima que não haverá reajuste real do mínimo até 2026. É que consultoria não vê espaço para aumento como aconteceu nas últimas décadas. O mínimo indexa o piso previdenciário. Mas, para as classes D e E, é muito relevante na massa de renda.

Com a crise no mercado de trabalho, o país tem hoje a maior parcela de trabalhadores ganhando até um salário mínimo desde 2012, início da série  da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Eram 35,3% dos ocupados, o que representava 33,8 milhões em dezembro de 2021.

A crise desencadeada pela política de Paulo Guedes levou os trabalhadores a aceitarem posições muito piores do que tinham antes da pandemia. E a inflação está maior em alimentos, energia, transporte, combustíveis, itens essenciais. Em março, a Pnad mostrou que há 11,9 milhões de desempregados no país. •