Lula quer combater injustiças e vencer a mentira

Em entrevista com youtubers, o líder nas pesquisas garante que vai priorizar investimentos em saúde e na escola em tempo integral, apoiar direitos trabalhistas e manter diálogo respeitoso com evangélicos

 

Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com youtubers de diferentes partes do país na terça-feira, dia 26, em São Paulo. Essa foi a segunda entrevista coletiva que ele concedeu para os meios alternativos. O ex-presidente voltou a fazer críticas a Jair Bolsonaro. Ele disse que o atual presidente da República “vive no mundo da mentira”, que só sabe desrespeitar e faz de tudo para enfraquecer as instituições. Lula apontou que Jair Bolsonaro deve ser responsabilizado por mais da metade das mortes dos quase 700 mil brasileiros que faleceram durante a pandemia. Por outro lado, declarou que a saúde será uma prioridade caso vença as eleições.

Ainda sobre Jair Bolsonaro, Lula criticou a prática de decretar sigilo em qualquer informação que possa comprometer o presidente, seus filhos ou figuras parceiras. “Nós vamos dar um jeito nisso”, declarou. O ex-presidente também analisou a relação de Jair Bolsonaro com o Congresso Nacional e afirmou que Bolsonaro não tem força nenhuma, “nunca antes na história desse país teve um presidente tão rastejante diante do Congresso”.

Durante a entrevista Lula foi questionado sobre se existe dificuldade em dialogar com os evangélicos que se aproximaram muito em 2018 de Jair Bolsonaro, que desde então conta com o apoio de pastores milionários e midiáticos. O ex-presidente ironizou a religiosidade de Jair Bolsonaro. Disse que o atual presidente “não acredita em Deus” e completou que “o Bolsonaro fica mais religioso em época de eleição”. Apesar da constante tentativa bolsonarista de relacionar Lula e o PT a pautas que sejam ofensivas para os evangélicos, o ex-presidente afirmou que não vai discutir com os pastores que apoiam Bolsonaro. O objetivo é dialogar diretamente com homens e mulheres evangélicos porque “eles nunca foram tão respeitados como no meu governo”.

Uma das preocupações demonstradas pelo ex-presidente em diferentes momentos da entrevista, que durou mais de três horas, foi com a ideia de empreendedorismo. As condições precárias e a vulnerabilidade dos trabalhadores de aplicativos de entrega ou transporte de pessoas foram alvo de críticas por Lula. Essas grandes empresas que atuam em diferentes países costumam tratar esses trabalhadores por “parceiros” e também por “empreendedores”, o que é algo absurdo na visão do ex-presidente, que lembrou da reunião com a vice-primeira-ministra espanhola, Yolanda Díaz, realizada no final de março.

O ex-presidente voltou a falar sobre a necessidade de realizar uma mesa de negociações com todos os setores para rediscutir os termos de uma reforma trabalhista, a exemplo do que ocorreu na Espanha. “O Brasil precisa de uma legislação atual e que respeite os direitos dos trabalhadores”. Lula ainda disse que deseja incluir no plano de governo, coordenado por Aloizio Mercadante, a criação de uma carteira no BNDES específica para pequenos e médios empresários.

A nova crise entre os Poderes provocada pelo indulto concedido por Jair Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira também foi comentada pelo ex-presidente Lula. Nos últimos dias, a grande imprensa noticiou que o petista não tinha se pronunciado sobre o ocorrido. Lula declarou que “Bolsonaro foi estúpido”, “foi medíocre”. Na perspectiva do ex-presidente, Bolsonaro conseguiu abafar os desfiles do carnaval em que foram feitas muitas críticas ao presidente e ao seu governo. “Bolsonaro quer permanecer no noticiário, não interessa se é coisa boa ou ruim. Ele não se importa.” Lula considera que a sociedade está cansada de tanto desgaste, por isso é fundamental restabelecer a harmonia.

O combate à fome foi outro tema muito abordado durante a entrevista coletiva. Lula declarou que essa será, novamente, a prioridade caso seja eleito presidente da República. Ele disse estar muito determinado a convencer os presidentes de outros países sobre a importância de acabar com a fome no mundo. “Só quem passa fome sabe o que é isso”. Por fim, o ex-presidente foi questionado sobre o combate à violência. Ele declarou que a ausência do Estado é o que permite que a violência esteja tão presente no Brasil. Para controlar o problema, que é histórico, Lula já tem como uma primeira ambição a universalização da escola em tempo integral. E com o objetivo de aprofundar as discussões sobre o problema e encontrar soluções, ele anunciou que vai realizar um encontro com todos os governadores progressistas para discutir possíveis medidas.•