Lula defende novo pacto

Em encontro com sindicalistas, ex-presidente diz que a hora é de unidade para a reconstrução do país depois do desmonte promovido pelo Golpe de 2016 e a ascensão de Jair Bolsonaro

 

 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preocupado com o futuro do país. Ele esteve reunido na quinta-feira, 14, com dirigentes das centrais sindicais para tratar da reconstrução nacional após a derrubada do poder — pelo voto nas urnas em outubro — de Jair Bolsonaro. Acompanhado de Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa, Lula defende uma ampla renegociação para forjar um novo pacto para o Brasil.

“Vamos ter que ter algumas obsessões e o emprego é uma coisa sagrada.  Quando a gente tem um emprego e ganha um salário que dá para levar comida para a nossa casa, que dá para cuidar do nosso filho, que tem seguridade social, carteira assinada, previdência social, parece que a gente está no céu. Agora, quando a gente está desempregado e fica, como eu fiquei, um ano e meio desempregado, e tem irmão e irmã desempregado, a vida vira uma desgraça, um sofrimento”, disse.

O encontro foi considerado histórico pelo ex-presidente — “nunca tivemos uma campanha em que todas as centrais sindicais, com exceção da CSB, juntas para apoiar uma candidatura à Presidência da República”. Lula recebeu das mãos dos dirigentes das centrais entregaram um documento com as propostas da Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada no início do mês. Ele defendeu unidade para um novo momento do Brasil.

O tema central da conversa com sindicalistas foi a reconstrução do país após o desmonte colocado em curso a partir do Golpe de 2016 e que aprofundado por Jair Bolsonaro em ritmo acelerado. Sindicalistas criticaram a política de privatização praticada pelo governo federal, a “pejotização” dos trabalhadores e os ataques ao funcionalismo público.

Em várias intervenções, os líderes sindicais mencionaram o desemprego crescente e a precarização do mercado de trabalho brasileiro. As centrais defendem a reativação do emprego, depois que milhões de vagas de trabalho foram fechadas. A escassez de trabalho e a queda brusca de renda e da qualidade de vida são um contraste triste para um país que viveu quase o pleno emprego no período em que o PT governou o país com Lula e Dilma Rousseff.

Em resposta às intervenções dos sindicalistas, o ex-presidente reafirmou ser possível refazer a democracia, restabelecer um país mais justo, solidário e, mais do que nunca, colocar um fim à miséria. Lula afirmou ainda que, com Geraldo Alckmin, o país vai “reconquistar os direitos do povo trabalhador”.

A reforma trabalhista implementada por Michel Temer, e aprofundada por Bolsonaro, foi alvo de críticas. Apesar de diferentes órgãos de imprensa terem voltado a falar que o PT pretende revogar a reforma, Lula avisou que nada será feito “na marra”. Mas disse que, diante da situação de crescente desigualdade, não é mais possível fechar os olhos diante da crise social que está enterrando o país.

Assim como em seus dois outros mandatos, Lula anunciou que, novamente, vai levar representantes de todas as centrais sindicais a Brasília para negociações com representantes de empresários. Ele chegou a dizer que não há necessidade de que seja ele próprio o coordenador das negociações, mas que Geraldo Alckmin pode fazer a intermediação.

O fundamental é que todos se sentem à mesa e conversem para alcançar o que o ex-presidente apontou como o que deve ser a “obsessão” do seu governo e das centrais sindicais: a geração de empregos. Sobre a revisão da reforma trabalhista, Lula mencionou as conversas com representantes do governo espanhol e as revisões feitas no país europeu pelo governo liderado pelo presidente Pedro Sánchez.

O ex-presidente também manifestou preocupação com a precarização do trabalho, citando os trabalhadores de aplicativos. Ele defendeu que essas novas categorias precisam ser respeitadas, ter direitos e garantias. “Não queremos o que era antes. Queremos o que for melhor. Não queremos voltar a 1943. Queremos um acordo em função da realidade dos trabalhadores em 2023”, concluiu.

Sobre o movimento sindical, asfixiado desde o Golpe de 2016, Lula afirmou não ser necessária a volta do imposto sindical. Ele ainda falou sobre a importância de fazer no Brasil uma reforma tributaria, mas disse que qualquer mudança só será possível caso o número de parlamentares progressistas eleitos seja maior do que a metade do Congresso.

Já o ex-governador Geraldo Alckmin celebrou o encontro e disse que a reunião remete à história política do Brasil: “Todas as vezes que o povo esteve risco, o Brasil se uniu. Venho somar o meu esforço em benefício do país”. •