A destruição avança
Em protesto contra a política anti-indígena do governo, Brasília assiste à nova rodada de manifestações organizadas pelos povos originários. Eles denunciam Bolsonaro por permitir a mineração em terras indígenas e apoiar a morte e a depredação no coração da Amazônia. Dois índios Yanomami foram assassinados em Roraima
O tradicional Acampamento Terra Livre, organizado pelos povos indígenas brasileiros, pintou Brasília de sangue e lama para denunciar a política de extermínio patrocinada pelo governo Jair Bolsonaro. Mais de 7,5 mil homens e mulheres indígenas tomaram a capital brasileira para alertar para os seguidos crimes cometidos e acobertados pelo governo brasileiro.
Uma longa marcha de índios, pintados para a guerra e carregando um imenso globo azul, marcharam pela Esplanada dos Ministérios na segunda-feira, 11 para protestar contra o Projeto de Lei 191/2020, que autoriza a mineração e garimpo em territórios tradicionais. A proposta pode ser colocada em votação na Câmara dos Deputados a qualquer instante e por isso é motivo de grande preocupação para líderes dos povos indígenas.
Carregando barras fictícias de ouro e com o corpo pintado com lama amarelada, eles lembraram a invasão promovida por garimpeiros nas terras tradicionais. “É pra simbolizar que está todo mundo cansado e com lama até o pescoço”, criticou Sônia Guajajara, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). “Ninguém aguenta mais”, afirmou.
Na terça-feira, 13, há mais de 5 mil quilômetros da Esplanada dos Ministérios, dois Yanomami morreram em um conflito estimulado por garimpeiros, motivados pela mineração ilegal de ouro na floresta amazônica. Outras cinco pessoas da comunidade indígena foram feridas, segundo o presidente do conselho local de saúde, Júnior Hekukari. A notícia se espalhou pelo mundo graças às agências internacionais de notícias, como Reuters, France Presse e Associated Press.
Relatório publicado pela Hutukara Associação Yanomami, intitulado “Yanomami sob Ataque” constatou um aumento de 46% na mineração selvagem no ano passado em rios da reserva onde vivem cerca de 29 mil índios Yanomami. Trata-se do pior momento de invasão da área Yanomami desde que a terra foi demarcada e homologada pelo governo federal, há 30 anos.
“À medida que os núcleos garimpeiros ilegais se proliferam e crescem nas diferentes regiões da terra indígena, as comunidades vizinhas sentem a perda do ‘controle’ sobre o seu espaço de vida”, alerta o relatório.
E adverte: “Um dos efeitos diretos mais dramáticos observados com o continuado avanço da exploração da Terra Indígena Yanomami pelo garimpo é o aumento das ameaças — em frequência e grau — à segurança das diferentes comunidades e lideranças que se opõem publicamente à atividade na terra indígena”.
Na segunda-feira, um vídeo distribuído pela Associação Yanomami Hekurari à imprensa internacional e brasileira alertou que garimpeiros estavam armando membros da comunidade indígena Tirei, incitando-os a atacar membros de outra aldeia, Pixanehabi, por conta da oposição à mineração no área protegida. A atividade mineradora em terras indígenas é ilegal.
Os índios que protestam em Brasília no Abril Indígena defendem a demarcação de territórios e protestam contra a chamada “agenda anti-indígena”, composta pelo julgamento do Marco Temporal no Supremo Tribunal Federal (STF) e por projetos de lei que liberam a exploração de terras, o licenciamento ambiental e o uso de agrotóxicos nas áreas tradicionais dos povos indígenas.
Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), mais de 7,5 mil indígenas de 172 povos participam do Acampamento Terra Livre. O encontro é considerado o maior do país e ocorre no mesmo período em que o Congresso deve votar textos como o PL 191/2020. No começo de março, a Câmara aprovou a urgência para votação do projeto.
O povo Yanomami vive em uma região de floresta tropical que atravessa a fronteira entre Brasil e Venezuela. O confronto que matou dois e feriu cinco indígenas eclodiu no lado brasileiro, no estado de Roraima. Os Yanomami enfrentam uma pressão crescente de garimpeiros ilegais, o que levou a um aumento na violência e na disseminação de doenças.
Procuradores da República reiteraram os pedidos aos tribunais federais no mês passado exigindo que o governo Bolsonaro intensifique as operações para proteger os Yanomami dos efeitos da mineração ilegal em seu território.
O parque Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil, equivalente ao tamanho de Portugal, e foi criada há 30 anos, durante o governo Collor, para proteger os povos Yanomami de garimpeiros ilegais. Os índios denunciam o apoio tácito do presidente Jair Bolsonaro ao garimpo desencadeou uma nova corrida pelo ouro no estado. A situação é dramática. •