E a economia só piora...

Pesquisas mostram contraste entre avaliação do governo e expectativas econômicas. Embora Bolsonaro tenha melhora na avaliação de seu governo, 74% consideram que a inflação vai piorar. E se a culpa é de Bolsonaro, como ele cresceu?

 

 

A economia piorou, mas o governo vai bem? Neste artigo, trazemos as análises do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, sobre as pesquisas recém divulgadas pelos institutos de opinião. O Datafolha e o Poderdata apontam para variações importantes na opinião pública, enquanto o Ipespe mostra situação de estabilidade. O quadro geral é contraditório: a melhora na avaliação do governo de Jair Bolsonaro (PL) é acompanhada de piora nas expectativas da população sobre economia, emprego, renda e inflação.

O Datafolha detectou uma queda na reprovação ao governo e uma variação positiva dentro da margem de erro na aprovação de Bolsonaro desde dezembro de 2021. Naquele mês, 53% da população brasileira avaliou o governo como ruim ou péssimo. O percentual agora é de 46%. No mesmo período, a soma dos que consideram o governo “ótimo” ou “bom” passou de 22% para 25%, uma variação dentro dos limites da margem de erro.

O quadro é diferente do apontado pelo Ipespe, em pesquisa realizada entre 21 e 23 de março, com abordagem telefônica feita por entrevistadores. O levantamento tem margem de erro de 3,2 pontos percentuais. De acordo com o instituto, a reprovação segue o mesmo patamar visto desde agosto de 2021, considerando a margem de erro.

A título de comparação, em novembro 54% da população reprovavam o governo Bolsonaro. O número permanece o mesmo. E houve variação de apenas 1 ponto percentual na aprovação — antes eram 25%, hoje são 26%. O Ipespe realiza pesquisas com periodicidade quinzenal, e captou melhora sensível para Bolsonaro em alguns de seus levantamentos realizados este ano – enquanto o Datafolha trouxe uma mudança brusca após 3 meses.

E a economia só piora...

Embora não seja possível a comparação exata entre os cenários estimulados de intenção de voto no Datafolha, em dezembro, o instituto apontava Lula (PT) com 48% e 47% de preferência já no primeiro turno, a depender do cenário, número que hoje é de 43%. Já Bolsonaro (PL), que pontuava entre 21% e 22%, obteve o desempenho de 26% no levantamento mais recente.

A intenção de voto espontânea em Lula oscilou 2 pontos percentuais para baixo, chegando em 30% — enquanto Bolsonaro subiu de 18% para 23%. Na simulação de segundo turno, a vantagem que era de 29 pontos percentuais em dezembro, agora é de 21 pontos entre os dois principais candidatos. Lula tem 55% e Bolsonaro, 34%.

Segundo o Poderdata, no levantamento divulgado na última semana, Lula tem 41% das intenções de voto e Bolsonaro avançou para 32%. Uma diferença agora de 9 pontos percentuais e que no início do ano era de 14 pontos. Já em relação ao segundo turno, o instituto vinculado ao portal Poder360 aponta que a diferença antes de 22 pontos percentuais em janeiro, caiu para 12 pontos. Lula teria 50% contra 38% de Bolsonaro.

Já o Ipespe trouxe uma diferença de 23 pontos percentuais entre Lula e Bolsonaro — 54% a 31%. Os números são semelhantes aos de dezembro de 2021. Em primeiro turno, o instituto aponta para aumento da diferença entre Lula e Bolsonaro, de 15 para 18 pontos percentuais.

Segundo o Datafolha, a maior parte dos entrevistados (66%) entende que a situação econômica do país piorou nos últimos meses — é o mesmo número de dezembro (65%) se considerarmos a margem de erro.

Houve aumento substancial na percepção de que a inflação irá aumentar daqui para a frente. Em dezembro, 46% dos entrevistados assim pensavam — hoje são 74%. Da mesma forma, houve aumento no número de brasileiros que esperam um aumento do desemprego — de 35% para 50% no mesmo período.

Não houve mudança na responsabilização pelo baixo desempenho econômico e pelo aumento de preços. Em setembro de 2021, 75% dos brasileiros consideravam o governo responsável pela alta da inflação nos últimos meses. É mesmo número de agora.

É possível levantar hipóteses acerca da melhora na popularidade do governo. Algumas medidas demonstram que o Planalto está se preparando para a campanha. Por exemplo, o Auxílio Brasil — de acordo com o Datafolha, 23% dos brasileiros recebem ou residem com alguém que receba o benefício —, o Crédito Caixa Tem — até 28 de março, mais de 1,5 milhão de pessoas haviam solicitado o crédito destinado a pessoas físicas e MEIs —, a ampliação da margem para crédito consignado para aposentados, pensionistas, beneficiários do BPC e do Auxilio Brasil, além do esforço publicitário do governo – com ministros indo à rede nacional de rádio e TV.

Mas também há um montante de recursos cuja destinação e impacto são difíceis de serem mensurados – como os recursos do Orçamento Secreto, na ordem de R$ 30 bilhões em 2021, com fatia significativa sendo destinada a parlamentares aliados do governo. A realidade diária, no entanto, com inflação alta que compromete a renda dos brasileiros, principalmente dos mais pobres e dos desempregados, causa apreensão sobre o futuro e reverte expectativas que já não eram otimistas.

A pesquisa do Datafolha foi realizada entre 22 e 23 de março de 2022, com abordagem pessoal em pontos de fluxo. A margem de erro é de 2 pontos percentuais. Já a pesquisa Poderdata foi realizada entre 27 e 29 de março, por ligações telefônicas automatizadas, com margem de erro de 2 pontos percentuais. •