Bolsonaro sempre negou, mas o gabinete paralelo no MEC não é o primeiro escândalo no governo, desde que ele assumiu a Presidência. Houve mais escândalos, graves, também na Saúde, no Meio Ambiente, no Turismo…

 

O ex-capitão do Exército fez sua campanha eleitoral em 2018 prometendo acabar com a corrupção no governo. Três anos e três meses depois, Jair Bolsonaro se vê às voltas com um novo escândalo de propina e suborno em seu governo. As denúncias de crimes no governo se sucedem desde o primeiro ano de sua administração.

Em outubro de 2019, a Polícia Federal indiciou o ministro Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, no inquérito da Operação Sufrágio Ostentação – investigação sobre suposto desvio de recursos por meio de candidaturas femininas laranjas nas eleições 2018. Ele é suspeito de crimes de falsidade ideológica, associação criminosa e apropriação indébita. Na ocasião, Marcelo Álvaro ocupava o posto de presidente do PSL em Minas.

À época, Bolsonaro disse que pretendia manter o ministro no cargo e ‘aguardar o desenrolar do processo’. Segundo as investigações, o PSL de Bolsonaro — ele deixaria a legenda em novembro daquele ano — utilizou-se de laranjas para lançar candidatas a fim de acessar recursos de fundo eleitoral. Marcelo Álvaro era o articulador do esquema.

Em abril de 2021, a suspeita de corrupção recaiu sobre o ministro Ricardo Salles (MMA), acusado de dificultar a ação de fiscalização ambiental e patrocinar diretamente interesses privados de madeireiros investigados por extração ilegal de madeira. Segundo notícia-crime encaminhada pela PF ao Supremo Tribunal Federal, Salles integrava organização criminosa orquestrada por madeireiros alvos da Operação Handroanthus com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza.

Em maio de 2021, foi denunciado o esquema de Bolsonaro para aumentar sua base de apoio no Congresso. O chefe do Executivo criou um orçamento paralelo de R$ 3 bilhões em emendas, boa parte destinada à compra de tratores e equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores de referência fixados pelo governo. 

No esquema, parlamentares que apoiavam o governo conseguiam mais recursos em emendas para seus redutos eleitorais. O caso virou alvo de investigação por parte da Controladoria Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU).

Em junho de 2021, em plena pandemia da covid e em meio à CPI, mais uma denúncia de corrupção foi revelada na Saúde. Documentos do Ministério das Relações Exteriores mostraram que o governo comprou a vacina indiana Covaxin por um preço 1.000% superior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante. 

Telegrama sigiloso da embaixada brasileira em Nova Délhi de agosto de 2020 informava que o imunizante produzido pela Bharat Biotech tinha o preço estimado em 100 rúpias — US$ 1,34 a dose. Em dezembro, outro comunicado dizia que o produto “custaria menos do que uma garrafa de água”. Em fevereiro de 2021, contudo, o Ministério da Saúde pagou US$ 15 por unidade — R$ 80,70, na época). 

A ordem para a aquisição da vacina partiu pessoalmente de Bolsonaro e a negociação durou somente cerca de três meses, um prazo bem mais curto que o de outros acordos. Até hoje a investigação está parada por falta de iniciativa da Procuradoria Geral da República.

Ainda no mesmo mês de junho de 2021, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias foi acusado de pedir propina para autorizar a compra de vacinas pelo governo. Segundo a denúncia, ele teria condicionado a aquisição de imunizantes da AstraZeneca ao recebimento ilícito de US$ 1 por dose. 

Dias chegou ao cargo por apadrinhamento do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), um dos líderes do Centrão. Ele foi exonerado do posto em 29 de junho. Alvo da CPI, chegou a receber ordem de prisão durante seu depoimento. •