Como o PT salvou o Brasil: a deterioração do cenário externo
Os chamados analistas do mercado acusam Lula e Dilma de terem quebrado o país, mas desconsideram o cenário externo provocado pela crise de 2008-2009. Não mencionam, deliberadamente, os impactos da “maior crise do capitalismo desde 1929”
Este é o décimo nono artigo da série organizada para oferecer fatos e números que desconstroem as mentiras que a política econômica do PT teria “quebrado o Brasil”. Aqui, sublinhamos um fato grave que, espertamente, tem sido desconsiderado por ‘analistas’: a deterioração do cenário internacional, ocorrida nos em 2008 e 2009, e seus impactos negativos sobre a economia.
Nas análises anteriores, demonstramos a falsidade da narrativa de que o PT quebrou o país, apresentando indicadores econômicos. Mostramos que um dos grandes legados dos governos petistas foi reduzir a vulnerabilidade externa. A melhoria dos fundamentos macroeconômicos também é atestada pela queda constatada em vários indicadores: dívida pública, taxa de juros, despesas com juros como proporção da arrecadação tributária e despesas com pessoal e encargos, como proporção do PIB.
Houve expressiva geração de superávits primários, e o Brasil voltou a crescer, sobretudo pela expansão do investimento, do crédito fornecido pelos bancos públicos e do mercado interno de consumo assalariado, formado a partir de políticas de distribuição de renda e de expansão e formalização do emprego, que ampliaram a renda das famílias e as vendas no varejo. Também demonstramos que a taxa de inflação esteve sob estrito controle e preservou a tendência de queda, exceto em 2015.
Agora mostramos como os chamados economistas de mercado consideram que o crescimento econômico obtido nos governos petistas teria sido efeito exclusivamente do cenário internacional favorável. Deixam de lado — ‘desfocados’ — os acertos na condução da política econômica. Repetem a ladainha de que os governos Lula e Dilma teriam sido beneficiados pelo “boom de commodities”. Mas omitem, deliberada e malandramente, os impactos da crise financeira internacional, considerada a “maior crise do capitalismo desde 1929”, sobre os governos do PT.
Como se sabe, a crise destruiu riqueza, paralisou o crédito e provocou contração da atividade em quase todo o globo. A narrativa liberal desconsidera os limites impostos à condução da política econômica na primeira metade da década passada, marcada pelo agravamento do cenário internacional, com a desaceleração da produção industrial da China, as dificuldades de recuperação das economias europeias e a redução da capacidade de importação de alguns de nossos principais parceiros comerciais na América Latina. Essa situação impactou negativamente os fluxos de comércio e de investimento e os preços internacionais das commodities e dos produtos manufaturados.
Por conta da crise financeira internacional, o saldo da balança comercial declinou de US$ 46,5 bilhões (2006) para US$ 2,4 bilhões (2013), voltando a ser negativo em 2014 (-US$ 4 bilhões). O preço das exportações, que sobe continuamente entre 2002 e 2008, cai em 2009, recupera-se em 2010 e volta a declinar, significativamente, entre 2011 e 2016.
O saldo comercial do Brasil com os principais parceiros internacionais caiu de forma expressiva no governo Dilma Rousseff. A balança comercial com a União Europeia, positiva até 2011, foi reduzida sensivelmente em 2012 e passa a ser negativa entre 2013 e 2015. Com os EUA, a balança passou a ser negativa entre 2007 e 2015, sobretudo em função da mudança na postura americana, que deixou de ser a “compradora de última instância” do mundo e passou a tentar recuperar a própria base produtiva. Com a China, o saldo também foi negativo em 2007 e 2008. E, entre 2011 e 2014, declina de US$ 11,5 bilhões para US$ 3,3 bilhões. Da mesma forma, o saldo comercial com a Argentina, outro importante parceiro comercial do Brasil, também declina a partir de 2011, na esteira das dificuldades econômicas dos países latino-americanos.
Os chamados economistas do mercado também não veem que as medidas anticíclicas adotadas para enfrentar a crise internacional foram acertadas. O Brasil saiu rapidamente da crise — o PIB cresceu 7,5% em 2010. A narrativa fake e oportunista não faz menção ao fato de que o ciclo de commodities começou antes dos governos do PT. E, mesmo assim, por três vezes, o Brasil teve de recorrer ao FMI e ao aumento da carga tributária — de 27,2% para 32% do PIB.
Durante o primeiro mandato de Dilma, as tentativas de retomar o crescimento, preservar o nível de emprego e renda da população, e elevar a competitividade das exportações – que incluíram, dentre outras medidas, a redução das taxas internas de juros, a correção da taxa de câmbio e o expressivo aumento das desonerações fiscais – não produziram os efeitos esperados.
E isso se traduziu, no final do período, na perda de dinamismo da economia. Entretanto, nas críticas oportunistas forjadas pelos comentaristas do mercado, a desaceleração da economia foi atribuída, exclusivamente, aos “erros da condução da política interna”, por conta da “Nova Matriz Econômica”.
É verdade que nos primeiros anos dos governos do PT, o Brasil atravessou um bom momento externo e nos valemos dele para pagar a dívida externa. O país saiu do FMI e passou a acumular reservas. Mas aquele movimento favorável do comércio internacional foi interrompido a partir de 2008 e 2009, com efeitos que perduraram até meados da década seguinte.
Seja como for, o crescimento econômico dos governos petistas não é efeito só de haver então setor externo favorável — por curto período. O crescimento que o Brasil conheceu com os governos do PT resultou, sobretudo, das políticas para gerar empregos e da distribuição de renda, medidas que ampliaram o mercado interno e o consumo das famílias, bem como o investimento que também teve um papel fundamental, sobretudo com o Programa de Aceleração do Crescimento. Portanto, além dos fatores externos, foi implantada uma política de ampliação do consumo de massas, de expansão do investimento produtivo e de aumento do investimento social.
Assim se vê que, também nesse caso, não se sustenta a afirmação de que a “crise”, que teria sido gerada pelos governos do PT, teria sido, fundamentalmente, fruto da “irresponsabilidade fiscal”, como o arbítrio mais delirante nunca se cansa de repetir. A desaceleração da economia foi influenciada, em grande medida, pela deterioração do cenário internacional ocorrida durante os governos petistas – fato, espertamente, sonegado por críticos mal-intencionados e oportunistas. •