Enquanto Bolsonaro recebe pessoalmente blogueiras que têm 200 mil seguidores nas redes sociais, a esquerda ainda não marcou um encontro entre Lula e a cantora Pabllo Vittar

 

 

Caminhando para a reta final da sua trágica gestão, o bolsonarismo segue a mesma linha discursiva que foi adotada por todos os seus membros parlamentares: a inépcia, a violência e a agressão.

Com o Brasil imerso em uma tempestade perfeita, resultado de múltiplas crises – econômica, sanitária, social e política – que afligem a Nação concomitantemente, e sem ter absolutamente nenhum resultado efetivo para demonstrar, o governo Bolsonaro aproxima-se do próximo pleito presidencial encurralado pela única opção que lhe resta: disseminar o ódio, os discursos de medo e as notícias falsas por meio das redes sociais.

Em 2018, essa estratégia provou-se extremamente eficaz. Apesar de vivermos um momento sociopolítico distinto quatro anos depois, o bolsonarismo deverá utilizar enfaticamente esse mesmo método, sobretudo, ao longo dos próximos meses.

Segundo o ensaísta Walter Benjamin, os fascistas, durante a década de 1930, estetizaram a política. Ou seja, tornaram a política o campo do afeto. Na prática, quase um século depois e na impossibilidade de melhorar as condições de vida da população brasileira, que hoje paga mais de R$ 120 no botijão de gás e R$ 8 no litro da gasolina, o bolsonarismo aposta as suas últimas fichas em criar polêmicas estéreis via pautas morais, abordando temos correlatos à pedofilia, aos valores do que se classifica como “a família tradicional brasileira”, à religião e assim por diante.  

Para entender essa dinâmica de funcionamento do bolsonarismo é imprescindível avaliar o que o professor João Cezar de Castro Rocha convencionou chamar de os “microempreendedores ideológicos” e a “midiosfera bolsonarista”.

Via de regra, mas não invariavelmente, são figuras relativamente jovens e extremamente agressivas, que, a despeito da superficialidade das suas análises, mobilizam grandes volumes de seguidores nas redes sociais e utilizam abordagens maniqueístas para abordar as questões sociopolíticas de forma a mexer com os afetos dos brasileiros e gerar grande adesão por meio das redes sociais.

Invariavelmente, são análises rasas e binárias, que não consideram os valores dialéticos, complexos e contraditórios das questões humanas e apelam às camadas mais elitistas, racistas, misóginas, dogmáticas e limítrofes da população nacional.

Vale tudo pela audiência, pelas curtidas e pelos comentários dos seguidores. São retóricas prêt-à-porter e internacionais do ódio. Seguindo as ideologias preconizadas por Steve Bannon e Olavo de Carvalho, figuras como Ben Shapiro (EUA), Gloria Álvarez (Guatemala), Axel Kaiser (Chile) e Javier Milei (Argentina), por exemplo, avançam as mesmíssimas coisas que todos os bolsonaristas.

Cientes deste processo, os principais membros do bolsonarismo utilizam os seus respectivos capitais políticos para impulsionar, ativa e periodicamente, os seus microempreendedores digitais que possuem ressonância nas redes sociais. Algo que a esquerda e o campo progressista, de forma mais ampla, simplesmente não fazem de maneira sistemática. 

Por exemplo: enquanto Jair Bolsonaro recebe pessoalmente blogueiras que possuem menos de 200 mil seguidores nas redes sociais e as promove contundentemente, a esquerda ainda não marcou um encontro entre Lula e a cantora Pabllo Vittar, que declarou, categoricamente, que o ex-presidente mudou a sua vida e espera cantar na cerimônia de posse do petista à chefia do Poder Executivo em 2023. Vittar tem mais de 12 milhões de seguidores somente em uma única rede social.

Nesse sentido, a esquerda e o campo democrático precisam de uma estratégia sólida de atuação na seara digital, que reúna e apresente a materialidade histórica de quando os brasileiros pagavam R$ 40 pelo botijão de gás e R$ 3,50 pelo litro da gasolina, para confrontar os impropérios bolsonaristas e evitar que eles sejam capazes de pautar a vida pública nacional com polêmicas inúteis e cortinas de fumaça. •