A força do petismo
Pesquisa da Vox Populi mostra que 35% do eleitorado tem admiração pelo Partido dos Trabalhadores. E a rejeição caiu para 33%. Lula terá de disputar apoios entre aqueles que não estão na polarização: 32% dos brasileiros
Pesquisa recente publicada pela Vox Populi traz atualização dos sentimentos em relação ao PT. O instituto acompanha a evolução da relação do eleitorado com o partido via aplicação de uma pergunta: “Em relação ao PT, você diria que…”. Ao entrevistado, o instituto oferece um conjunto de cinco alternativas em gradação: a) Eu detesto o PT; b) Não gosto, mas não detesto; c) Nem gosta, nem desgosta; d) Gosto, mas não sou petista; e e) Sou um petista.
É possível agrupar as duas primeiras opções — “eu detesto” e “eu não gosto do PT” — e mensurar o eleitorado que está no campo antipetista. Da mesma forma, é possível também medir o tamanho do campo de influência petista agrupando as duas últimas opções — “eu gosto do PT” e “eu sou petista”.
O campo não polarizado é aquele que soma o “meio” — eu nem gosto, nem desgosto do PT — e os que não souberam responder.
O gráfico traz os resultados das pesquisas desde abril de 2019 — primeiro semestre do governo Bolsonaro — até fevereiro de 2022. Ainda que coexistam dois métodos distintos de coleta, é possível perceber a evolução do sentimento em relação ao partido.
Durante todo o período, o antipetismo se mantém estável, em maior ou menor medida, tendo atingido seu menor patamar em dezembro de 2019 — quando 25% da população mostrava algum nível de rejeição ao partido. O seu maior nível ocorreu em janeiro de 2022, com 33% de rejeição.
Já o petismo indica ampliação. Iniciou essa série histórica com seu mais baixo desempenho — quando 29% da população se dizia petista/gostava do PT — e, a partir daí, com relativa constância, ampliou sua margem de influência, chegando a 41% em outubro de 2021 e se manteve nos 35% de adesão até início de 2022.
Por outro lado, a parcela da população “não polarizada” mostra sinais de retração. Começa a série com 42% do eleitorado e, ao longo do período, perde 10 pontos percentuais de sua abrangência — em janeiro de 2022, 32% da população dizia nem gostar nem desgostar do PT ou não sabia responder a questão.
Essa retração pode indicar uma tendência de consolidação da polarização que está marcando o período pré-eleição de 2022: Bolsonaro versus Lula. Segundo a última pesquisa IPESPE, Lula (PT) possui 42% e Bolsonaro (PL) 28% da intenção de voto.
A pesquisa Genial/Quaest publicada em 16 de março também evidencia que a expectativa de que haverá uma terceira via fora da polarização Lula e Bolsonaro está cada vez menor. É a primeira vez, na série histórica, que a torcida por uma vitória de Bolsonaro ultrapassa numericamente a torcida pelo “candidato nem-nem”, 26% contra 25%.
Para conquistar maioria eleitoral, Bolsonaro e Lula deverão — além de manter seu polo eleitoral unido e ativo — disputar, justamente, os 32% do eleitorado não polarizado, segundo a última Vox Populi.
Não à toa, foi essa parcela da população o foco de investigação do estudo produzido pelo Núcleo de Opinião Pública, Pesquisa e Estudos (Noppe): “Percepções e Valores da Sociedade Brasileira Não Polarizada”. No levantamento, torna-se evidente que não se trata de um perfil homogêneo. Há diversas combinações misturadas de posições ora progressistas, ora conservadoras. Ora liberais, ora punitivistas, sem comprometimento com nenhum “lado ideológico”.
Jovens e mulheres se destacam pela resistência ao bolsonarismo. Os primeiros pela adesão a valores que coadunam com as liberdades individuais e direitos civis. E as mulheres, pela adesão a valores solidários e coletivos. Quando perguntado qual o valor que entrevistados/as querem deixar para as próximas gerações, por exemplo, é muito contundente, principalmente entre as mulheres, respostas que caminham no sentido de “empatia”, “respeito ao próximo”, “amor pelos outros” etc.
Num cenário de tendência de consolidação da polarização, se faz necessário a produção de um diagnóstico fino sobre a parcela do eleitorado em disputa. •