Em ação, legenda tenta reverter privatização da estatal de energia, alegando que TCU deixou de analisar queixas do próprio Congresso. Assembléia de acionistas abre mão do controle da empresa

 

O mundo mergulha numa crise sem precedentes com a possibilidade de alta geral na energia e, enquanto isso, a assembleia geral de acionistas da Eletrobrás faz um jogo perigoso ao permitir a privatização empresa estatal. O PT entrou com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal, na terça-feira, 24, para pedir a suspensão do processo de venda da gigante do setor elétrico. Bolsonaro quer se desfazer da empresa, considerada estratégica para o desenvolvimento nacional, pelo valor de R$ 67 bilhões, mas a empresa — segundo o próprio Tribunal de Contas da União — vale pelo menos R$ 130,4 bilhões.

A assembleia geral decidiu, na terça-feira, 22, reduzir a fatia da União de 70% para 45% do capital da Eletrobrás, tornando a empresa uma corporação com capital pulverizado. A proposta teve apoio de acionistas privados, mas os sindicatos ligados aos trabalhadores da estatal protestaram. Na assembleia, além da restruturação societária da empresa, que deixaria de ter controle da União, o governo aprovou a venda das ações em Itaipu pelo valor de R$ 1,2 bilhão, e a cisão da Eletronuclear, operadora das usinas nucleares de Angra dos Reis.

Segundo os advogados do PT, o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão e Ângelo Ferraro, houve “inércia do Tribunal de Contas da União” na fase de análise, definida 15 de fevereiro. O PT sustenta na ação que a comissão da Câmara verificou irregularidades no trâmite de privatização da Eletrobrás e acusa o TCU de ignorar as preocupações dos parlamentares ao dar continuidade ao processo de venda da empresa. O mandado de segurança apresentado pelos advogados do PT pede, liminarmente, que todos os trâmites de venda da Eletrobrás sejam suspensos até que o próprio TCU analise as queixas elaboradas pela Comissão da Câmara dos Deputados.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN), presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobrás, voltou a denunciar a tentativa do Palácio do Planalto e do Ministério da Economia de entregarem o controle da energia brasileira. “Essa política de Bolsonaro e Guedes têm como prioridade a entrega do patrimônio nacional ao setor privado”, critica. “A privatização da Eletrobrás vai inflacionar a economia do país e excluir a população pobre do acesso à energia elétrica”.

O parlamentar lembra que a Eletrobrás produz hoje grande parte da energia brasileira. “Mantê-la é uma questão de soberania, segurança energética e aproveitamento de nossa competitividade. Hoje a empresa consegue vender energia a R$ 65 o MW/h. Com a privatização, o preço vai subir pra mais de R$ 300 o MW/h”, adverte “E quem vai pagar essa diferença é o consumidor brasileiro. Além do já previsto aumento na conta de energia, vamos ter o aumento do custo da produção industrial e do agronegócio. O resultado vai ser mais inflação e dificuldades para a população”.

A Assembleia Geral Extraordinária da Eletrobrás com seus acionistas decidiu dar sinal verde para os próximos passos da privatização. No encontro, foi aprovada a criação de uma classe especial de ação preferencial (golden share), que será subscrita pela União para sua propriedade exclusiva, e dará o poder de veto nas deliberações sociais que visarem modificar ou remover os dispositivos estatutários a serem criados.

Com a ação especial, a União poderá vedar que qualquer acionista ou grupo de acionistas exerça votos em número superior a 10% da quantidade de ações em que se dividir o capital votante da companhia. A assembleia propôs ainda vedar a celebração de acordo de acionistas para o exercício de direito de voto, exceto para a formação de blocos com número de votos inferior a 10% das ações em que se dividir o capital votante da companhia, com a consequente reforma do estatuto social.

A comissão da Câmara apurou irregularidades no processo de desestatização da Eletrobrás, por meio dos processos de fiscalização e controle de números 55 e 56. A Câmara chegou a encaminhar pedido de apuração ao Tribunal de Contas da União, originando os processos de tomadas de contas TC-044.363/2021-4 e TC-044.362/2021-8.

As denúncias encaminhadas ao TCU, pelo Congresso, são o exercício constitucional da Câmara de fiscalização sobre o procedimento de desestatização da Eletrobrás, sendo dever do TCU apreciar as denúncias antes de qualquer consolidação de venda da estatal.