Estudo do Noppe mostra o descolamento da agenda do presidente com o que pensam segmentos da sociedade que não são petistas e nem anti-petistas. A compaixão e solidariedade das mulheres se choca com o discurso reacionário do presidente

 

 

Dando sequência à análise de resultados do estudo realizado pelo Núcleo de Opinião Pública e Pesquisas Eleitorais (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, é possível refletir porque mulheres e jovens são dois dos principais segmentos da sociedade brasileira em termos de rejeição ao presidente Jair Bolsonaro.

O estudo foi realizado com metodologia qualitativa de entrevistas em profundidade, com 64 no total. Entrevistamos homens e mulheres fora do antipetismo e do petismo nas cinco regiões do Brasil, abordando diversos assuntos referentes à compreensão sobre sociedade, Estado, democracia e política.

Entre as mulheres, detectamos uma tendência de construção de valores em torno dos conceitos de solidariedade, compaixão, amor ao próximo, respeito pelo outro e educação com os demais. Ou seja, um complexo valorativo que compõe uma perspectiva mais coletivista ao olhar para o outro e para a sociedade.  Nada a ver, portanto, com a agenda profundamente machista do presidente da República.

Desta forma, as mulheres enxergam a vulnerabilidade social e a pobreza como grandes problemas do país. E é a desigualdade social o que mais diferencia os brasileiros, dificultando a experiência de viver no país. As mulheres também são mais propensas a aceitar as pautas LGBTQIA+. E quando falamos sobre Estado e políticas públicas, há reivindicação das mulheres acerca de salário, combate à fome, cultura, lazer e meio ambiente.

Entre os jovens, detectamos um maior alinhamento a valores progressistas, no campo dos costumes, e uma compreensão mais profunda sobre as desigualdades de gênero e raça. Nas entrevistas, surgiram associações entre racismo e o passado escravocrata brasileiro, e foi justamente neste segmento que encontramos maior disposição ao diálogo sobre as cotas raciais.

Os mais jovens também criticam a precarização no trabalho — e são mais críticos no tema da divisão sexual do trabalho — tendem a não normalizar o trabalho doméstico como de responsabilidade das mulheres. Foram, aliás, os únicos dispostos a discutir o aborto enquanto tema que diz respeito a autonomia das mulheres sob o próprio corpo, embora de maneira pouco enfática.

O estudo está disponível na página da Fundação Perseu Abramo. 

 

 

Divergentes, pesquisas confirmam Lula

Institutos mostram cenários diferentes. PoderData e MDA dão redução da vantagem do ex-presidente sobre adversário. Mas Ipespe e Quaest confirmam dianteira do candidato do PT

 

As últimas pesquisas divulgadas pelos institutos de pesquisa mostram divergências no cenário eleitoral tendo em vista a campanha presidencial. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue liderando a disputa, com larga vantagem. E o presidente Jair Bolsonaro (PL) busca assegurar a reeleição. Não será uma eleição tranquila. Mas os números são distintos.

O boletim 13 produzido pelo Núcleo de Opinião Pública e Pesquisas Eleitorais (Noppe) traz, de maneira detalhada, o que temos apontado em artigos para a Focus. De acordo com os institutos PoderData e MDA, houve redução da vantagem de Lula para o Bolsonaro — o que afastaria a possibilidade de resolução da eleição logo em primeiro turno.

O Ipespe e a Quaest apontam, por outro lado, para uma estabilidade da distância entre os dois candidatos desde agosto e setembro de 2021. Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT) aparecem com patamares semelhantes, praticamente empatados, considerando todos os levantamentos. João Doria (PSDB) segue com bastante dificuldade, e não passa dos 2% em nenhuma pesquisa. Há, no entanto, algumas divergências importantes entre os levantamentos.

Enquanto Lula tem seu melhor desempenho na base da pirâmide social e na região Nordeste, Bolsonaro tem força entre os homens e os evangélicos. O ex-presidente lidera com folga nos cenários de segundo turno. Somente o PoderData indica tendência de redução da vantagem. Cabe frisar que Lula venceria, com folgas, todos os outros candidatos.

Há vinculação entre a aprovação de Bolsonaro e sua intenção de votos. Não à toa, a pesquisa PoderData, que indica um aumento do patamar de votos no atual presidente, é a única que apresentou aumento da aprovação do presidente. 

As pesquisas convergem em apontar que o Nordeste, os mais pobres, as mulheres e os jovens apresentam grandes barreiras para o avanço de Bolsonaro, no momento, tanto em intenções de voto quanto na avaliação de seu governo. •

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