A Guerra é na Ucrânia. Mas a gasolina fica mais cara aqui
A política de paridade de preço dos combustíveis da Petrobrás vira armadilha. A crise no leste europeu joga o preço do barril de petróleo para mais de US$ 100 e coloca a política econômica suicida de Bolsonaro na berlinda. Enquanto isso, a estatal anuncia lucro recorde e distribuição de R$ 100 bilhões a acionistas
Mal as tropas russas adentraram o território da Ucrânia, na madrugada de quinta-feira, 24, o mundo se surpreendeu com a possibilidade de uma guerra no coração da Europa. O primeiro grande conflito, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Para o brasileiro, o conflito armado pela Rússia em território ucraniano vai ser sentido no bolso.
Nas primeiras horas do pregão de quinta-feira, o barril de petróleo já era vendido a US$ 105. Para o cidadão comum, isso significa gasolina e diesel mais caro. O que representa também nova pressão sobre a inflação, que se mantém elevada, mostrando que a alta da taxa de juros, definida pelo Banco Central em janeiro, de pouco adiantou até agora. A carestia continua alta, apesar das promessas do ministro da Economia, Paulo Guedes.
A alta do petróleo por conta da crise na Ucrânia põe em xeque a política de preços da Petrobrás, uma armadilha montada pelo governo de Michel Temer e aprofundada por Jair Bolsonaro. A estatal se verá obrigada a elevar os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Um erro crasso do governo entreguista comandado pelo líder da extrema-direita.
Especialistas já consideravam temerária, na sexta-feira, 25, que a política de preços atrelada ao mercado internacional e às repercussões da valorização da commodity e, consequentemente dos combustíveis, nas eleições de outubro. Na terça-feira, o barril do petróleo Brent, usado como referência pela Petrobras, avançou 1,52% e fechou em US$ 96,84. Na quinta, chegou a superar a marca de US$ 105.
As justificativas do mercado e a pressão dos entreguistas, que ameaça a soberania, começa pela injustificada manutenção da política de paridade. Segundo a Associação Brasileiros dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem dos valores pela Petrobrás, em comparação com o mercado internacional, está em 13%, no caso da gasolina, e 8%, no do diesel.
A insanidade é ampla e ganha fôlego nas palavras de especialistas. “Vamos ver se o governo, de fato, não vai tentar fazer algum tipo de intervenção para tentar atenuar os aumentos que possam ocorrer”, disse à Agência Estado, Rodrigo Leão, pesquisador do Instituto Estratégico de Petróleo e Gás Natural (Ineep), e especialista em geopolítica do petróleo.
Curioso é que, apesar da crise, a Petrobrás e os acionistas privados vão muito bem. Na quarta-feira, 23, a estatal anunciou um lucro recorde de R$ 106,6 bilhões. O mais surpreendente, contudo, foi a proposta apresentada pela direção da empresa: distribuir, a título de dividendos, 101,4 bilhões aos acionistas. É o maior nível de recursos transferidos para mãos privadas na história da petroleira. Um acinte.
Desde o início do governo Bolsonaro, há três anos, os combustíveis no Brasil subiram cinco vezes mais do que a inflação. A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), criticou a manobra da empresa, que deveria estar atuando em benefício do conjunto da população brasileira, e não dos interesses de acionistas privados.
“A Petrobrás obtém lucro de R$ 106,7 bilhões em 2021, uma alta de 1.400% em um ano”, denunciou. “E o povo só tomando prejuízo com o preço do gás e dos combustíveis. Qual é a lógica Bolsonaro, enriquecer os acionistas? É por isso que não mexe nos preços. É um governo anti-povo”.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também critica a política de dolarização dos combustíveis cometida pelo governo Bolsonaro. “Não existe nenhuma razão técnica ou político-econômica para a Petrobrás tomar a decisão de internacionalizar o preço dos combustíveis, a não ser para atender os interesses dos acionistas, principalmente aqueles que ficam lá em Nova York”, ataca.
Vale lembrar que o conflito entre Ucrânia e Rússia também vai afetar o preço dos fertilizantes, que, por sua vez, vai provocar impacto no preço dos alimentos. O petróleo subiu, a gasolina e o diesel vão subir. O mesmo ocorrerá com outras commodities: açúcar, trigo, algodão, minério, carne, frango… A cesta básica vai ficar ainda mais cara. Mas Bolsonaro e Paulo Guedes parecem não se importar. O lucro da Petrobrás só vai fazer a alegria em Wall Street, o coração financeiro dos EUA.