Como nos melhores filmes de gângster, mafiosos e piratas, a crise que engolfou o governo Bolsonaro já descartou muita gente que estava com o capitão no momento de ascensão. Alguns deixaram o governo magoados — o rábula de Maringá, Sérgio Moro, foi das primeiras vítimas do cavalão —, ou os Weintraub Brothers — Abraham e Arthur —, auto-exilados nos EUA.

Houve aqueles que escorreram para o ralo e voltaram para o seu lugar, como a ‘blogueira’ Sara Winter, que na última semana surgiu nas redes sociais se queixando do abandono do presidente. Ela agora está calma, em casa, com uma tornozeleira, em prisão domiciliar. Outros não tiveram sequer a sorte de integrar o governo e foram largados pela estrada da destruição e morte que o governo conseguiu pavimentar em apenas dois anos e oito meses.

Afinal, onde estão fiéis escudeiros do bolsonarismo, largados à própria sorte pelo presidente e a família no primeiro perrengue institucional? Veja o caso do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB. Aparecia nas redes sociais portando armas de grosso calibre, xingava o ministro Alexandre de Moraes — o “Xandão” —, até ser preso e colocado numa cela em Bangu.

Bob Jeff defendeu o fechamento da Suprema Corte e a adoção de um novo AI-5 pelo presidente. Depois de preso, mudou o tom. Agora, está piando fino, pedindo penico para pelo menos colocar uma tornozeleira e ir para casa no interior do Rio.

Já o ativista Zé Trovão, que se autointitulava líder dos caminhoneiros, debochou dos ministros da Suprema Corte, desafiou o ministro Alexandre de Moraes a prendê-lo no 7 de Setembro, e agora está em algum canto do México, se escondendo da Polícia Federal, que tem ordem para sua prisão. Descobriu-se na última semana que Trovão nem tem carta de habilitação para conduzir caminhões. O Trovão agora fraqueja como um covarde.

Ele aguarda um habeas corpus que teria sido negociado por Michel Temer com o “Xandão”, mas já pediu asilo político ao governo do presidente de esquerda André Manuel Lopez Obrador. Difícil imaginar que venha a ter êxito.

Menos sorte teve o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), preso desde fevereiro por determinação do ministro Alexandre de Moraes. O ex-PM que se vangloriava de que espancaria ministros da Suprema Corte, chamou o ministro Luiz Edson Fachin para sair no tapa, estava com tornozeleira em casa, também em prisão domiciliar, mas voltou para cana dura. Tudo por violar as determinações da Justiça e ignorar que não tem salvo-conduto. Também tem piado mais fino.

Os outros dois personagens largados à própria sorte são o cantor Sérgio Reis e Allan dos Santos. O primeiro prometia levar uma multidão para tirar ministros da Suprema Corte: “Se em 30 dias não tirarem aqueles caras nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra. Pronto. É assim que vai ser”. Diante da reação do STF, piou fininho, posou num leito de hospital — “passando mal” — e pediu à mulher para dizer que está arrependido. Dificilmente vai escapar de uma condenação.

O blogueiro Allan dos Santos, que vive agora nos EUA, de onde imagina que será convidado a voltar para assistir ao fechamento do regime, imaginava que o 7 de Setembro seria a glória, com o presidente decretando Estado de Sítio e ”baixando o pau nos comunistas”. Acordou com a rendição administrada por Michel Temer. Sentindo a derrota, escreveu no twitter: “Game over”. Parece que a ficha para essa turma caiu.