Isolado e perdendo apoios até no empresariado, Bolsonaro redobra as apostas contra o Supremo e faz novas ameaças. Na sexta-feira, disse que as manifestações de Sete de Setembro serão um “ultimato” a “duas pessoas” que atrapalham o governo. Comunidade internacional acompanha a situação brasileira

 

O presidente Jair Bolsonaro faz uma aposta perigosa para o país. Cercado pelas denúncias de corrupção, com popularidade em queda pelo desempenho da economia e as 582 mil mortes de brasileiros pela Covid, ele coloca todas as suas fichas em manifestações anti-democráticas no 7 de Setembro, Dia da Independência.

Ele imagina que vai tirar dos atos contra as instituições democráticas forças para sair das cordas, livrar os filhos das suspeitas de negócios escusos e desvios de recursos — Carlos Bolsonaro teve os sigilos quebrados, Flávio Bolsonaro enfrenta na Justiça acusações de desvio de dinheiro público e, agora, o filho Jair Renan aparece na companhia de um suspeito de esquema de corrupção no Ministério da Saúde. Para piorar, a ex-mulher também é alvo de suspeitas.

O medo da prisão assombra o ex-capitão do Exército. Daí a inusitada bravata de sexta-feira, 3. Ao convocar mais uma vez apoiadores aos atos de 7 de Setembro, Bolsonaro também disse que as manifestações serão um “ultimato” a “duas pessoas” que estariam atrapalhando seu governo, numa referência velada aos ministros Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e Luiz Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral.

Na quarta-feira, o presidente bravateiro já havia elevado o tom das ameaças constantes. “Com flores não se ganha guerra. Se você fala de armamento… Se você quer paz, se prepare para a guerra”, disse o presidente numa cerimônia no Rio de Janeiro.

Na sexta, manteve o tom: “Nós não precisamos sair das quatro linhas da Constituição. Ali, temos tudo o que precisamos. Mas, se alguém quiser jogar fora das quatro linhas, nós mostraremos o que poderemos fazer, também”, ameaçou, durante discurso na cerimônia de assinatura do contrato de concessão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste em Tanhaçu (BA). “Eu duvido que aqueles um ou dois que ousam nos desafiar, desafiar a Constituição, desrespeitar o povo brasileiro, saberá (sic) voltar para o seu lugar. Quem dá esse ultimato não sou eu, é o povo”, disse.

Horas depois, a Polícia Federal prendeu na tarde da mesma sexta-feira o bolsonarista Wellington Macedo, que participava da organização de atos de 7 de setembro em apoio a Bolsonaro. A prisão preventiva foi solicitada pela Procuradoria Geral da República e autorizada por Alexandre de Moraes. Macedo se diz jornalista e estava hospedado em um hotel em Brasília quando foi preso pela PF.

O tensionamento provocado por Bolsonaro despertou temores na comunidade internacional de algum tipo de ruptura institucional. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos anunciou que irá acompanhar as manifestações convocadas por aliados do presidente. O objetivo é avaliar eventuais violações de direitos humanos por parte dos grupos e ataques contra setores que tentem defender a democracia. A comissão não esconde que existe “grande preocupação” com a situação brasileira.

O governo dos EUA emitiu alerta de segurança a seus cidadãos, indicando para riscos associados às manifestações da terça-feira. No site da embaixada, o alerta foi colocado, instruindo os americanos a não se aproximarem de locais de manifestações.